quinta-feira, novembro 28, 2013

Escola Estúdio

Escola Estúdio: Uma experiência no Reino Unido

Por Marcelo Freitas



Em todo o mundo, há um consenso crescente de que os nossos sistemas de educação estão quebrados. Não são poucos os educadores que nos oferecem lições de como podemos re-imaginar a escola. Essas ideias e experiências, entretanto, ainda que apresentem resultados positivos, não têm sido capazes de convencer os conservadores do “cuspe e giz” nem quebrar os paradigmas retrógrados, sempre reforçados pelo corporativismo vigente. Mas contra fatos não há argumentos. Vejamos.

Temos hoje dois grandes problemas centrais em se tratando de escolas. De um lado, estudantes entediados com o modelo educacional que não os desafia nem os convence a ter gosto em ir para a escola. Do outro, somos brindados com um contingente elevado de jovens despreparados para a vida e o mercado de trabalho, como resultado do processo educacional proporcionado por essas escolas.

Então temos de nos perguntar: Que escola é essa em que os jovens lutam para entrar mas não estão lutando para permanecer? Que escola é essa que anda em descompasso com o mundo? Alguma coisa está errada, certamente. Então pergunto eu: e por que não mudamos?

Essas perguntas ecoam mundo afora e foram objeto de um projeto educacional no Reino Unido, alavancado pela “Young Foundation[1], uma organização que se propõe apresentar um instrumental na condução pensamento, ação e mudança na inovação social no Reino Unido e no exterior, inclusive em áreas como a educação. O projeto denomina-se Escola Estúdio. Ele parte de constatações concretas que, assim como lá, também são verdades em terras tupiniquins.

Através de pesquisas, os educadores locais constataram que um grande número de jovens:

  • Aprende melhor fazendo;
  • Aprende ainda mais, fazendo coisas “de verdade”;
  • E apresentam melhor rendimento quando trabalhando em grupo.

Ou seja, exatamente de maneira oposta ao que as nossas escolas, de modo geral, têm como premissas nos seus modelos de ensino-aprendizagem, assim como nas suas ações pedagógicas. Conteúdos desconectados da realidade prática e conceitos meramente teóricos são a base dos nossos sistemas de ensino atuais.

Daí que esse grupo de pesquisadores e educadores resolveu virar a educação pelo avesso. Partiram para a execução do projeto, construindo um protótipo. Ao colocarem em prática o modelo, identificaram o que deu errado e aprimoraram o sistema, tornando-o mais eficiente. Ainda assim, com o projeto ainda em fase de adaptações, perceberam que os jovens o amaram.

A percepção dos alunos que passaram pela experiência é de que, dessa maneira, o processo de aprendizagem é mais motivador e mais estimulante. A escola passou a ser um lugar de desafios e conquistas. Um lugar mais atraente e muito mais prazeroso, portanto.

O resultado é que, dois anos depois de implantado o projeto, os alunos que estavam nos grupos de pior performance saltaram para o topo da lista e engordaram o quartil mais alto.

Mais interessante ainda é que este projeto aconteceu sem o apoio da mídia e sem grande apoio financeiro, também. Espalhou-se pelo boca-a-boca, de forma viral, por professores, pais e pessoas envolvidas com a educação. Ganhou adeptos, em suma, pelo poder da ideia de virar a educação pelo avesso e pela força de vontade de pessoas que se empenharam em “fazer acontecer”.

A principal mudança no paradigma foi pegar coisas que eram superficiais no modelo atual, como trabalho em equipe e projetos práticos e colocá-los no núcleo da aprendizagem, ao invés de nas margens.

O que essa experiência nos mostra, portanto, é que precisamos, em alguns casos, apenas de um pouco de boa vontade para abrir mão de processos que já exauriram. É preciso, antes de tudo, reconhecer que no mundo de hoje não há mais lugar para um modelo educacional do século XIX.


[1] www.youngfoundation.org