terça-feira, dezembro 26, 2023

Mercado de trabalho

Os jovens e o Mercado de Trabalho

 

Marcelo Freitas

Entrar no mercado de trabalho é, cada dia mais, um desafio. Seja porque a exigência de qualificação é alta, seja porque o tempo de experiência em alguns setores é fator decisivo. Entretanto, quando se pede experiência a um jovem de 19 anos, aí a coisa se torna mesmo muito complicada.



Entretanto, o avanço da tecnologia abriu portas para que jovens, ainda longe da maioridade, tenham oportunidades semelhantes aos profissionais mais experientes. Às vezes, até mais. As empresas, em geral, demandam cada vez mais da tecnologia e o crescimento exponencial das startups, fomentam um apetite cada vez mais voraz pelos adolescentes da geração digital.

O trabalho híbrido e o mercado digital, impulsionam a demanda de emprego para esses jovens e, em alguns casos, essa demanda chega a ser maior que a oferta. Deparamo-nos com uma avalanche de jovens inundando os escritórios (ou “garagens”) das empresas digitais. É uma tribo formada por adolescentes talentosos, aficionados por computador desde que nasceram, e, na maior parte das vezes, autodidatas. Até porque, na faixa etária em que se encontram, não seria mesmo possível contar com um curso superior. Aprendem tudo, online.

Normalmente ingressam nas empresas de tecnologia para atuar como criadores de sites, produtores de conteúdo, administradores de rede ou para dar suporte e treinamento aos usuários. Possuem seus próprios blogs e canais nas redes sociais. Nesse sentido, superam profissionais de idade mais avançada, por criarem uma identidade maior com o cliente e apresentarem respostas mais rápidas às demandas do mercado.

Uma parte desse contingente, que ingressa agora na chamada população economicamente ativa, já nasceu durante o boom da internet, tendo também acesso à educação de qualidade, incluindo os cursos de inglês e intercâmbios no exterior. Pelo simples prazer de lidar com os bits e bytes, tornaram-se autodidatas e hoje estão transformando o que era lazer em trabalho.

O advento dos cursos livres na internet trouxe competitividade a essa geração, preenchendo lacunas que as escolas de educação regular ainda não conseguem atender. Dessa maneira, é através da WEB que esses jovens se mantêm atualizados, acessando portais; sites dos fabricantes de equipamentos e softwares ou conversando com os amigos, em comunidades virtuais.

No segmento digital, o que conta ponto é a flexibilidade, o interesse no aprendizado contínuo, o conhecimento técnico dos programas e a aplicação prática da tecnologia. Por melhor se enquadrarem dentro desse perfil, inclusive com melhor trânsito dentro de estruturas informais, o jovem é o personagem mais procurado.

Essa perspectiva de trabalho precoce coloca as instituições educacionais tradicionais diante de uma situação ainda mais complexa: não somente desenvolver habilidades e competências para que esses jovens enfrentem o mercado de trabalho como, em algumas situações, disputar com esse mesmo mercado a atenção desse jovem. É preciso, portanto, arrojo e ousadia.


segunda-feira, dezembro 18, 2023

Educação Corporativa

 

Empresa, escola e vice-versa 

Marcelo Freitas

Toda organização é um ser vivo e como tal cultiva o seu instinto de sobrevivência. A exemplo do que acontece no segmento educacional, do outro lado dos mercados, uma onda é cada vez mais forte: a das empresas que perceberam, através de sua visão de negócios, que o seu grande diferencial nesse novo milênio estará na capacidade de gerir o conhecimento e inovar.

 


Temos aí uma situação bastante interessante. Enquanto as escolas caminham para se tornar organizações mais profissionais as empresas de outros segmentos caminham no sentido de se transformar em gestoras de conhecimento.

A cada dia proliferam as chamadas Universidades Corporativas, cujo principal objetivo é formar os quadros de colaboradores das empresas, transformando a informação bruta em conhecimento aplicável, a principal matéria-prima dos seus negócios. Essa iniciativa revela que as escolas tradicionais não estão conseguindo formar pessoas capazes de ocupar posições nos postos de trabalho, deixando uma lacuna entre a geração, a transmissão e a aplicação do conhecimento. Trata-se, portanto, de falta de foco das instituições educacionais em relação às demandas do mercado de trabalho.

Nessa nova situação, cada vez mais os papéis se misturam. Executivos seniores passam a ocupar o papel dos educadores. Este movimento, aliás, já vem sendo feito há muito tempo, pois o perfil de liderança exigido pelo mercado está cada dia mais colado à ideia do treinador, do educador, do formador de pessoas. Um mestre.

Mas o que, de fato, esse cenário parece querer mostrar? Podemos tirar algumas conclusões úteis.

  • A preparação do indivíduo para a vida e o mercado de trabalho, aponta, cada vez mais, na direção de habilidades e competências. A velha fórmula conteudista, portanto, está em cheque. Nesse quesito, as empresas têm muito mais a oferecer.
  • O que difere as pessoas neste milênio não é mais a informação, mas o conhecimento. Em outras palavras, a competência para transformar uma enorme gama de informações em algo útil e aplicável e a habilidade em colocar isso em prática. Saber o que fazer com a informação é o grande diferencial. Outro ponto para as empresas, que disseminam o conhecimento e sua aplicabilidade de maneira objetiva e prática, ao contrário das escolas, onde muitas vezes o aluno tem dificuldade em entender onde determinado conceito se aplica na vida cotidiana.
  • Posturas éticas, responsabilidade social e a preocupação com o meio ambiente formam um passaporte para o mercado de trabalho e para a vida no planeta. Empresas geralmente têm adotado políticas a esse respeito e tornam-se excelentes fontes de conhecimento aplicado.

Tudo isso demonstra, afinal, que as escolas, assim como as empresas, têm muito a aprender e, principalmente, podem e devem trabalhar de mãos dadas. Existe uma grande complementaridade nas suas atividades, podendo a escola extrair lições importantes sobre organização e produtividade, ao mesmo tempo em que as empresas podem usufruir da capacidade das escolas em transformar informações em conhecimento. Por que não?

 

quarta-feira, dezembro 06, 2023

RH: Cargos e Funções

 

Das descrições de cargo às equipes multidisciplinares

 

Marcelo Freitas

 

Descrições de cargo são instrumentos de recursos humanos usados para definir e delimitar as tarefas de determinada função, dentro das organizações. Elas também servem como base para outros subsistemas como recrutamento, seleção e treinamento, uma vez que dão contornos ao perfil desejado para o ocupante daquele cargo.



As descrições convencionais, por sua vez, caminham cada dia mais rumo à extinção, principalmente com a adoção das estruturas flexíveis e da filosofia de polivalência exigida dos profissionais pelas empresas. Tais exigências são fruto de mudanças no macro ambiente e na necessidade das organizações tornarem-se mais ágeis, mais enxutas e mais eficientes nas suas operações.

Modernas estruturas de administração apontam para modelos que privilegiam os grupos de trabalho multifuncionais, os círculos de qualidade, as forças-tarefa, os teamworks ou seja qual for o nome que se queira dar. A grande virtude de um trabalho baseado nesse tipo de organização é a sinergia dos talentos e da capacidade de alcance de resultados.

Nas instituições educacionais, por exemplo, isso não é diferente. Embora a maioria delas ainda adote estruturas rígidas e com pouca flexibilidade, podemos ver alguns lampejos de evolução. Isso acontece a partir do momento em que começam a buscar profissionais com perfis mais “elásticos”, em especial nos serviços técnicos de suporte, como supervisor escolar, coordenadores, orientadores e psicólogos. Na área administrativa, assistentes com conhecimentos nas áreas contábil, financeira, atendimento e secretaria vão adquirindo funções mais amplas o que permite flutuar pela estrutura.

Essa mudança de enfoque tem forçado as escolas, e empresas, a abandonarem a opção por perfis de cargo muito especialistas e caminharem em direção à funções mais generalistas, em todos os pontos da estrutura e não somente nos postos de liderança e gestão.

Por sua vez, não basta alargar a abrangência dos cargos e agrupá-los em times multidisciplinares. Uma equipe de alto rendimento, pronta para decidir e tomar atitudes proativas, deve contar com as ferramentas necessárias para isso. A principal delas, a informação. Outras, como autonomia, treinamento e autoridade sobre os processos que gerencia fazem parte do pacote. Todas essas características, assim, devem estar ancoradas em descrições flexíveis e mais amplas, que contemplem a dinâmica da mobilidade interna, a absorção de novas competências e o empoderamento.

Parafraseando Vicente Falconi, e adaptando suas recomendações ao ambiente escolar do nosso exemplo, essa mentalidade de gestão, devem proporcionar à escola oferecer serviços que atendem à seguinte premissa:

“Fornecer um produto ou serviço de qualidade que atenda perfeitamente, de forma confiável, acessível, segura e no tempo certo, às necessidades do aluno. Em outros termos, pode-se dizer:

- projeto perfeito

- sem defeitos

- baixo custo

- com segurança para o aluno e entrega no prazo certo, no local certo e na quantidade certa.”