Já ouviu falar em teacherpreneur?
Por Marcelo Freitas
Novos tempos trazem novas perspectivas. A avalanche
tecnológica dos últimos anos trouxe para dentro das salas de aula recursos de
aprendizagem nunca antes imaginados. Também proporcionou uma verdadeira revolução
nos conceitos de ensino e aprendizagem que, nesse momento, passam por
questionamentos os mais diversos.
Todo esse ambiente de mudanças, muitas delas radicais, fez e
continua fazendo aflorar ameaças e oportunidades para empreendedores de
diversos matizes. Empresas de tecnologia buscaram profissionais de educação no
mercado para lançar linhas de produtos. Executivos dos mais diversos segmentos
foram seduzidos por grupos educacionais para compor seus quadros e
profissionalizar a gestão das escolas. Consultorias as mais diversas perceberam
a demanda e criaram departamentos de “Educação”, com serviços especializados,
destinados ao setor. Até mesmo as empresas de entretenimento viram no segmento
educacional um mercado em ascensão e altamente demandante de inovações e, por
conseguinte, trataram de desenhar produtos e serviços que possam atendê-lo. Em
suma, o mercado fervilhou e vem abrindo possibilidades para todo lado.
Um dos atores mais importantes desse ambiente e talvez o
mais beneficiado deles no exercício da sua atividade, o professor, parece ter
percebido uma oportunidade de ir além, ampliando seu raio de atuação. Acuado
pelo acesso fácil à informação e pela intimidade das novas gerações em lidar
com as tecnologias que a ela dão acesso, muitos dos nossos docentes sentiram
que era hora de reagir. Aquele velho quadro negro e as fórmulas para utilizá-lo
já não fazem mais efeito diante de uma plateia completamente plugada e provida
de uma capacidade interativa sem igual.
Assim sendo, começam a transformar a ameaça em oportunidade.
E, ao fazerem do limão uma limonada, estão surfando nessa onda. Isso mesmo: Educadores
antenados, proativos e empreendedores vislumbraram um nicho espetacular e já
estão ganhando dinheiro nele.
É o seguinte: Todo bom professor está habituado à rotina de elaborar
seus planos de aula, e certamente deve fazê-lo da melhor forma possível.
Entretanto, após ministrar a sua aula, o que é feito desse material? O mesmo
acontece com projetos destinados a determinados temas, desenvolvidos para
explorar lacunas do currículo. Certamente seriam de grande valia para outras escolas
ou colegas docentes. O acesso a esse material permitiria economias de tempo e
permitiriam a (re)utilização de conteúdos e materiais já produzidos...
Foi com base nessa demanda reprimida que um novo mercado
começou a surgir, ligando diretamente professor a professor. Nesse ambiente,
cada profissional pode criar sua própria loja, disponibilizando suas produções
para serem utilizadas por outros profissionais. Embora existam espaços virtuais
como a Kan Academy, esse novo formato permite que os próprios professores comercializem
sua produção, auferindo uma receita adicional pelo seu trabalho, antes apenas
utilizado por ele próprio. Não é à toa que já estão sendo chamados de
“teacherpreneurs”, ou uma espécie de “professores empreendedores”, numa
tradução livre.
Essas lojas virtuais permitem o acesso a abordagens
inovadoras e transversais, como a proposta por uma professora de arte inglesa,
que desenvolveu um rico plano de aula a partir da seguinte pergunta que
formulou aos seus alunos:
“Que tipo de músicas
você acha que Iago, o vilão de William Shakespeare "Otelo", iria
ouvir se ele tivesse um iPhone?”
Ela conta que, ao se deparar com um desses sites onde os
educadores podem comprar e vender seus planos de aula, ela se sentiu atraída em
saber se esse material chamaria a atenção de outros professores. O que ela
percebeu foi que não só existia muito interesse, como também eles estavam de
fato dispostos a pagar por esse tipo de ajuda. Daí que resolveu investir em sua
loja virtual. Avaliou os programas e, com um pouco de faro, desenvolveu planos
de aula inovadores, que permitem aos professores melhorar suas aulas. Ela conta
já ter produzido conteúdos que geraram vendas de mais de US $ 100.000. O que
era uma obrigação, ou um hobby, se transformou em um rentável negócio.
O grande apelo deste tipo de oferta é que muitos professores
consideram que nesse ambiente, eles podem encontrar ideias de professores mais
experientes que enfrentam os mesmos desafios em sala de aula que eles. Numa
altura em que muitos políticos, executivos de tecnologia e filantropos estão
empurrando novas ferramentas digitais para o ensino, muitos professores também
estão buscando técnicas que outros professores aperfeiçoaram ao longo dos anos
em suas salas de aula, e que se mostraram práticas de sucesso.
Situações como essa estão fazendo crescer a audiência
registrada nesse tipo de site e transformando esse perfil de empreendimento em
uma espécie de Ectasy para os professores. Começa a surgir, então, a figura do
professor-empresário. Para eles, a construção de um negócio bem sucedido também
pode implicar inúmeras ramificações, como blogs com conteúdos pagos, e canais
no YouTube, onde o autor pode ensinar como se usa o material.
Na verdade, olhando com cuidado, pode-se dizer que há um
monte de criatividade e inovação no ar, refletindo a convergência de uma série
de tendências em educação e tecnologia. E nessa onda de oportunidades, o
professor ganha de todos os lados, seja com os recursos disponibilizados pelas
escolas, seja com material desenvolvido pelas redes de ensino ou simplesmente,
pela perspectiva de se tornar um educador empreendedor. Mãos à obra!