terça-feira, outubro 18, 2011

Responsabilidade Social

Pergunte ao sindicato



Greve de professores da rede pública. Paralisações. Em Belo Horizonte, o ano letivo de 2011 só vai terminar em 2012. O fluxo regular se normalizará apenas em 2013, segundo informações das autoridades responsáveis pela Educação, no estado.

Situações como essa se repetem, com freqüência, nas mais diversas cidades do país. São ações dos sindicatos profissionais para a melhoria salarial dos professores. É a luta pela manutenção dos chamados “direitos adquiridos”. Benesses outrora conseguidas.

Quem embarca no argumento dos sindicatos dos profissionais da educação, de que os tais movimentos paralisantes acontecem por serem fruto da luta pela melhoria da educação no país, engana-se redondamente. Conversa fiada. Todo sindicato existe para defender os interesses dos seus associados. Caso contrário, sua existência não se justifica, na sua essência. Não é diferente com os professores. O seu sindicato está ali para defender e preservar os seus próprios interesses. E é legítimo que assim seja, afinal, a classe se une para pleitear melhor remuneração pelos serviços prestados.

Tudo isso seria bastante pertinente, acredito, se estivéssemos diante de uma educação de qualidade, fruto da competência do sistema e dos seus profissionais. Entretanto, esse não é o caso. Encontramo-nos frente a um dos piores sistemas educacionais do planeta. Estamos falando da péssima qualidade das nossas escolas.

Acontece, porém, que o propósito de um sindicato é defender os interesses da maioria dos seus associados. O que também é legítimo. Daí surge então, o problema. Como empunhar a flâmula da meritocracia, se na categoria impera a baixa formação, o atraso e o nivelamento da maioria se dá num nível tão rasteiro? Não é preciso ser muito esperto para sabe que, ao fazer isso, o sindicato estaria dando um tiro no próprio pé, posto que grande parte dos seus associados teria rebaixada remuneração ou ficaria à margem do mercado de trabalho. Por isso justifica-se a bandeira do valor-hora igual para todos.

Ao fazer isso, entretanto, o sindicato atira no outro pé. Os melhores profissionais, ou aqueles potencialmente bons, afastam-se da carreira docente. A atratividade da carreira cai. Se a categoria não permite remunerar melhor os melhores, por que razão um profissional acima da média deveria lecionar? Isso é deixado para aqueles que não vislumbram perspectiva em outras atividades e, lecionando, pelo menos têm um piso onde se escorar. Evidente, nesses exemplos, que não podemos generalizar... Toda a regra tem exceções.

O fato é que, em decorrência de “bandeiras” como essa milhares de crianças se vêm lesadas no seu direito ao aprendizado. O verdadeiro interesse de centenas de jovens em ter uma educação de qualidade é colocado de lado em troca da manutenção de benefícios que privilegiam e perpetuam uma educação de péssima qualidade, como a nossa. E ainda existe quem caia na fajuta desculpa de que o salário dos professores é baixo, por isso o nível de educação é das piores. Mas, o que esses profissionais têm dado à sociedade, em troca de melhor remuneração? Que nível de serviços têm prestado aos educandos? E se o salário é baixo, por que não foram buscar outra atividade? É preciso avaliar essas questões com relatividade e objetividade.

Apenas a título de exemplo, enquanto em países como a Finlândia um professor para ser aceito numa escola de educação básica precisa passar por um rigoroso exame de seleção e carregar no currículo o título de “mestre”, como pré-requisito, no Brasil isso não é exigido e apenas 2% dos docentes nesse nível possuem mestrado. Não basta, portanto, ter boa vontade e um ideal. É preciso ter competência, acima de tudo.

Nesse contexto, a posição dos sindicatos é confortável. Transferem responsabilidades e se colocam numa posição de salvadores da pátria. Seria muito bom, então, se todos os cidadãos que, de uma forma ou de outra, sofrem as conseqüências de uma formação de tão baixo nível, questionassem essas entidades que se dizem preocupadas com a educação no país sobre questões como essas:

• O que têm feito para melhorar a qualidade dos profissionais que representam?

• Quantos cursos, escolas e universidades já abriram ou com os quais já estabeleceram algum tipo de parceria para formar professores de qualidade?

• Em que ações de capacitação e pesquisa têm se envolvido na busca da melhoria das nossas escolas?

• Quais ferramentas de estímulo à meritocracia dos seus afiliados têm avaliado e colocado como pauta nos seus acordos coletivos?

• Onde estão os incentivos àqueles que realmente fazem a diferença?

• O que têm feito para tornar a categoria atraente para profissionais em nível de excelência?

• Por que não instituem a certificação profissional como forma de melhorar a qualidade dos docentes em formação e daqueles que já estão no mercado de trabalho?

• Por que não estimulam nos seus acordos coletivos a obrigatoriedade de avaliações de desempenho formais nas escolas, principalmente as da rede pública?

• E finalmente, por que cargas d’água não defendem processos seletivos rigorosos para o ingresso na rede pública, com testes periódicos de avaliação de competência?

A resposta a essas perguntas me parece óbvia. Não agem assim para não jogarem contra a categoria, cujos interesses defendem. Seria incoerente se assim não fosse. Entretanto, o mundo se integra cada vez mais e seria oportuno darem uma olhada além do próprio umbigo. Entender que essa integração está proporcionando aos estudantes outras opções de aprendizagem, que fogem ao território defendido pelos sindicatos.

Nossos professores, seus afiliados, não competem mais por empregos apenas entre si. Eles entraram numa competição global. Docentes daqui ganharam adversários de peso. Profissionais de países onde a educação é realmente boa. E eles estão a um click de distância. Ou, quando nada, esses profissionais vão se deparar com níveis de exigência cada vez maiores, trazidos por grupos educacionais estrangeiros, que encontraram no Brasil um vasto território educacional, ainda em busca de qualidade. São padrões de excelência diante dos quais nossos profissionais ficam a comer poeira.

Então, caro leitor, caro profissional de educação, se você quer mesmo uma educação de qualidade, comece por pressionar e exigir melhorias no padrão de qualidade do sistema e dos seus agentes. Comece a questionar seus representantes, meu caro docente, sobre quais as estratégias de melhoria da SUA qualificação estão direcionando a atuação da entidade que dirigem e pautando suas ações. Em suma... Pergunte ao sindicato!