segunda-feira, março 28, 2011

Oceano azul

Onde está o oceano azul?

Artigo publicado pela revista Gestão Educacional (2010)

Quem lida com gestão já deve ter ouvido o termo Oceano Azul. Ele foi cunhado por dois professores de estratégia empresarial do INSEAD, W. Chan Kim e Renée Mauborgne, para designar mercados ainda inexplorados, com grande potencial de crescimento.

Segundo eles, a maioria das empresas navega por oceanos vermelhos, aqueles onde a concorrência é extremamente acirrada e cujos mercados apresentam um potencial decrescente de lucros. Uma das suas características é que os movimentos estratégicos miram os adversários, ao invés de buscar a chamada “inovação de valor”.

O descobrimento de um oceano azul, fruto de saltos de valor, muda de tal maneira a realidade da organização que torna a concorrência, irrelevante.

Nesse sentido, um rápido olhar na direção do segmento educacional faz tingir de escarlate todo o horizonte. A quase totalidade delas compete entre si, mirando seus oponentes e, com isso, direcionam o foco da disputa para melhorias incrementais e pequenas vantagens competitivas, mantendo-se, entretanto, longe da inovação de valor.

Recentemente, conduzindo um processo de planejamento estratégico para uma grande rede de educação, sugeri que algumas das reuniões individuais com pais de alunos fossem feitas a distância, utilizando os recursos tecnológicos disponíveis na internet. Um passo simples, mas que poderia significar uma considerável economia de tempo para o cliente. Embora não seja, nem de longe, uma ação inovadora, essa atitude poderia criar valor para o cliente. Mas não foi essa a visão dos gestores... Uma fila de barreiras foi levantada para que tal medida não fosse adiante. Até o uso judicial que tal situação poderia gerar foi ventilado. O acontecido pode dar ao leitor uma pequena mostra do quanto é hermético o ambiente da gestão escolar.

O pensamento rumo aos oceanos azuis na educação é possível, entretanto. Mas ele requer, antes de tudo, algumas mudanças na atitude dos gestores e educadores. Também exige desprendimento e visão além das fronteiras do mercado atual. Nesse caso a utilização da Matriz eliminar-reduzir-elevar-criar, pode ajudar bastante.

Trata-se de avaliar o produto listando suas características para, depois, refletir sobre elas à luz do valor que cada uma agrega ao produto. Uma vez avaliadas, as características são, então, classificadas de acordo com cada um dos itens que dão nome à matriz. Não é um trabalho tão simples como parece, pois, como foi dito, implica um olhar isento e de fora para dentro.

Esse olhar, ainda que à revelia dos gestores, é bom frisar, começa a ganhar força fora da comunidade acadêmica, o que demonstra um incipiente despertar dos clientes. O questionamento de algumas práticas e características educacionais vem ganhando espaço. A título de exemplo, listei algumas dessas questões:

- Se a educação proporcionada pelas escolas brasileiras é, de fato, tão boa quanto dizem os educadores nativos, por que o Brasil permanece nos últimos lugares nos rankings internacionais?

- Se eu posso fazer uma transferência bancária de milhares de reais pelo telefone ou internet, por que cargas d’água não posso ter um histórico escolar ou outro documento liberado pela secretaria, online?

- Se o volume de “conhecimentos” transferido pelos professores é tão amplo e importante, por que não consigo arrumar um bom emprego com essa bagagem?

- Sendo um centro de conhecimento, aliás, não era de se esperar que as instituições educacionais fossem as campeãs de inovação e registros de patentes?

- Em termos de serviços agregados e relacionamento com o cliente, no geral, quem ficaria melhor classificado, um hotel ou a escola do seu filho?

Por aí dá para sentir o quanto as escolas ainda precisam despertar para a busca de mares nunca dantes navegados. Os oceanos azuis existem e estão ávidos por serem desbravados. Precisamos é de mais ousadia e de visionários que possam descobrir novos caminhos para a educação, como fizeram Colombo e Cabral em relação ao Novo Mundo.

Gestores icem suas velas!

Bibliografia
A Estratégia do Oceano Azul: como criar novos mercados e tornar a concorrência irrelevante - Kim, W. Chan; I. Mauborgne, Renée – Rio de Janeiro - Elsevier, 2005 – 23ª reimpressão

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