sábado, dezembro 23, 2017

Professores empreendedores

A Educação precisa de “professores caras de pau”



Quem não tem um amigo cara de pau, que atire a primeira pedra. E quem disser que não tem, não sabe o que está perdendo. É bem provável que na sua adolescência, você já tenha passado por aquela situação de estar numa balada e, de repente, cruzar o olhar com aquela pessoa que faz disparar os batimentos cardíacos. Acontece que você não a conhece e, portanto, não sabe bem como abordá-la.
Mas eis que surge aquele seu amigo mais desinibido, que a turma chama de “cara de pau”. Embora ele também não a conheça, sem a menor cerimônia, vai lá, se apresenta pra ela e, do nada, faz a ponte entre você e a pessoa. Ele não tem receio de arriscar. Nem pensa que pode ser ridicularizado. Ele se apresenta, coloca a situação e, com isso, ganha a oportunidade de conquistar a simpatia da pessoa.

O que tem isso a ver com a Educação e os professores? Eu explico.

Na sala de aula muitas vezes temos uma situação um pouco semelhante. Mudar as práticas tradicionais de ensino continua a ser o principal desafio dos líderes de tecnologia educacional, mas a implementação de novas práticas digitais e o uso da tecnologia na sala de aula não é possível sem o apoio dos professores. Portanto, motivar os professores a mudar suas práticas tradicionais de ensino é, hoje, uma prioridade.

Uma experiência levada a termo pela antropóloga Lauren Herckis, na Carnegie Mellon University, uma instituição americana líder na pesquisa educacional, buscou identificar por que os professores relutavam em abandonar seus métodos tradicionais para adotar novas práticas apoiadas pela tecnologia. Durante mais de um ano, a Dra. Herckis observou os professores da Carnegie Mellon, numa maratona que incluiu assistir a todas as reuniões acadêmicas e ler e-mails institucionais dos professores, de modo que pudesse, a partir daí, descobrir por que eles não estavam mudando seus estilos de ensino.


Depois desse exaustivo trabalho, a antropóloga descobriu, em primeiro lugar, que muitos professores e acadêmicos se agarram à sua própria ideia do que seja uma "boa educação", ou um “bom método de ensino”. A partir daí, sua conclusão foi surpreendente: os professores têm uma enorme necessidade de se apegar e manter os seus próprios métodos porque têm muito medo de parecerem ridículos, na frente de seus alunos. Esse temor de serem ridicularizados faz com que não tentem algo novo.

Na verdade, é como se lhes faltasse aquela característica do amigo cara de pau, que não se preocupa em demonstrar suas dificuldades, para, a partir delas, construir uma ponte com seus alunos. Talvez essa postura tenha sido fruto de décadas a fio, onde o professor foi visto como um ser humano que tudo sabia e que, em hipótese alguma, poderia ter suas habilidades confrontadas. Ou não deveria mostrar suas vulnerabilidades.

Acontece que o mundo mudou e não houve muito tempo para que esses professores, oriundos de uma geração analógica, se adaptassem e atingissem a mesma destreza para lidar com toda essa tecnologia que seus alunos, das novas gerações. Esses já nasceram digitando e brincando em telas sensíveis ao toque. Aprenderam muitas coisas pelas mais diversas mídias, antes mesmo de colocarem os pezinhos na escola. E quando essas duas realidades foram então colocadas frente a frente, estabeleceu-se um choque entre culturas.

Um Relatório intitulado “Tendências na Aprendizagem Digital: Construindo capacidade e competência dos professores para criar novas experiências de aprendizagem para os alunos”, publicado pela Blackboard  e Project Tomorrow , se concentrou em avaliar a disposição dos professores para utilizar ferramentas digitais para transformar a aprendizagem. O relatório envolveu um universo de 38.000 professores, 29.000 pais e 4.500 administradores de escolas de ensino fundamental nos Estados Unidos, e apresentou opiniões sobre questões ligadas a aprendizagem digital, como parte do projeto de pesquisa Speak Up 2016 .

A partir dele, ficou patente aos líderes educacionais que o sucesso de qualquer iniciativa digital nas escolas depende da liderança do professor na sala de aula. Este relatório mostrou que as ferramentas, conteúdos e recursos digitais podem ajudar a elevar as competências dos professores. Também forneceu evidência do valor que a tecnologia pode trazer para as experiências de aprendizagem dos alunos.


É evidente que suas conclusões devem ser avaliadas com cautela, uma vez que se trata de um ambiente diferente do que temos no Brasil. Entretanto, em um mundo globalizado, é importante conhecer algumas das suas constatações, posto que poderão, em determinado momento, se repetirem por aqui.

Eis então as três principais conclusões desse relatório sobre tendências digitais de aprendizagem:

Os pais acreditam que o uso eficaz da tecnologia na sala de aula ajuda as crianças a desenvolver as habilidades necessárias para a vida adulta.
Hoje, o grande desafio, é motivar os professores para que alterem suas práticas tradicionais de ensino, e passem a usar a tecnologia na sala de aula.
Os professores que praticam a aprendizagem híbrida estão elevando os padrões de aprendizagem e estabelecendo novos processos que atendem às necessidades de todos os alunos.

Ao que parece, essas conclusões poderiam, muito bem, se aplicar à nossa realidade. E pelos seus resultados tudo indica que, em nome da melhoria da Educação, poderíamos ser todos nós, educadores, um pouquinho mais caras de pau, afinal, somos humanos e a educação se faz, principalmente, pela capacidade de nos colocarmos na posição de eternos aprendizes.

Fonte: Observatório de Innovación Educativa

Este artigo foi publicado pela Revista Linha Direta / 2017

quinta-feira, novembro 23, 2017

Tecnologia e Educação

Tecnologia compete ou completa ?
Marcelo Freitas


Numa das minhas oficinas para estudantes do Ensino Médio, um aluno, sentado na última carteira da sala de aula, chama minha atenção para tecer um comentário. Na verdade, para contar um fato curioso.

Como um dos melhores alunos de disciplinas como história, geografia e sociologia, conta ele, sempre é procurado por colegas que querem saber o segredo das boas notas nas avaliações. Geralmente, Rafa indica aos colegas alguns canais de vídeo, no Youtube, ou documentários e filmes, de canais a cabo, como History ou NatGeo. Eles funcionam como um complemento ao que é dado na escola, além de ser uma boa fonte de estudos a partir do entretenimento. Videoaulas também são uma opção, porém, diz ele, às vezes um pouco mais enfadonhas.

Mas, segundo o Rafa, o grande pulo do gato está nos games de estratégia que joga. São jogos temáticos, que exigem o exercício de competências, como visão integrada do ambiente; diplomacia e capacidade de articular diversos fatores socioeconômicos para ganhar mercados, territórios ou mesmo, guerras. Jogados geralmente em rede, esses games se desenrolam sobre o cenário de um mapa mundi, tendo fatos e personagens históricos a apoiar o seu roteiro.

Tudo isso faz com que o Rafa tenha, na ponta da língua, a localização e as principais cidades de todos os países ali presentes. Faz também com que tome contato com dados e marcos históricos, governantes e sistemas de governo diversos, e elementos da economia desses países. Uma avalanche de informações que seria difícil memorizar, se o caminho fosse um livro didático tradicional.
Ao contrário, como elemento de entretenimento, essas informações são apresentadas nos jogos de forma totalmente contextualizada e lúdica. Além disso, a partir dos movimentos feitos pelo jogador, em suas tomadas de decisão, os games permitem que as relações de causa e efeito sejam imediatamente sentidas. Ou seja, são simulações da vida real em tempo real, situação inimaginável a partir das páginas de páginas impressas.

 Em outra intervenção, Júlia comenta que estuda, geralmente, a partir de aulas disponíveis no Youtube, ou em sites de educação. Ela também assiste canais da Tv a cabo que apresentam reportagens e programas temáticos. Quando criança, relata que assistia canais de entretenimento educativo, como Discovery Kids e Disney. Naquela época, segundo ela, transitava pela rede social infantil Club Penguin, onde aprendeu noções de cidadania, negócios e boas maneiras.

Relatos como esses são muito comuns em um ambiente povoado de jovens. O que inclui a escola, evidentemente. Mas por que ela, muitas vezes, despreza essas informações ou reluta em usar tudo isso a seu favor?

A explosão da tecnologia promoveu, e o vem fazendo em escala crescente, uma verdadeira desordem no sistema de educação tradicional. O acesso à informação se tornou instantâneo e a forma de fazê-lo se apresenta das mais diversas maneiras, quebrando a estrutura secular da sala de aula.
A grande questão que se coloca é: como a escola vai lidar com isso?

Ela pode continuar ignorando esse movimento e, com isso, dando espaço para que outros segmentos da economia avancem sobre o seu mercado. Ou pode fazer o sentido inverso, transformando esses agentes em importantes parceiros do seu negócio. Nesse caso, prefiro pensar nas redes de educação como protagonistas, buscando estabelecer relações estratégicas com estúdios de animação ou produtores de games, incrementando e atualizando assim o seu arsenal didático e substituindo o convencional por algo novo e muito, muito mais atraente. Algo que os jovens fiquem contando os minutos para usar, pois será prazeroso e, ao mesmo tempo, instrutivo.

Para que esse movimento realmente aconteça, o segmento educacional precisa, mais que nunca, mirar o cliente, não o produto, como vem acontecendo há décadas. A exemplo da escola, o desempenho das organizações focadas no produto piorou, porque o mundo em que operam mudou além da sua capacidade de adaptação ou evolução. Os princípios pelos quais organizam seus processos se tornaram ultrapassados. E a tecnologia, e sua expansão, é uma realidade irreversível, que precisa ser considerada e integrada ao negócio.

Essa tecnologia potencializou outras formas de aprender e levou para fora da escola as possibilidades de aquisição de conhecimento. A era do tamanho único, do perfil padrão, do modelo genérico e dos processos rígidos em que se baseou a escola do século passado não encontra mais espaço. Ela, a exemplo de outros segmentos, está sendo impactada por algo novo, que o avanço da tecnologia tornou possível, chamada “personalização”. E nesse aspecto, indústrias como a do entretenimento seguem em passos mais acelerados que a Educação.

Elas rapidamente entenderam e estão dando respostas aos anseios dos clientes, que esperam por produtos configurados para as suas necessidades, cronogramas de entrega ajustados às suas agendas e formas de pagamentos que lhes sejam convenientes. É por essas e outras que uma aproximação com essas empresas poderá encurtar caminhos e rejuvenescer a Educação, de maneira mais rápida e eficaz.

As boas práticas de gestão e mercado, assim como os recursos tecnológicos, podem oferecer às escolas, e empresas do segmento educacional, um trampolim para uma nova era.

Nessa perspectiva, a aprendizagem de conceitos e o desenvolvimento de competências são tarefas que podem ser impulsionados por recursos tecnológicos como games, plataformas adaptativas, canais de vídeo, ambientes virtuais Maker e redes sociais fechadas, que se traduzem em ferramentas mais apropriadas aos novos tempos. É desse modo que a tecnologia complementa a Educação e fortalece a escola. Caso esse caminho não seja seguido, entretanto, poderão, aí sim, competir com ela.

sexta-feira, outubro 20, 2017

Inovar: Questão de sobrevivência

Veja só o que rolou no Congresso Rio de Educação. A matéria é da jornalista responsável pela cobertura do evento.


 
Por Nathalia Curvelo

A grande diferença do passado para o presente é a variedade de opções. Gerações passadas eram limitadas pelo mundo físico. Hoje a tecnologia leva ao infinito. Como isso impacta o ensino e de que forma as escolas podem se preparar para esse novo paradigma foram questões abordadas pelo empresário Marcelo Freitas na palestra “Escolas inovadoras: transformando crise em oportunidade”, no 11º Congresso Rio de Educação.

Freitas afirmou que, no futuro, é possível que a escola tenha como concorrente  não aquelas outras que estão em seu bairro, ou mesmo a de outros países (que começaram a se tornar competidoras com cursos gratuitos online), mas as empresas de tecnologia e de entretenimento. Como exemplo, ele citou o Youtube, canal por meio do qual as pessoas podem assistir aulas gratuitas e com conteúdo conduzido por professores altamente qualificados.

“Antes, a escola era o único, ou pelo menos um dos únicos lugares onde se adquiria conhecimento. Hoje não mais. As pessoas têm uma gama enorme de opções para aprender. Enquanto isso a escola continuou reproduzindo muito daquilo que estava no passado, trabalhando dentro da ideia de padrões”, alertou.

O empresário destacou algumas dicas para ajudar as escolas a fazer a transição para as novas demandas dos clientes, e transformar o que pode ser uma crise em oportunidade:

1ª – ENTENDA o que de fato está mudando no ambiente externo, mesmo nas escolas mais tradicionais. Os modelos de negócio são outros. Os millennials estão no comando, assumindo postos e têm valores distintos dos convencionais.

2ª – ENGAJE todos os colaboradores no processo.

3ª – REPENSE o modelo de negócios.  É uma questão-chave. Escolas podem oferecer outros tipos de serviços, formas de pagamento, logística de entrega, etc.

4ª – REVEJA sua estrutura organizacional e pense em Unidades de Negócios, como laboratórios e áreas esportivas. Cada uma delas pode gerar receita por si só. Podem ser feitas parcerias, abrir esses espaços para comunidade nos finais de semana. Há muitas formas de gerar rentabilidade.

5ª – AGREGUE. Aumente sua oferta de valor com a formação de parcerias. Não é necessário que a escola domine uma determinada tecnologia, mas ela pode trabalhar em conjunto com quem a domine.

Confira meus comentários durante o Congresso:


terça-feira, agosto 01, 2017

Posse de bola não é gol.

Como as escolas podem melhorar a gestão de seus processos escolhendo os indicadores adequados.


No inverno de 2014, o Brasil era tomado por uma bolha de euforia. Em meio às crises políticas e um noticiário econômico nada animador, o circo do futebol fazia unir ideologias antagônicas em torno da seleção brasileira de futebol. A Copa do Mundo era a cortina de fumaça que trazia a alegria de volta ao cenário tupiniquim. Era a pátria de chuteiras em campo.

Se não encantava pela magia da seleção de Telê Santana, o “selecionado canarinho” avançava no torneio e chegava às semifinais contra a simpática, e politicamente correta, seleção da Alemanha. O palco não poderia ser mais acolhedor. Mineirão lotado, hino nacional cantado à capela e um belo horizonte como moldura. Mas...

Se hoje um extraterrestre fizesse um “pitstop” no Brasil e pegasse um dos jornais da época, lá encontraria os principais números do jogo:
  • ·        Posse de bola: Brasil, 52%. Alemanha, 48%.
  • ·        Chutes a gol: Brasil, 18 . Alemanha, 14 .
  • ·        Faltas cometidas: Brasil, 11. Alemanha, 14.
  • ·        Impedimentos: Brasil, 3. Alemanha, 0.
  • ·        Minutos com a bola: Brasil, 32. Alemanha, 30.

O ET não teria dúvidas em adivinhar a sequência. Enfim, Brasil na final. Mas todos sabemos, amargamente, não foi bem isso o que aconteceu. Alemanha 7, Brasil 1.

Esse episódio nos leva a pensar em uma situação muito comum no mundo corporativo, e a escola não está fora dele. A eleição de indicadores de performance para auxiliar a gestão da  organização na tomada de decisões. É a partir do seu monitoramento, que muitas delas traçam planos estratégicos, conferem o andar dos processos, definem as prioridades e estabelecem objetivos e metas.

Acontece porém que, em muitos casos, esses indicadores com o tempo se afastam dos reais fatores de sucesso de uma organização. Isso faz com que as lideranças passem a buscar a melhoria do desempenho em processos que já não são mais relevantes para o resultado, em virtude de mudanças no ambiente, seja ele interno ou externo.

O exemplo da nossa seleção fala bem de perto nesse caso, e serve para mostrar esse desvio. O objetivo do jogo de futebol é fazer gol, e tentar não levar. Mas muitos técnicos se prendem a estatísticas como essa para justificar o injustificável. Aproveitando a contundência do placar naquela fatídica partida, é importante ressaltar algumas lições importantes que podemos levar para a escola:

Posse de bola não é gol. Qual seleção foi mais eficiente: o Brasil, que se manteve o maior tempo com a bola nos pés, mas não foi capaz de converter isso em gols, ou a Alemanha, que mesmo não tendo superioridade na posse da bola, foi objetiva em transformar as oportunidades que teve em vantagem no placar? Isso se chama foco no resultado!

Chute a gol não conta ponto. Tentar, apenas, não adianta. É preciso eficiência nos processos para gerar resultados. Treinar a equipe, tendo como base o objetivo final, é fundamental. Agregar valor é uma missão de todos no time, cada um na sua esfera de competência. E nesse ponto é preciso que haja eficiência e produtividade.

Impedimento é retrabalho. Quando um jogador é pilhado em impedimento, todo o trabalho de construção da equipe é jogado por terra. A falha de posicionamento de apenas um atleta representa o mesmo que a existência de um elo fraco no processo. Daí a necessidade de ter todas as atividades alinhadas com a proposta de valor da organização, neste caso particular, os processos que realmente são necessários à eficiência da escola.

Em todas essas questões, um bom planejamento, e um olhar crítico sobre a necessidade de cada processo existente, são fundamentais. Nesse aspecto, é importante que haja desprendimento dos gestores para abandonar práticas obsoletas quando se constata que o ambiente mudou. Em muitos casos, é preciso promover a disrupção, abandonar definitivamente processos e modelos que tornaram aquela escola um expoente durante muitos anos, mas que já não conseguem mais responder à proposta de valor da escola junto aos seus clientes.

Para tornar mais ágil e eficiente essa análise, o auxílio de recursos tecnológicos, hoje disponíveis em abundância, tornam o trabalho mais assertivo, reduzindo o risco implícito nas decisões. Alguns deles, como o Panorama Escola, uma plataforma que agrega recursos de pesquisa e dashboard de gerenciamento de indicadores, podem encurtar a distância entre a obsolescência e a efetividade. Essa plataforma, criada pela Corporate*[1], utiliza conceitos de business intelligence, permitindo ao gestor cruzar dados internos e externos para avaliar possíveis desalinhamentos e mudanças de rumo do mercado.

Assim como um técnico de futebol, os gestores educacionais devem ter em mente o foco principal e os objetivos a serem alcançados. Pesquisar, analisar e acompanhar os processos-chave por meio de indicadores eficientes, faz com que suas decisões não se baseiem em uma cortina de fumaça.
Ao contrário, trabalhar com afinco para tornar melhores velhos processos que foram sucesso no passado, mas não agregam valor à demanda atual da escola, significa investir nos “impedimentos” e nas “bolas chutadas para fora”. E a escola não pode ser eficiente em tomar de 7 a 1, não é mesmo?

 (Artigo publicado pela Revista Linha Direta, ed. 231/ junho 2017)




[1] Saiba mais em www.corporateconsultoria.com

segunda-feira, junho 26, 2017

Escolas incubadoras: ajudando ideias a dar frutos

Por Marcelo Freitas


Empreendedores de todas as idades sempre estão ligados em oportunidades para criar algo novo. Ideias não faltam, porém, o que nem sempre está disponível são os recursos e um ambiente propício para que elas floresçam. Esse ambiente envolve alguns requisitos como um bom networking, canais para se chegar ao mercado e mentorias adequadas.

Por isso mesmo, para aqueles que buscam transformar ideias em negócios, as universidades se constituem em verdadeiros paraísos. A questão é que nem todas perceberam o enorme potencial de disrupção que isso representa, e continuam estáticas. A boa notícia é que, em meio ao conjunto, algumas instituições perceberam a oportunidade e começam a repensar o seu modelo de negócios e sua estrutura. Algumas até já se propõem adotar modelos de gestão derivados de startups. Outras, por sua vez, organizam centros de empreendedorismo para funcionarem como incubadoras de projetos, oriundos de trabalhos dos alunos.

Sob esse viés, esses espaços potencializam a capacidade de formar equipes e desenvolver negócios, pois constroem redes que possibilitam, inclusive, levantar investimentos suficientes para avançar com os projetos e protótipos. Além disso, contam com suporte de professores e técnicos altamente qualificados, que ajudam a modelar os processos.

Embora iniciativas empreendedoras não dependam da universidade para florescer, este espaço de aprendizagem pode oferecer uma perna forte para sustentar a caminhada. E isso é bom para os dois lados, pois, do ponto de vista das instituições educacionais, surge a oportunidade de ocupar um espaço até então desprezado: o das incubadoras de negócios.

Daí que não será surpresa se mais e mais universidades em todo o país começarem a formar suas próprias incubadoras de empresas - criadouros para startups inovadoras - com espaço de escritório, mentores, financiamento e a oportunidade de contar com a diversidade de agentes envolvidos, sejam professores ou estudantes de diferentes disciplinas.

Embora as instituições de ensino superior sejam o ambiente mais propício a essa transformação, nas escolas de educação básica o modelo também pode ser uma ótima oportunidade de diferenciação. Novas estruturas, novos arranjos no modelo de negócios e uma visão moderna de gestão são os ingredientes necessários. Oficinas, capacitações, ferramentas tecnológicas e adoção de conceitos robustos são o caminho para fazer acontecer.

É com base nesse viés disruptivo e inovador que a Corporate , empresa sediada em Belo Horizonte, vem desenhando projetos de reestruturação para escolas e mantenedoras que busquem a sintonia com os novos tempos. Nesses programas a ênfase é trocar o “por quê?” pelo “Por que não?”.
Já pensou nisso? Por que não?

terça-feira, março 14, 2017

Movimento maker

Deixa que eu faço

por Marcelo Freitas


Nos anos 1960 o homem exibia todo o seu domínio tecnológico transmitindo, ao vivo, o primeiro pouso tripulado na lua. Lembro-me de ver o astronauta fincar a bandeira americana em solo lunar, em meio a uma imagem em preto e branco, salpicada de chuviscos.

Nesse mesmo período, passávamos horas entretidos na frente de um televisor à válvula, assistindo os seriados produzidos pelas grandes empresas cinematográficas de Hollywood, como Perdidos no Espaço e Terra de Gigantes. Naquela época, todas as famílias com melhor poder aquisitivo tinham uma máquina fotográfica, um toca discos e, para os mais abastados, uma filmadora super-8.

Nos anos de 1980, outro avanço colocava nas casas os videocassetes, e com eles a possibilidade de gravar programas diretamente da TV. Ainda dependíamos das produtoras e seus programas feitos para as multidões. Outro avanço veio com as filmadoras em VHS, o que já nos permitia fazer pequenas filmagens domésticas e gravar em vídeo eventos de família, substituindo as máquinas super-8.

Bastaram então duas ou três décadas mais para que a revolução tecnológica proporcionasse uma reviravolta global. O mundo experimentou um processo de mudança acelerada jamais visto. As produções, em formato digital, passaram a ser viáveis a qualquer pessoa e sua difusão tornou-se algo corriqueiro. Estávamos na era do consumo em massa dos conteúdos personalizados.

Esse ambiente revolucionário abriu espaço para que setores como o de Entretenimento e de Tecnologia se expandissem para mercados ainda pouco explorados, ou de lenta reação à inovação. Um deles, o educacional.

Quando se deu conta do tamanho da mudança, a escola tratou de se movimentar, esboçando uma reação a partir da introdução, nas salas de aula, de equipamentos eletrônicos como computadores, tablets e lousas eletrônicas. A grande questão passou a ser a falta de metodologias criativas e inovadoras capazes de aproveitar tudo o que o ambiente tecnológico permitiu disponibilizar.

Acontece, porém, que o mundo ainda continua em marcha acelerada, e isso também impacta nos hábitos e possibilidades aos quais as pessoas estão expostas. Entre essas pessoas, os alunos, jovens que em sua grande maioria nasceram, ou estão diretamente conectados, ao mundo virtual e tudo o que ele pode proporcionar. E isso impacta a escola frontalmente.

Uma das fortes tendências já detectadas, por exemplo, é a mudança no perfil do jovem, que passa de consumidor a produtor de conteúdos. Isso mesmo. Daí o título deste artigo.

O relatório da pesquisa Horizon Report: 2016 K-12 Edition, realizada pelo New Media Consortium (NMC) em parceria com o Consortium for School Networking (CoSN), traz previsões relativas à inserção das tecnologias emergentes no ensino fundamental e médio pelos próximos cinco anos. Uma das principais tendências sinalizadas para o curto prazo, refere-se justamente ao protagonismo do aluno na produção de conteúdo (“Students as Creators”). Isso quer dizer que os alunos deverão deixar de consumir os “enlatados e pasteurizados” materiais utilizados pelas escolas e redes de educação para assumirem a criação de seus próprios conteúdos, em escala cada vez maior. E como a escola está se preparando para isso? Como as metodologias podem aproveitar esse movimento criativo?
Nessa perspectiva, as expectativas quanto ao propósito da educação, e da escola, mudam muito, inclusive para alunos pequenos. Eles não querem ir para a escola para escutar os professores falando de coisas que eles podem acessar pela internet, ou mesmo pelos programas de TV a cabo. O que esperam é compreender como podem utilizar tudo aquilo que estão aprendendo. Ou documentar e compartilhar suas próprias experiências a respeito do tema em estudo.

Como consequência, surge outra tendência de longo prazo, sinalizada também pelo citado relatório, que é o redesenho da sala de aula, tanto para abrigar as novas tecnologias e metodologias de aprendizagem, quanto para aumentar o sentimento de pertença, por parte dos alunos.

Todas essas inovações sinalizam para a necessidade de aumentar a integração da escola com os outros aspectos da vida dos estudantes. Essa evolução da integração escolar revela-se fundamental para manter o interesse deles pelo aprendizado, que já não segue na mesma trilha conservadora da maioria das escolas, e tende a se distanciar dela cada vez mais.

Para lidar então, com esse viés de criar conteúdos e resolver problemas reais, tendo a tecnologia como ferramenta para acessar qualquer tipo de conhecimento necessário, é natural que o processo de aprendizagem colaborativa ganhe ainda mais força. Essa prática, além de engajar os alunos, também beneficia os educadores na promoção das atividades em grupo, desenvolvendo-se, e aumentando, suas capacidades interdisciplinares.

Importante, portanto, avaliar com critério e profundidade todas essas tendências, pois elas sinalizam a necessidade de incremento de inovações no segmento educacional, uma vez que apresentam novos desafios a superar. Alguns deles, como reduzir as defasagens e as disparidades socioeconômicas, faz reforçar a necessidade de promover uma educação individualizada. Nesse aspecto, os avanços da tecnologia proporcionam ferramentas eficazes, como é o caso das plataformas adaptativas. Elas têm se mostrado grandes aliadas, pois permitem a educadores entender as diferentes performances de alunos e escalar estratégias que podem ajudar a reduzir os problemas.

Finalmente, há de se estimular a busca por inovações visando gerar mudanças reais na educação, particularmente no desenvolvimento de pedagogias progressivas e estratégias de aprendizagem; na organização do trabalho de professores e sua relação profissional diante da escola e das famílias; na organização e na forma de entregar conteúdo e, mais que isso, de desenvolver competências. O desafio está colocado!

Hora portanto, de semear criatividade para, em breve, colher inovações.

(Artigo publicado pela revista Linha Direta/edição 227 - fev/2017)

segunda-feira, janeiro 09, 2017

Humanware


Humanware: O lado mais complexo da inovação 


Temos à nossa volta um ambiente de mudanças em alta velocidade, com inovações tecnológicas cada vez mais presentes na vida do cidadão comum e jovens ávidos por novidades. A união entre a internet, os dispositivos móveis e as mídias interativas trouxe uma enorme complexidade para a cena educacional, pois tornou obsoletas antigas ferramentas de ensino, descartou práticas pedagógicas emboloradas e fez ligação direta entre o conteúdo e o usuário.

Nesse cenário, elementos intermediários entre o hardware e o software, precisam realmente agregar valor para manter a audiência, pois a concorrência com os inúmeros formatos de conteúdo que o aluno tem a disposição permite escolhas até então inimagináveis. E isso só tende a aumentar.

Um desses elementos intermediários é o que podemos chamar de “humanware”. Não há como se falar em melhorias, inovações ou novas metodologias de ensino-aprendizagem se não houver profissionais preparados para colocar todo esse aparato em prática, para fazer acontecer.

 E se atualmente a situação já é difícil em face da diversidade de oferta de novos recursos tecnológicos, imagine então como será o ambiente mais à frente, com o ritmo frenético em que a inovação acontece!

É exatamente essa perspectiva de futuro que precisa ser explorada quando pensamos em preparar as novas gerações de professores. Driblar a obsolescência das metodologias e do instrumental tecnológico é apenas um dos desafios a ser ultrapassado nessa tarefa. Já não basta ao futuro professor estar familiarizado com a tecnologia atual e o domínio dos aparelhos que a embalam. Ou incorporar a utilização da lousa eletrônica e dar lugar a um novo formato de sala de aula. A questão quando se fala em capacitação e formação de futuros professores é mais ampla e envolve a construção, ou desenvolvimento, das competências de que necessitarão quando embarcarem, pra valer, em uma sala de aula completamente fora dos padrões atuais.

Familiarizá-los a lidar com os gadgets é importante, porém, não menos importante é desenvolver as habilidades que eles precisam para ajudar seus alunos a prosperar a partir desses dispositivos. No final das contas, os aparelhos sempre se tornarão obsoletos rapidamente.

Diante dessa realidade, torna-se fundamental aos futuros docentes o domínio de habilidades que os permitam adaptarem-se rapidamente aos ambientes em constante mudança. Vejamos algumas dessas habilidades que qualquer futuro professor vai precisar, considerando esse novo ambiente educacional.

A primeira delas é exatamente a adaptabilidade. A capacidade de se tornar um camaleão. Todos nós sabemos que os dispositivos baseados em tecnologia mudam da noite para o dia. Identificar como as inovações podem ser integradas em uma classe de 25-30 alunos é verdadeiramente uma habilidade a ser desenvolvida. Avaliar o seu potencial, promovendo a aprendizagem e, ao mesmo tempo, reconhecer as suas armadilhas, é fundamental. O ensino com a utilização da tecnologia é uma curva de aprendizagem constante e isso requer uma adaptação permanente às novidades.

Outra habilidade importante é “sujar as mãos”, colocar a “mão na massa”, aventurar. Olhar, ouvir e estar dentro do processo envolve correr certos riscos. Para isso, estar preparado para aplicar algumas técnicas básicas de resolução de problemas para quando as coisas não caminharem bem é uma habilidade essencial num ambiente cercado de tecnologia. "No fear" (sem medo) deve ser o mantra de professores que abraçam as novidades e novas engenhocas eletrônicas.

E isso nos traz outra habilidade importante: Entender como as coisas funcionam. Cabos, conexões e protocolos fazem parte do ambiente tecnológico! Mas como conversam entre si? De fato, a interface dos dispositivos muda quase tão rápidamente como fralda de criança. Os professores do futuro terão de estar familiarizados com terminologias básicas do mundo tecnológico. Entretanto, será ainda mais importante que compreendam a relação tênue de como as coisas se conectam e, quando não o fazem, onde encontrar soluções. O recado é: Acompanhe as inovações. Seja “compatível” com o ambiente.

Outro fator importante é como lidar com as mídias sociais. Os futuros docentes precisam dominar as estratégias de comunicação para combater pragas terríveis como o cyberbullying ou as questões éticas no espaço virtual. A escola é um ambiente rico para o desenvolvimento da cidadania digital e é importante que o professor esteja preparado para lidar com o equilíbrio entre o virtual e o presencial.

E, nesse aspecto, as estratégias de comunicação são elos importantes desta relação.
Nessa perspectiva, caberá aos futuros professores, em escala crescente, a missão de preparar seus alunos para o exercício da cidadania envolvendo as consequências do uso de tecnologia em espaços como o das redes sociais, assim como orientá-los bem sobre as melhores práticas para se proteger online. Ensinar os alunos a serem bons cidadãos digitais requer currículos, práticas e políticas que promovam a utilização segura e responsável da Internet e da tecnologia. Os alunos, por sua vez, precisam ser orientados sobre o alto impacto da sua pegada digital, e como ela pode afetar suas perspectivas futuras de educação e emprego. Isso exigirá docentes com habilidades específicas de relacionamento.

Como se vê, os desafios trazidos pela inovação não são poucos. Entretanto, se realmente queremos fazer uma educação de qualidade, é urgente repensar o desenvolvimento desse importante elo do ambiente tecnológico: o humanware.  É notório o descompasso entre a formação atual e os espaços de aprendizagem que se desenham. O perfil da função mudou e não é mais cabível apostar em práticas tradicionais de desenvolvimento docente. As novas demandas exigem novas competências e é a partir delas que todo o processo de formação deve ser desenhado. Hora de olhar para a frente!