quinta-feira, julho 18, 2013

Papo de Congresso

Especial













Ensino escolar e novas mídias ainda não estão conectados 

Pauta sobre utilizar as tecnologias em favor do processo de aprendizagem foi abordada pelo o especialista em Gestão Educacional Marcelo Freitas, em conferência desta quinta-feira à tarde no 12º Congresso do Ensino Privado Gaúcho
As novas mídias ensinam formas totalmente diferentes de se comunicar e relacionar todos os dias às pessoas. Crianças e adolescentes, em especial, nasceram familiarizados com estes recursos, mas as escolas e os educadores ainda estão nos primórdios de como utilizá-los em favor do processo de ensino e aprendizagem. O especialista em gestão educacional Marcelo Freitas falou acerca deste desafio ao público do 12º Congresso do Ensino Privado Gaúcho, promovido pelo SINEPE/RS. A programação da tarde desta quinta-feira (18) iniciou com conferência sobre "As mídias na arquitetura das aprendizagens".

"O que estamos chamando de novas mídias são as TIC`s (Tecnologias da Informação e Comunicação) e, apesar de toda a disseminação desses meios, eles ainda são pouco compreendidos no universo escolar", avalia Freitas. De acordo com ele, as crianças de hoje encontram na escola um ambiente arcaico, passivo, construído sobre os paradigmas dos séculos XVIII e XIX. "E eles precisam ser totalmente quebrados! Há necessidade de uma grande ruptura, de recriar muitas coisas, e não apenas readaptar", salientou.  

NÃO BASTA INTRODUZIR TABLETS OU LOUSAS DIGITAIS
O mundo de agora funciona de outra maneira. As crianças e jovens, desde a fase mais tenra da idade, aprendem de forma interativa, com ou sem a presença dos adultos, pais ou professores. Freitas explicou que as mídias são apenas aquilo que o próprio nome diz: os meios. "Acontece que as TIC`s trazem consigo outra lógica e é exatamente isso o que causa o conflito. Não basta introduzir tablets, lousas digitais e ambientes tridimensionais, se continuamos colocando nossos alunos sentados em fila na sala de aula e aplicando o mesmo conteúdo de maneira homogênea para todos eles". 

Cada um exige um tipo de lidar com a aprendizagem que é diferente do outro. Em sua visão, a reinvenção dos processos de ensino-aprendizagem, deve ser apoiada no uso das novas tecnologias, mas, principalmente, na quebra dos paradigmas. "Por isso, precisa haver uma revisão total dos processos, desde os parâmetros técnicos até às avaliações. "Não insistir em reforçar as fraquezas do aluno, melhor é concentrar esforços no que ele pode se sobressair". Completou refletindo que os professores não têm o papel de formar, isto é, colocar em formas, mas sim de desenvolver. 

EVENTO
O Congresso do Ensino Privado Gaúcho, promovido pelo SINEPE/RS, é um dos maiores eventos do setor educacional no País. Em sua 12ª edição, neste ano reúne mais de 2,7 mil pessoas para debater o tema "A maestria do professor na arquitetura da aprendizagem", no Centro de Eventos da PUCRS, em Porto Alegre. O objetivo é discutir os desafios e as oportunidades para o professor, sua relação com as novas tecnologias e a sociedade e seu papel enquanto líder do processo de ensino e aprendizagem
por Ana Cristina Basei

segunda-feira, julho 01, 2013

Professores de hoje

Em Primeira-mão 
Meu professor tem 13 anos
Por Marcelo Freitas

Como muitos dos leitores, tenho dois filhos em idade pré-adolescente. Uma experiência ímpar em todos os sentidos. Para nós educadores, então, um laboratório de observação sem igual. Lembro-me quando Júlia, a mais nova, interveio numa conversa entre os “adultos” da casa para fazer uma observação sobre a cultura Maia e me deixou de boca aberta. Tinha apenas 6 anos, à época. Intrigado, perguntei se havia aprendido aquilo na escola e, de repente, ela soltou: “não papai, foi no Discovery Kids”. 

Algumas conversas depois e lá vinha ela com outra consideração desse naipe. De novo perguntei: sua professora te disse isso? E ela novamente soltou: “não papai, passou no programa “X”, do Disney Chanel”. Bingo. Aí me perguntei: continuo pagando a escola ou somente a TV a cabo?

Ainda com aquilo girando pela cabeça saí com o Rafa, o mais velho. 8 aninhos na época. Enquanto dirigia, emprestei-lhe meu novo smartphone e disse que tinha um joguinho legal para ele brincar. Comentei que depois de pelo menos uma hora jogando, ainda não tinha conseguido avançar da primeira fase. Pelo retrovisor podia vê-lo no banco de trás, concentrado, “fuçando” o celular. Quando chegamos ao destino, perguntei a ele: “Conseguiu encontrar o joguinho? Tentou jogar”? E ele me respondeu, com a maior naturalidade: “Tô na fase 3”.

Hoje em dia, já com 13 anos, ele é meu consultor de mídias. Me ensina a jogar aqueles games que exigem atenção múltipla, destreza manual e raciocínio extremamente rápido para tomar decisões. Me mostra como baixar filmes, instalar softwares e coisas do gênero. Quando pergunto a ele como descobriu determinados “atalhos” no game, ele simplesmente me responde: “Ué, pai, digita aí no Google  - manhas do game X - que vc acha. Aproveita e assiste uns vídeos no Youtube sobre o joguinho. O que eu não descobri eu entrei numa comunidade com outros jogadores e eles me ensinaram”. Cheque-mate.

Estou dizendo tudo isso apenas para ilustrar como as novas gerações aprendem e lidam com o conhecimento. Chegam ao ponto de uma criança de 8 anos ensinar a outras em idade as mais variadas. A escola já não é mais o centro das atenções e da aprendizagem, embora esteja lá para cumprir a missão de ensinar. As novas gerações “se viram” de outras formas e o resultado final é extremamente próximo daqueles alcançados pela escola. Às vezes, até melhor.

Vi recentemente uma palestra  do indiano Sugata Mitra, na plataforma do conhecimento TED – Ideas Worth Spreading, onde ele relata situações semelhantes e suas experiências nesse universo. Fala sobre o modelo que suporta as escolas e de como preparamos nossos alunos para serem iguais, uns aos outros. E comenta sobre a capacidade das novas gerações em experimentar e aprender sozinhos ou com a ajuda de outras crianças e agentes, que não aqueles da escola formal. 

A exemplo do que ele fez, tente disponibilizar a uma criança em idade escolar um computador e veja o que acontece. Se os programas estiverem em outro idioma, não tem problema. Eles dão um jeito. Você se surpreenderá com o que essa criança fará num curto espaço de tempo. 

A moral da história é que a lógica do nosso sistema educacional e, em particular das nossas escolas, não se sustenta mais. É preciso incorporar novos paradigmas e começar a trabalhar noutra direção. Pergunto: Por que nossas escolas dividem as turmas de acordo com a faixa etária, por exemplo? Certamente não faltarão argumentos de professores e pedagogos para justificar essa premissa. Não os discuto. Apenas questiono se isso trás, de fato, resultados acima daqueles que seriam obtidos no caso de um grupo mais diversificado. Afinal, em casa, os irmãos geralmente aprendem uns com os outros, sem que tenham a mesma idade. As trocas e experiências nesse sentido são ricas. 

Os resultados apresentados por Sugata Mitra, os quais compartilho, nos faz realmente pensar diferente. Os maiores ensinando os menores. Os menores questionando os mais velhos e instigando-os a buscar respostas. Por que não?

As tecnologias estão à disposição para novas experiências de ensino-aprendizagem mas, antes de qualquer coisa, é preciso mudar o olhar. Ousar. Arriscar passos novos. Enxergar o que está acontecendo e, a partir daí, dar forma às novas maneiras de se aprender, tendo como base novas premissas. E aí sim, gerir um novo negócio chamado, quem sabe, “escola”.

(artigo a ser publicado na edição de agosto da Revista Gestão Educacional)