Projetos e games na pauta
Marcelo Freitas

Imagine uma faculdade sem aulas, nem provas e na qual é
possível se formar no tempo que os estudantes quiserem ou conseguirem? Ela
existe nos Estados Unidos e atende pelo nome de College for America[1].
Para se formar nessa escola, uma instituição fundada em
outubro de 2013 e ligada à Universidade do Sul de Nova Hampshire, os alunos
precisam realizar projetos que comprovem que eles desenvolveram um conjunto de
competências exigidas pelo programa. E isso ocorre somente através de interação
on-line.
O projeto foi desenvolvido a partir do laboratório de
inovação, criado pela universidade, para atender as pessoas que já estão no
mercado de trabalho, mas sentem necessidade de melhorar sua formação para
conquistar melhores oportunidades, uma realidade também muito comum no Brasil,
onde apenas 12% dos que têm 25 anos ou mais têm curso superior completo. Daí a
flexibilidade.
Preocupada com o futuro da educação superior nos Estados
Unidos, cujo modelo atual enfrenta dificuldades de financiamento (o volume de
empréstimos estudantis supera o de créditos disponíveis) o projeto foi
desenvolvido para ter o preço, como grande diferencial. A anuidade custa US$
2.500, o que representa pelo menos a metade do que é cobrado por cursos
semelhantes em instituições voltadas a alunos de menor renda, os chamados community colleges. Para alcançar esse
patamar, o projeto recebeu apoio e financiamento da Fundação Bill & Melinda
Gates, o que permitiu fundar a nova
faculdade.
Este é outro bom exemplo para os nossos gestores
educacionais. Ele demonstra a necessidade de abertura e envolvimento da escola
com outros agentes da sociedade, no sentido de financiar as suas operações,
reduzindo-se a dependência das mensalidades.
Como os alunos não têm obrigação de assistir a aulas,
algumas pessoas que participaram da fase piloto, que começou em janeiro de
2013, já foram diplomados. Outras, com menos disponibilidade ou mais
dificuldades, poderão demorar mais do que tempo considerado usual. O referido
diploma, ao qual os alunos têm acesso na College for America, é um “Associate Degree”, uma formação sem
equivalência no ensino superior brasileiro, que compreende um curso de formação
de tecnólogos (também correspondente aos dois primeiros anos de um bacharelado
nos EUA).
A participação da College
for America ainda é insignificante no contexto das mais de 1.000 community colleges, que atendem 13
milhões[2] de
alunos nos EUA, mas seu ritmo de crescimento é acelerado. Em junho de 2012,
quando o laboratório que inventou o modelo foi criado, quatro pessoas
trabalhavam nele. Hoje, com cerca de 50 funcionários, atende 500 alunos, número
que cresce todos os meses. Por enquanto, só é possível participar do programa
quem for indicado por uma empresa ou associação comunitária, que normalmente
também fornece um auxílio para se pagar pelo curso. Mas a ambição dos criadores
é transformá-lo num modelo que possa ser replicado e diversifique o ensino
superior nos EUA.
A ideia, e a operação, são interessantes. Os estudantes da College for America têm acesso a um
sistema on-line onde encontram instruções, recursos, fontes e indicações de
onde devem pesquisar o que não sabem ainda para realizar os projetos, assim como
as competências que precisam cumprir e os critérios pelos quais serão
avaliados. Cada um deles também conversa desde o início com um tutor, que o ajuda
a definir e planejar os projetos a serem feitos, tira dúvidas e tenta antecipar
dificuldades que podem surgir.
Para receber o diploma, é preciso realizar de 20 a 55
projetos, dependendo da complexidade de cada uma dessas atividades. Alguns são
menores, como escrever uma redação, e outros maiores, como uma tarefa de
história da arte em que os alunos devem criar uma exposição virtual de um museu
e ensinar como observar os trabalhos artísticos, como se fossem um guia. Ao
todo, os estudantes devem comprovar 120 competências em áreas como comunicação,
pensamento crítico e negócios.
Uma vez concluídos, os projetos são submetidos a uma
comissão que os analisa a partir de rubricas em até 48 horas. Isso significa
que os avaliadores observam uma série de critérios que, por sua vez,
correspondem às competências exigidas. Se os alunos atingem o esperado, seguem
em frente. Se não, recebem um relatório com comentários sobre cada critério.
Esse modelo de avaliação, totalmente focado em projetos,
deixa bem claro para os alunos o que é exigido deles e o que eles devem
cumprir.
O conceito de aprendizagem por projetos não é novo.
Entretanto, nem sempre é bem utilizado e avaliado. Um projeto desenvolvido para
o curso “Fundamentos de Estratégia para Gestores Empreendedores”[3], tem
inovado nesse sentido. Nele os participantes trabalham conceitos de estratégia
empreendedora utilizando um simulador, no formato de game. Assim, ao mesmo
tempo em que aprendem os conceitos, os participantes os colocam em prática e
verificam quais foram os resultados produzidos por suas estratégias, a partir
de indicadores e metas contidos no game e definidos pelos participantes.
Cursos como este e ideias como a da College of America são uma boa maneira de educadores e gestores
educacionais explorarem novos modelos e usos de projetos e metodologias, que
podem mudar o rumo dos processos de ensino e aprendizagem.
Artigo publicado pela Revista Linha Direta
[3]
Curso oferecido na modalidade “in company” pelo
Movimento Escola Responsável. Obtenha maiores detalhes através do email contato@escolaresponsavel.com .