O fim do diploma?
Por
Marcelo Freitas
Muitos trabalhos futuros não exigirão
um diploma de bacharelado.
Qual o impacto disso para o ensino
superior?
O mundo do trabalho, a exemplo do que acontece em
todas as dimensões da vida, está em rápido processo de mudança. As profissões,
como as conhecemos, estão passando por um amplo processo de metamorfose.
Algumas delas, inclusive, estão morrendo, outras em processo terminal. Enquanto
isso, vão surgindo novas especialidades, fazendo desabrochar profissões até
então inexistentes.
Nessa perspectiva, em vários segmentos, indivíduos
estão sendo chamados a contribuir com suas competências para lidar com novas
situações e responder a novos problemas. Em algumas dessas atividades, o
diploma de ensino superior já não é mais uma necessidade, cedendo espaço para
as certificações. Em decorrência, as faculdades precisam fazer mais para
garantir que suas ofertas sejam solicitadas, tanto por estudantes, como por
empregadores.
O título na primeira página da seção de negócios no
“Boston Globe” de 9 de novembro de 2015, estampou: "O Estado enfrenta
falta de mão de obra, o sistema de ensino para o emprego está caindo." Se
em 2015 já era uma realidade, o que dizer dos dias atuais?
Imagine você: Como poderia haver uma escassez de mão
de obra em Boston, uma área metropolitana conhecida por sua concentração de
faculdades e universidades com uma forte tradição de fornecer uma força de
trabalho treinada para as indústrias da região?
Estamos falando de uma área que abrigava, em 2009[1], mais de 80 faculdades
privadas e universidades, que empregavam 68.600 pessoas e que atraiam mais de
360.000 estudantes de todo o mundo.
A resposta pode ser encontrada em um estudo mais
recente, lançado pela Northeastern
University. Segundo o documento, a maioria das ofertas de emprego na cidade
de Massachusetts, prevista para os próximos sete anos, não exigirá um diploma
de faculdade. E mais: o sistema de educação no estado não conseguirá treinar pessoas
suficientes para preencher as vagas de emprego esperadas.
Massachusetts não é a única em suas necessidades de
força de trabalho qualificada. Essa é também uma realidade que começa a fazer
parte do nosso horizonte, aqui no Brasil. A globalização impacta os diversos
segmentos de maneira planetária, o que leva a um alinhamento das tendências, em
qualquer ponto do planeta.
A grande questão é que está cada vez mais difícil
para as faculdades acompanhar a demanda por uma força de trabalho qualificada,
o que tem levado muitas empresas a criarem suas universidades corporativas ou
qualificarem seus empregados em cursos específicos, ofertados por instituições
certificadoras. Essa é uma característica de determinados setores e certas
áreas-chave. Nelas o treinamento, e o desenvolvimento de habilidades, são muito
específicos, e muitas vezes não exigem, propriamente, um diploma de bacharelado.
Esse quadro, portanto, deixa claro: há uma mensagem
significativa sendo entregue aqui. Tudo indica haver uma desconexão entre o
ensino superior e a indústria, ou mercado de trabalho, quando se trata de
identificar rapidamente as necessidades da economia e, a partir daí, determinar
a melhor maneira de educar e formar um contingente de pessoas qualificadas. O
desajuste entre a oferta e a demanda dos profissionais evoluiu nas últimas
décadas, e isso pode levar à suspeita de que o ensino superior talvez não
esteja "recebendo a mensagem".
O fato é que há uma lição de casa a ser feita por
cada uma de nossas instituições educacionais, esteja ela em que nível for. É
preciso reconhecer a responsabilidade do sistema educacional nesse contexto, pois
não se trata somente de educar os alunos, mas também de oferecer-lhes as
habilidades que proporcionam flexibilidade em sua carreira. Nem todos os
estudantes vão procurar, ou exigir, um diploma de nível superior para ter
sucesso. Alguns podem querer certificações e licenças além do crédito acadêmico,
ou em vez de um diploma.
É importante para as escolas, portanto, ampliar o
horizonte e expandir a oferta de alternativas educacionais de qualidade, sendo flexíveis,
mas ao mesmo tempo pragmáticas, na definição da missão de educar para o futuro.
Nessa perspectiva, é preciso interagir mais com o ecossistema político, econômico
e empresarial, conversando regularmente com economistas, governos e gestores indústrias
para analisar o futuro. E então, vamos bater um papo?