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quinta-feira, janeiro 25, 2018

Gamefication

O “faz de conta” digital 


Antes de colocar os pés em um avião militar, os pilotos são exaustivamente treinados para conhecer cada minúcia daquele equipamento. São jornadas exaustivas, estudando e conhecendo o seu funcionamento, a função de cada peça e dos seus instrumentos de controle.

Mas isso não basta. É igualmente importante entender a reação do equipamento, e do piloto, em situação de voo, sob os mais diversos tipos de ambiente. Para tal, é preciso desenvolver habilidades e competências próprias, como raciocínio rápido, tomadas de decisão em situações de emergência ou sob fogo cruzado. Habilidades desse tipo não se aprendem lendo manuais. É preciso colocar a mão na massa. Mas como fazer isso sem colocar em risco a vida do piloto e um equipamento de milhões de dólares?

A resposta é através do “faz de conta”. Sem tirar as rodas do chão, réplicas das cabines e painéis de controle são utilizados com eficiência nos treinamentos. Abastecidos com sistemas inteligentes que reproduzem situações da realidade, os simuladores são altamente eficazes na tarefa de avaliar situações problemas, as tomadas de decisão e as consequências decorrentes. Com uma grande vantagem: não há mortes nem perdas reais.

Uma outra virtude do uso de simuladores, é que as decisões tomadas em cada exercício, e suas consequências, podem ser depois avaliadas, revistas e compartilhadas. O uso desse tipo de prática em segmentos como o militar, tem demonstrado alto grau de eficiência no processo de aprendizagem e aquisição de competências por parte dos treinandos.

Tomando esse exemplo como referência, podemos inferir que metodologias semelhantes poderiam, e deveriam, ser utilizadas com mais intensidade nas escolas. Embora no Ensino superior essa prática já venha acontecendo em áreas como a saúde e as engenharias, ela ainda não é uma prática muito comum nas escolas de Educação Básica.

Nesse caso específico, ao contrário do que se pode imaginar, não é necessário um alto investimento para tornar o uso de simuladores uma prática corriqueira. Isso porque o mercado de games dessa natureza já está bastante recheado de alternativas. Elas vão dos jogos de estratégia, àqueles que desenvolvem habilidades de gestão, passando por um espectro de possibilidades bastante sortido. Neles o participante pode assumir o papel de um presidente da república, que precisa lidar com a diplomacia internacional, ou um executivo, que negocia contratos com fornecedores de outros países, ou ainda um general, que conduz seu exército para batalhas que envolvem ganhos de territórios. Também pode ser o piloto de um avião em plena segunda guerra mundial, ou um agente de polícia, que tem que desbaratar um cartel de traficantes.

A grande vantagem é que esses games estão disponíveis em qualquer loja física ou plataforma digital, pagos ou gratuitos. E mais: em alguns deles se pode jogar em equipe e online, em tempo real.
Até mesmo a aplicação de estudos de casos, método de aprendizagem já bem difundido entre os professores, podem ser amplamente enriquecidos com a utilização de games e simuladores. Além de possibilitar avaliações de causa e efeito, o uso de games torna o aprendizado leve e atraente para os alunos, mesmo em situações complexas da realidade.

Além do desenvolvimento de habilidades socioemocionais, os simuladores também permitem maior interação dos estudantes com a situação problema, a troca constante de opiniões entre eles e, a partir daí, a construção colaborativa do conhecimento.

Some-se a todas essas vantagens o fato de que a utilização de simuladores permite aos alunos ter o resultado imediato de uma avaliação sobre sua aprendizagem, porém, não como uma nota ou avaliação numérica, mas com distintivos e condecorações decorrentes da utilização de princípios de gameficação. Esse tipo de avaliação permite que os professores estabeleçam distintivos digitais de acordo com os resultados e consequências das decisões tomadas nos casos.

Bom pra todo mundo. Que tal, então, transformar a escola num lugar onde o “faz de conta” é uma ferramenta eficaz para o desenvolvimento de competências? Se precisar de uma mãozinha, conte conosco . Basta entrar em contato e conversamos.

(Artigo publicado na revista Linha Direta de outubro/2017)

sábado, dezembro 23, 2017

Professores empreendedores

A Educação precisa de “professores caras de pau”



Quem não tem um amigo cara de pau, que atire a primeira pedra. E quem disser que não tem, não sabe o que está perdendo. É bem provável que na sua adolescência, você já tenha passado por aquela situação de estar numa balada e, de repente, cruzar o olhar com aquela pessoa que faz disparar os batimentos cardíacos. Acontece que você não a conhece e, portanto, não sabe bem como abordá-la.
Mas eis que surge aquele seu amigo mais desinibido, que a turma chama de “cara de pau”. Embora ele também não a conheça, sem a menor cerimônia, vai lá, se apresenta pra ela e, do nada, faz a ponte entre você e a pessoa. Ele não tem receio de arriscar. Nem pensa que pode ser ridicularizado. Ele se apresenta, coloca a situação e, com isso, ganha a oportunidade de conquistar a simpatia da pessoa.

O que tem isso a ver com a Educação e os professores? Eu explico.

Na sala de aula muitas vezes temos uma situação um pouco semelhante. Mudar as práticas tradicionais de ensino continua a ser o principal desafio dos líderes de tecnologia educacional, mas a implementação de novas práticas digitais e o uso da tecnologia na sala de aula não é possível sem o apoio dos professores. Portanto, motivar os professores a mudar suas práticas tradicionais de ensino é, hoje, uma prioridade.

Uma experiência levada a termo pela antropóloga Lauren Herckis, na Carnegie Mellon University, uma instituição americana líder na pesquisa educacional, buscou identificar por que os professores relutavam em abandonar seus métodos tradicionais para adotar novas práticas apoiadas pela tecnologia. Durante mais de um ano, a Dra. Herckis observou os professores da Carnegie Mellon, numa maratona que incluiu assistir a todas as reuniões acadêmicas e ler e-mails institucionais dos professores, de modo que pudesse, a partir daí, descobrir por que eles não estavam mudando seus estilos de ensino.


Depois desse exaustivo trabalho, a antropóloga descobriu, em primeiro lugar, que muitos professores e acadêmicos se agarram à sua própria ideia do que seja uma "boa educação", ou um “bom método de ensino”. A partir daí, sua conclusão foi surpreendente: os professores têm uma enorme necessidade de se apegar e manter os seus próprios métodos porque têm muito medo de parecerem ridículos, na frente de seus alunos. Esse temor de serem ridicularizados faz com que não tentem algo novo.

Na verdade, é como se lhes faltasse aquela característica do amigo cara de pau, que não se preocupa em demonstrar suas dificuldades, para, a partir delas, construir uma ponte com seus alunos. Talvez essa postura tenha sido fruto de décadas a fio, onde o professor foi visto como um ser humano que tudo sabia e que, em hipótese alguma, poderia ter suas habilidades confrontadas. Ou não deveria mostrar suas vulnerabilidades.

Acontece que o mundo mudou e não houve muito tempo para que esses professores, oriundos de uma geração analógica, se adaptassem e atingissem a mesma destreza para lidar com toda essa tecnologia que seus alunos, das novas gerações. Esses já nasceram digitando e brincando em telas sensíveis ao toque. Aprenderam muitas coisas pelas mais diversas mídias, antes mesmo de colocarem os pezinhos na escola. E quando essas duas realidades foram então colocadas frente a frente, estabeleceu-se um choque entre culturas.

Um Relatório intitulado “Tendências na Aprendizagem Digital: Construindo capacidade e competência dos professores para criar novas experiências de aprendizagem para os alunos”, publicado pela Blackboard  e Project Tomorrow , se concentrou em avaliar a disposição dos professores para utilizar ferramentas digitais para transformar a aprendizagem. O relatório envolveu um universo de 38.000 professores, 29.000 pais e 4.500 administradores de escolas de ensino fundamental nos Estados Unidos, e apresentou opiniões sobre questões ligadas a aprendizagem digital, como parte do projeto de pesquisa Speak Up 2016 .

A partir dele, ficou patente aos líderes educacionais que o sucesso de qualquer iniciativa digital nas escolas depende da liderança do professor na sala de aula. Este relatório mostrou que as ferramentas, conteúdos e recursos digitais podem ajudar a elevar as competências dos professores. Também forneceu evidência do valor que a tecnologia pode trazer para as experiências de aprendizagem dos alunos.


É evidente que suas conclusões devem ser avaliadas com cautela, uma vez que se trata de um ambiente diferente do que temos no Brasil. Entretanto, em um mundo globalizado, é importante conhecer algumas das suas constatações, posto que poderão, em determinado momento, se repetirem por aqui.

Eis então as três principais conclusões desse relatório sobre tendências digitais de aprendizagem:

Os pais acreditam que o uso eficaz da tecnologia na sala de aula ajuda as crianças a desenvolver as habilidades necessárias para a vida adulta.
Hoje, o grande desafio, é motivar os professores para que alterem suas práticas tradicionais de ensino, e passem a usar a tecnologia na sala de aula.
Os professores que praticam a aprendizagem híbrida estão elevando os padrões de aprendizagem e estabelecendo novos processos que atendem às necessidades de todos os alunos.

Ao que parece, essas conclusões poderiam, muito bem, se aplicar à nossa realidade. E pelos seus resultados tudo indica que, em nome da melhoria da Educação, poderíamos ser todos nós, educadores, um pouquinho mais caras de pau, afinal, somos humanos e a educação se faz, principalmente, pela capacidade de nos colocarmos na posição de eternos aprendizes.

Fonte: Observatório de Innovación Educativa

Este artigo foi publicado pela Revista Linha Direta / 2017

terça-feira, março 14, 2017

Movimento maker

Deixa que eu faço

por Marcelo Freitas


Nos anos 1960 o homem exibia todo o seu domínio tecnológico transmitindo, ao vivo, o primeiro pouso tripulado na lua. Lembro-me de ver o astronauta fincar a bandeira americana em solo lunar, em meio a uma imagem em preto e branco, salpicada de chuviscos.

Nesse mesmo período, passávamos horas entretidos na frente de um televisor à válvula, assistindo os seriados produzidos pelas grandes empresas cinematográficas de Hollywood, como Perdidos no Espaço e Terra de Gigantes. Naquela época, todas as famílias com melhor poder aquisitivo tinham uma máquina fotográfica, um toca discos e, para os mais abastados, uma filmadora super-8.

Nos anos de 1980, outro avanço colocava nas casas os videocassetes, e com eles a possibilidade de gravar programas diretamente da TV. Ainda dependíamos das produtoras e seus programas feitos para as multidões. Outro avanço veio com as filmadoras em VHS, o que já nos permitia fazer pequenas filmagens domésticas e gravar em vídeo eventos de família, substituindo as máquinas super-8.

Bastaram então duas ou três décadas mais para que a revolução tecnológica proporcionasse uma reviravolta global. O mundo experimentou um processo de mudança acelerada jamais visto. As produções, em formato digital, passaram a ser viáveis a qualquer pessoa e sua difusão tornou-se algo corriqueiro. Estávamos na era do consumo em massa dos conteúdos personalizados.

Esse ambiente revolucionário abriu espaço para que setores como o de Entretenimento e de Tecnologia se expandissem para mercados ainda pouco explorados, ou de lenta reação à inovação. Um deles, o educacional.

Quando se deu conta do tamanho da mudança, a escola tratou de se movimentar, esboçando uma reação a partir da introdução, nas salas de aula, de equipamentos eletrônicos como computadores, tablets e lousas eletrônicas. A grande questão passou a ser a falta de metodologias criativas e inovadoras capazes de aproveitar tudo o que o ambiente tecnológico permitiu disponibilizar.

Acontece, porém, que o mundo ainda continua em marcha acelerada, e isso também impacta nos hábitos e possibilidades aos quais as pessoas estão expostas. Entre essas pessoas, os alunos, jovens que em sua grande maioria nasceram, ou estão diretamente conectados, ao mundo virtual e tudo o que ele pode proporcionar. E isso impacta a escola frontalmente.

Uma das fortes tendências já detectadas, por exemplo, é a mudança no perfil do jovem, que passa de consumidor a produtor de conteúdos. Isso mesmo. Daí o título deste artigo.

O relatório da pesquisa Horizon Report: 2016 K-12 Edition, realizada pelo New Media Consortium (NMC) em parceria com o Consortium for School Networking (CoSN), traz previsões relativas à inserção das tecnologias emergentes no ensino fundamental e médio pelos próximos cinco anos. Uma das principais tendências sinalizadas para o curto prazo, refere-se justamente ao protagonismo do aluno na produção de conteúdo (“Students as Creators”). Isso quer dizer que os alunos deverão deixar de consumir os “enlatados e pasteurizados” materiais utilizados pelas escolas e redes de educação para assumirem a criação de seus próprios conteúdos, em escala cada vez maior. E como a escola está se preparando para isso? Como as metodologias podem aproveitar esse movimento criativo?
Nessa perspectiva, as expectativas quanto ao propósito da educação, e da escola, mudam muito, inclusive para alunos pequenos. Eles não querem ir para a escola para escutar os professores falando de coisas que eles podem acessar pela internet, ou mesmo pelos programas de TV a cabo. O que esperam é compreender como podem utilizar tudo aquilo que estão aprendendo. Ou documentar e compartilhar suas próprias experiências a respeito do tema em estudo.

Como consequência, surge outra tendência de longo prazo, sinalizada também pelo citado relatório, que é o redesenho da sala de aula, tanto para abrigar as novas tecnologias e metodologias de aprendizagem, quanto para aumentar o sentimento de pertença, por parte dos alunos.

Todas essas inovações sinalizam para a necessidade de aumentar a integração da escola com os outros aspectos da vida dos estudantes. Essa evolução da integração escolar revela-se fundamental para manter o interesse deles pelo aprendizado, que já não segue na mesma trilha conservadora da maioria das escolas, e tende a se distanciar dela cada vez mais.

Para lidar então, com esse viés de criar conteúdos e resolver problemas reais, tendo a tecnologia como ferramenta para acessar qualquer tipo de conhecimento necessário, é natural que o processo de aprendizagem colaborativa ganhe ainda mais força. Essa prática, além de engajar os alunos, também beneficia os educadores na promoção das atividades em grupo, desenvolvendo-se, e aumentando, suas capacidades interdisciplinares.

Importante, portanto, avaliar com critério e profundidade todas essas tendências, pois elas sinalizam a necessidade de incremento de inovações no segmento educacional, uma vez que apresentam novos desafios a superar. Alguns deles, como reduzir as defasagens e as disparidades socioeconômicas, faz reforçar a necessidade de promover uma educação individualizada. Nesse aspecto, os avanços da tecnologia proporcionam ferramentas eficazes, como é o caso das plataformas adaptativas. Elas têm se mostrado grandes aliadas, pois permitem a educadores entender as diferentes performances de alunos e escalar estratégias que podem ajudar a reduzir os problemas.

Finalmente, há de se estimular a busca por inovações visando gerar mudanças reais na educação, particularmente no desenvolvimento de pedagogias progressivas e estratégias de aprendizagem; na organização do trabalho de professores e sua relação profissional diante da escola e das famílias; na organização e na forma de entregar conteúdo e, mais que isso, de desenvolver competências. O desafio está colocado!

Hora portanto, de semear criatividade para, em breve, colher inovações.

(Artigo publicado pela revista Linha Direta/edição 227 - fev/2017)

terça-feira, maio 03, 2016

Educação disruptiva

Um modelo disruptivo de negócios para a escola

Marcelo Freitas



Não é de agora que venho batendo na mesma tecla: a escola precisa reconhecer que chegou ao seu limite, enquanto modelo de empreendimento, e que, portanto, é necessário repensá-lo como um todo.

Reconheço que tema é bastante complexo e por isso mesmo vou me dedicar aqui a explorá-lo na ótica da gestão, um ponto de vista ainda pouco abordado. E isso começa com uma avaliação do modelo de negócios e suas interfaces atuais.

Ao longo do tempo, o que vemos acontecer nas escolas é o que chamamos de overshooting, onde o investimento e os esforços necessários para inserir uma inovação já não são proporcionalmente percebidos, por parte do cliente e, portanto, não se revertem em “propensão a pagar” por ela. O que acontece, então, é que as organizações que lideram o segmento educacional se vêm presas nessa armadilha, investindo cada vez mais em inovações que não são acompanhadas de percepção de valor. Mais e melhor, mas do mesmo.

Essa emboscada abre espaço para uma nova situação, a inserção de inovações de outra natureza. Um produto, serviço ou modelo de negócios que pode, entre outras coisas, privilegiar camadas de consumidores que geralmente não podem consumir o produto atual. Quando isso acontece, a empresa que introduz esse tipo de inovação costuma ser geralmente ignorada pelas líderes do setor, por não representar uma ameaça ao seu domínio.

Acontece, porém, que as inovações disruptivas são baseadas em tecnologias emergentes e novos conceitos de negócios, gerando produtos e serviços mais alinhados às necessidades dos consumidores, oferecendo melhorias que, em determinado momento, passam a atrair também aqueles consumidores das empresas tradicionais, em função das vantagens de custo que apresentam. E é nesse momento que o castelo começa a ruir para as organizações tradicionais.

Ao olharmos pela janela, vemos uma sociedade cada dia mais conectada, onde processos de negócios são levados para plataformas digitais que se encarregam de facilitar a vida das pessoas. As inovações disruptivas surgem na esteira desse ambiente, seja para minimizar o trabalho, seja para aproximar fornecedores e consumidores, seja mesmo para criar novas experiências. Em suma, a tecnologia trata de sepultar velhos hábitos ou formas antiquadas de negócios e as inovações disruptivas são as protagonistas desse movimento. 

Mas o que é inovação disruptiva? O conceito (Disruptive Innovation) foi desenvolvido pelo professor da Harvard Business School, Clayton Christensen em 1995, e se refere ao processo no qual um produto ou serviço tem raiz, inicialmente, em simples aplicações na parte inferior do mercado para, em seguida, alcançar uma grande ascensão, podendo inclusive ultrapassar concorrentes já estabelecidos. A disrupção não se refere a implementar melhorias, mas a transformar um produto caro e sofisticado, de acesso limitado, como acontece com a escola particular, em algo rentável e acessível para um público muito maior.

Do ponto de vista empresarial, a inovação disruptiva geralmente exige um alto investimento inicial e produz um retorno financeiro mais demorado. Entretanto, a sua adoção permite que a empresa responsável se posicione de forma privilegiada no mercado, gerando um efeito multiplicador. Em síntese, a aposta na inovação disruptiva significa criar tecnologias, produtos e serviços mais baratos e acessíveis, que rompem com o status quo existente. Embora em muitos casos as margens de lucro sejam menores, ela tem o potencial de realizar uma revolução, deixando obsoleto quem antes era líder de mercado.

No caso das escolas é preciso entender as possibilidades de criação de valor, a partir dessa ótica. Se nos dispusermos a desconstruir o modelo de escola que conhecemos, podemos imaginar possibilidades bem interessantes a partir de sua cadeia de valores, basta fazer as perguntas certas. O que podemos fazer para tornar a vida das pessoas mais fácil? Como é possível usar a tecnologia para simplificar o produto/serviço e torná-lo mais acessível para todos?

Façamos um exercício mental. Esqueça o modelo e o formato de escola que você conhece. Pense apenas que existe uma demanda social, e mercadológica, no que diz respeito à necessidade das pessoas em adquirir competências, sejam elas habilidades, atitudes ou conhecimento. Sem dúvida alguma, você pode perceber de imediato que suprir essa necessidade pode ser feito de inúmeras maneiras, que não necessariamente ter que se deslocar para ir a um determinado local, cumprindo um determinado horário e se relacionando sempre com as mesmas pessoas. E que para isso você ainda tem que desembolsar um valor fixo, mensalmente, usando ou não o serviço da maneira que gostaria.

Imagine, ainda, que existe um conjunto de saberes que são definidos previamente e compartimentados para, então, serem “entregues” a você, dentro de um formato padrão. Mesmo que você não goste daquilo ou que não tenha a capacidade de absorver da maneira padronizada com que é entregue.

Ainda sonhando de olhos abertos, coloque-se na posição daquele que vai gerir esse negócio. Imagine que você deverá ter, sob contrato permanente, uma equipe de pessoas disponíveis para atender aos clientes e que essas pessoas também têm que se deslocar para um determinado local para cumprir suas tarefas, todos os dias. E mais, que essa equipe de colaboradores tenha sempre as mesmas tarefas e que, ao final do mês, receba sempre a mesma remuneração, independente da sua parcela de valor agregado ao cliente ou se comparado ao colega na mesma atividade. Tal raciocínio, de imediato, quebra a estrutura lógica na qual se apoia a escola atual, não é mesmo?

Então só pra iluminar, tente imaginar um local onde pessoas interessadas em adquirir suas competências possam se reunir, presencial ou virtualmente. Um local que apresente atividades durante todo o dia, nos mais variados formatos, delas podendo participar vários e distintos agentes, desde mestres a discípulos, passando por familiares e voluntários. Imagine poder marcar um horário de sua conveniência para participar de determinada atividade, presencial ou remotamente, em um espaço livre, onde a estrutura possa ser rapidamente modificada para atender à determinada atividade.

Imagine também que todo o manancial de conhecimento gerado naquelas atividades seja armazenado instantaneamente em arquivos de áudio, vídeo, textos, fotos etc. e depositados “in cloud”, de modo a ser acessado e consultado, posteriormente, de onde quer que você esteja.

Vislumbre também professores, tutores e facilitadores, autônomos ou agrupados em empresas prestadoras de serviços do conhecimento, a oferecer seus préstimos em tempo real, para uma ou mais instituições, sendo remunerados pelo valor agregado que proporcionam ou por suas participações nas atividades em curso. Essas contribuições tornam-se ainda mais relevantes na medida em que pudem ser buscadas pelos aprendizes a partir de dispositivos como smartphones ou tablets, em tempo real, agregando assim mais interação aos grupos de discussão (cocriação).  Xô hora-aula!

Imagine ainda que a escola poderá remunerar o trabalho desses profissionais na proporção de sua participação efetiva e geração de conhecimento que proporciona em cada um desses momentos. A nova lógica seria: O aprendiz paga somente pelo que usa e a escola remunera seus colaboradores seguindo essa mesma premissa.  Nessa perspectiva, a escola não mais emprega professores, ela paga pelo conhecimento agregado ao serviço que esses profissionais oferecem. E mais: os próprios aprendizes podem escolher com quem querem aprender, dentro do espectro de profissionais do conhecimento disponibilizado pela escola ou pela empresa que os congrega.

Essas empresas, no formato de uma plataforma digital, oferecem espaço para o cadastramento de professores que determinam quanto querem ganhar pela participação nos eventos cadastrados pelas escolas. Permite, também, que o aluno escolha com quem quer interagir na sua sessão de aprendizagem, com ele se conectando a partir do seu dispositivo móvel. Final das contas: O aluno paga à escola pelo tempo de sessão utilizado durante o mês, com os profissionais que escolheu (que podem estar em qualquer lugar, e não necessariamente na escola), e a escola paga à empresa, ou ao profissional, pela utilização das suas competências associada ao tempo despendido nas sessões de aprendizagem dos seus alunos.


Veja que são modelos de negócios muito diversos daqueles que hoje temos. Mas é assim que as inovações disruptivas acontecem. O importante nesse momento é favorecer a introdução de novos paradigmas no sistema educacional, estimulando o surgimento e ampliação das novas tecnologias e de metodologias inovadoras. E se acharem interessante, podem se utilizar das ideias apresentadas no texto. Elas são a minha parcela de contribuição no processo de cocriação.

(artigo publicado pela revista Gestão Educacional /2016)

quarta-feira, abril 06, 2016

Gestão do conhecimento

Gestão do Conhecimento: 
da era dos hits para a era dos nichos
Por Marcelo Freitas

Assim como alguns dos nossos leitores, guardo comigo muitas recordações da juventude. Os tempos eram outros e algumas dessas lembranças marcaram aquela época. Lembro-me, por exemplo, de que naquele tempo as opções de entretenimento se resumiam a alguns poucos canais de TV, que transmitiam programas enlatados, e alguns jogos de tabuleiro, que alguns felizardos tinham dinheiro para comprar. Recordo-me também que naquela época, para se contatar pessoas distantes, usávamos a velha carta postada no correio, ou aquele telefone fixo, que, em alguns casos como no das chamadas internacionais, exigiam passar pela telefonista, antes de se chegar à pessoa de destino.

Um adolescente comum via os mesmos sucessos de bilheteria nos cinemas da cidade que seu colega de escola. Ele recebia as notícias pelos jornais, revistas e noticiários de rádio e televisão. Quem gostava de música, encontrava um pacote delas em três ou quatro estações de rádio que ditavam os sucessos do momento, ou apenas aqueles que “deveríamos” ouvir. Foi uma época em que as poucas janelas para um jovem sair do lugar-comum se concentravam nos livros e nos quadrinhos.

Lembro-me também das escolas que frequentei nessa fase da vida. Elas tinham horários rígidos, carteiras alinhadas e professores que gastavam a maior parte da aula passando o conteúdo da disciplina no quadro negro. Depois, mandavam que eu estudasse tudo aquilo em casa. Ops! Acho que por aqui a coisa não mudou tanto assim...

Nossas fontes de pesquisa se limitavam a uma boa enciclopédia (símbolo de status) ou ao conteúdo oferecido pelos livros adotados pela escola. Tínhamos o que se pode chamar de um ambiente analógico. Estávamos no longínquo final do século 20, em anos que remontam a pré-histórica década de 1970.  

Agora, caro leitor, compare esse meu mundo com o do Rafa, um adolescente de 16 anos que cresceu com a internet. Assim como seus amigos, ele tem um notebook com tela touchscreen no quarto, um tablet na mochila e um smarthphone, entupido de músicas e games, que o acompanha no bolso da bermuda. Ele, assim como os colegas, não conheceu o mundo sem a banda larga e as compras online. Quando quer se divertir com a turma, liga o XBOX do quarto, coloca o headset nos ouvidos e se conecta com eles, a partir da plataforma online do game. Detalhe: cada um em sua própria casa.

A velha TV comercial já não é mais tão requisitada. Na verdade ele seleciona seus programas preferidos para assistir quando quiser, seja colocando-os para gravar na smartv, acessando-os por um canal de vídeo ou baixando-os diretamente no tablet por meio do Bittorrent, um aplicativo ponto a ponto de compartilhamento de arquivos. Assim também ele faz com suas músicas preferidas. Algumas são compradas em lojas virtuais, mas a grande maioria é fornecida por amigos e baixada no dispositivo, cujo link é enviado por meio do Whatsapp, que utiliza para “conviver” com a turma durante todo o dia, e não mais apenas na escola, como no meu tempo.

O principal efeito de toda essa conectividade é que o Rafa tem ao seu dispor o acesso sem limites, e sem filtros, à cultura, entretenimento e conteúdo de todos os tipos. Na sua perspectiva, o panorama cultural se apresenta de todas as formas e formatos. Eles tanto podem ter um perfil comercial, como amador. Nesse particular, para ele, não há diferença: ambos competem indistintamente pela sua atenção. Assim como seus amigos, o Rafa não distingue os grandes sucessos dos nichos pouco explorados, apenas faz suas escolhas a partir de um menu infinito de opções.

A grande diferença entre a adolescência do Rafa e a minha, em síntese, é a variedade de opções. Eu e minha geração estávamos limitados pelo mundo físico e pelo que as ondas de rádio e TV nos proporcionavam. Rafa e seus amigos têm a internet para leva-los ao infinito.

Se olharmos tudo isso como profissionais, veremos que do ponto de vista empresarial, podemos dizer que estávamos diante de um ambiente em que era possível levar um programa a milhões de pessoas, com boa dose de qualidade, como o faziam o rádio e a TV. Entretanto, o oposto não acontecia, ou seja, não era possível levar milhões de programas para uma pessoa. E é isso que a internet, e a tecnologia, fazem muito bem.

Nesse novo ambiente, os hits competem em igualdade de condições com um número infinito de mercados de nicho. A era do tamanho único, do perfil padrão, do modelo genérico estão dando lugar a algo novo, chamado mercado de multidões. Esse mercado vem à tona na medida em que os custos para sua exploração apresentam queda exponencial em virtude da utilização das novas tecnologias e da internet, tanto na produção quanto na distribuição de bens. Com elas torna-se possível atender a diferentes mercados de maneira singular, na medida em que os bits vão tomando o lugar dos meios físicos.

Essa mudança de paradigma afeta diretamente a maneira como adquirimos conhecimento. A variedade de conteúdos disponíveis na rede mundial de computadores, nos mais variados formatos e em tempo real, torna os seus custos de aquisição e produção praticamente irrelevantes. Nesse novo universo, as pessoas deixaram de ser apenas consumidoras, para tornarem-se produtoras de conteúdo e, com isso, equipararem-se aos antigos e tradicionais hits do mercado. É amplamente permitido a qualquer um, não somente produzir algo novo sobre determinado tema, como editá-lo e compartilhá-lo em larga escala. Qualquer sujeito munido de um smartphone pode produzir, editar e compartilhar conteúdos para milhões de pessoas, com qualidade impecável.

Plataformas de compartilhamento são verdadeiros laboratórios destinados ao processo de cocriação. A aprendizagem, assim como o ensino, não são mais prerrogativas de um público pré-determinado, ou de um espaço físico específico. Todos são, ao mesmo tempo, autores e consumidores do conhecimento. Basta postar e seguidores mundo afora proliferam na mesma medida que o fogo em um rastilho de pólvora. Aquilo que antes era inexequível - levar milhões de programas para uma pessoa – tornou-se uma realidade. E mais ainda ao permitir que cada pessoa tenha acesso àquilo que mais lhe interessa, quando e onde quiser.

Em resumo, a economia movida a hits é o produto de uma era em que não havia espaço suficiente para oferecer tudo a todos. Era um mundo de escassez. Um mundo que não se conecta mais ao ambiente do Rafa e da sua galera.

Pela primeira vez na história da humanidade temos a possibilidade de construir o conhecimento de maneira diferente, a partir de diferentes abordagens e, ao mesmo tempo, oferecer diferentes competências repeitando as características de diversidade e individualidade. Tornou-se possível preparar um variado cardápio de saberes, recheado de conteúdos singulares e sabores diversos, para atender a gostos distintos. Metodologias de aprendizagem que sejam modulares ao perfil de cada pessoa. A tecnologia nos permite atender a nichos específicos, rompendo com o modelo pasteurizado vigente.

Permito-me, sob essa ótica, vislumbrar o Rafa, e seus amigos, integrando ambientes de aprendizagem moldados de acordo com suas preferências e modificados, ou temperados, com ingredientes desafiadores e interativos. Os mesmos ambientes que ele pode desfrutar atualmente, a partir do seu smartphone.

Inspirado por esse olhar consigo ver, também, um futuro promissor para as organizações que mais rapidamente perceberem esse movimento. Promover mudanças radicais e disruptivas na maneira pela qual adquirimos conhecimento é o caminho para garantir um elevado capital humano na sociedade do conhecimento.


Resta aos gestores, lideranças e especialistas, portanto, abandonar os modelos tradicionais de capacitação e desenvolvimento de pessoas que nos serviram no passado, para começar uma nova jornada que possa agregar valor aos Rafas desse mundo multiconectado.

quinta-feira, setembro 17, 2015

Agregar valor

A ordem é agregar valor



Recentemente, de maneira mais intensa, um debate tem sido travado em muitas instâncias da nossa sociedade e em especial no segmento educacional. Trata-se da adoção de conceitos como a meritocracia e a gestão por competências. Há quem os defenda, assim como existe aqueles que os repudiam. Não entrarei nesse mérito, pois tomei esses dois temas apenas para levantar a bola. 

Entendo que eles reportam a algo ainda maior, que vem se assumindo como premissa em todas as esferas, tanto profissionais quanto empresariais. É o conceito de Valor Agregado, ou em outras palavras, a maneira pela qual as empresas e as pessoas agregam valor ao que fazem.

Estamos numa época em que os produtos e serviços são escolhidos sob a métrica comparativa daquilo que proporcionam de satisfação aos seus consumidores. Esses, por sua vez, tomam suas decisões de compra cada dia mais suportadas naquelas características que tornem completa sua experiência e ofereçam um algo mais, em relação aos concorrentes. Essa dinâmica, e o reflexo dela, impactam tanto as empresas quanto os profissionais. Basta olhar o mercado de trabalho. Nele os processos seletivos estão mais exigentes, com valorização crescente daqueles que contribuem para além do esperado, agregando valor ao trabalho contratado.

De maneira sucinta, as perguntas recorrentes são: Como posso agregar valor ao serviço que ofereço? Como buscar diferenciais competitivos que coloquem esta instituição na preferência dos clientes?
Penso que para obtermos boas respostas a essas perguntas é preciso, antes de tudo, desbloquear os modelos mentais existentes. Explico: imaginemos a empresa como uma instituição que, na sua atividade rotineira, promove o conhecimento. Desenvolve pessoas. Ensina saberes. No fundo, ela também "presta serviços" de desenvolvimento de pessoas utilizando o trabalho como uma tecnologia educacional baseada em métodos on the job.

Veja caro leitor, que olhando a empresa sob essa ótica, muitas coisas novas vão aparecer no horizonte. Surge, por exemplo, a possibilidade de ter todo o quadro de profissionais com potencial para oferecer serviços de consultoria e treinamento às empresas e pessoas do entorno, permitindo com isso o ingresso de receitas marginais, abrindo também a oportunidade de ganhos adicionais aos colaboradores, agentes prestadores desses serviços ofertados. Uma ação desse tipo amplia a perspectiva da empresa se integrar à vida da comunidade onde se insere e participar ativamente do seu desenvolvimento. Valor agregado para a empresa, a comunidade e o colaborador!

Ela também permite alargar o horizonte dos profissionais, tornando suas atividades mais variadas, pois a exploração de suas competências se dará em diversas frentes: ensinando, participando de projetos comunitários, dando treinamento para as empresas e pessoas da comunidade. Valor Agregado!

Ainda em relação ao colaborador, tal situação se apresenta como condição excepcional para ampliar sua carteira de competências profissionais, a partir da obtenção de saberes adicionais, da convivência com situações reais de aplicabilidade dos conteúdos que ministra e da ampliação de seu network.  E tem mais. Permite aumentar suas receitas financeiras, tanto a partir de trabalhos de consultoria e prestação de serviços à comunidade, como também através de salários mais encorpados na própria empresa, lembrando que ela tem seu leque de receitas ampliado pela oferta de serviços que envolvem conhecimento, aprendizagem e ensino. Valor agregado!

É possível, ainda, adicionar valor à empresa, incorporando práticas de compartilhamento na capacitação de pessoas e na formação continuada. Empresas de uma mesma região podem dividir custos de treinamento de seus profissionais a partir do rateio na contratação dos cursos e na criação de redes colaborativas. Esse tipo de ação amplia a oferta de mão de obra qualificada no mercado e contribui para a empregabilidade dos profissionais. Valor agregado!


E é diante dessa busca pela criação de valor que a meritocracia e a gestão por competências se encaixam. Esses conceitos contribuem grandemente para estimular as pessoas a desenvolverem suas fontes de geração de valor e as contribuições que podem oferecer, sendo, ao mesmo tempo, reconhecidas por isso. Entendo que é nessa perspectiva que as discussões acerca da validade, ou não, da adoção de modelos de gestão de pessoas baseados em ferramentas modernas devem ser colocados. 

A empresa não é uma ilha e, portanto, deve caminhar em consonância com o ambiente que a rodeia. Agregar valor pela geração de conhecimento somente eleva a importância da educação no desenvolvimento da sociedade. 

segunda-feira, junho 01, 2015

Educação e tendências de consumo

A importância das tendências de consumo na gestão das escolas

Marcelo Freitas



A necessidade crescente de produzir melhorias na qualidade dos serviços que presta tem feito com que, cada vez mais, as escolas sejam geridas com maior profissionalismo. Nesse particular seus gestores demandam, também em escala crescente, ferramentas que possam lhes oferecer informações confiáveis, pertinentes e relevantes. Esses instrumentos de gestão, a exemplo do que acontece com empresas de outros segmentos, são de fundamental importância para o planejamento de curto, médio e longo prazos. Contribuem com inestimável valia na perspectiva de ajudar o gestor a vislumbrar tendências e cenários que, eventualmente, possam impactar o mundo da educação.

Mas esses instrumentos, sozinhos, não podem cumprir o papel de qualificar a gestão da escola ou agregar valor aos seus serviços. É importante que os gestores façam a sua parte. Olhar à sua volta com olhos críticos e fixar um ponto no horizonte à sua frente é uma atitude que em muito contribui nessa tarefa. Entender as mudanças sociais, tecnológicas, ambientais e tantas outras é fundamental para perceber o caminho que os consumidores estão trilhando e em quê estão se baseando para tomar suas decisões de compra. E é nesse momento que surgem as chamadas tendências de consumo.

Uma tendência de consumo pode ser definida como sendo uma nova manifestação entre os consumidores – no comportamento, na atitude ou na expectativa – de uma necessidade humana fundamental, um desejo ou uma vontade. Ao se atentar para as tendências de consumo pode-se melhor identificar demandas emergentes, ainda não atendidas. Um novo comportamento. Uma nova atitude ou opinião. Uma nova expectativa. Qualquer um deles pode ser base para uma tendência de consumo. E elas são particularmente importantes quando buscamos inovar, antecipar ao mercado e projetar situações que poderão impactar diretamente o negócio.

O segmento educacional tem sido, nos últimos anos, atingido frontalmente pelas mudanças do ambiente, por uma nova maneira de olhar o mundo e, principalmente, por uma forma diferente das pessoas tomarem suas decisões de compra. O Ensino à Distância – EAD, por exemplo, é a maior prova disso. Ele emergiu a partir do momento em que as pessoas estão dando grande valor à comodidade, à flexibilidade e à simplificação dos processos. Isso fez mudar hábitos de compra em outros segmentos e, como decorrência, também na educação. Antes, para assistir uma aula ou participar das atividades de aprendizagem, era preciso ir à escola. Com o advento da revolução tecnológica e a disponibilização de facilidades para se executar tarefas à distância (como pagar contas e requerer uma segunda via de documentos), essa facilidade foi também incorporada pelos consumidores que compram serviços educacionais e/ou realizam tarefas como adquirir conhecimentos.

No caso dos gestores educacionais, entretanto, é preciso atenção para distinguir os modismos das tendências. Os primeiros são passageiros. Vão e vêm. Já as tendências, emergem e se desenvolvem. Isso quer dizer que elas surgem quando uma mudança externa desbloqueia novas maneiras de atender antigos desejos e necessidades humanas. Na verdade elas apontam direções e caminhos.

Outro fato corriqueiro nos processos de gestão é confundir tendências com pesquisas. A pesquisa de mercado tradicional é essencialmente um olhar para trás, uma vez que é realizada a partir de dados colhidos sobre hábitos de consumo já praticados, no presente ou no passado. E mais: a pesquisa é normalmente limitada pelo que os próprios consumidores conseguem articular sobre suas necessidades, seus desejos e comportamentos. Ou seja, elas não conseguem olhar muito além do que a sua realidade apresenta, porque o próprio consumidor muitas vezes não tem ideia do quanto as coisas poderiam ser diferentes. Um bom exemplo é nos lembrarmos do que inovadores como Henry Ford a Steve Jobs pensam a respeito. É oportuno ressaltar que dados são importantes e podem dar suporte à análise de tendências, porém, não são verdades em si mesmos.

A grande vantagem em vislumbrar as tendências é que a educação é um processo de longo prazo e a validade dos seus serviços, na maior parte dos casos, só será constatada anos depois. Nesse particular, como lidar com as tendências de consumo, se novos produtos, serviços e campanhas em geral não deixam de ser “apostas no futuro”?  A resposta é que, de uma maneira ou de outra, hábitos de consumo modelam a maneira pela qual se toma decisões de compra e, mais que isso, ajudam a entender o processo que leva a essas decisões. Os valores e o tipo de conhecimento que integram esse processo são particularmente importante não só para trabalhá-los nos processos de desenvolvimento pessoal mas também para promover inovações. Estas, por sua vez, trazem no seu bojo rupturas significativas que podem demandar novos conhecimentos, habilidades e atitudes. E isso tem tudo a ver com a educação.

O fato é que seja qual for a ferramenta adotada pelo gestor, é sempre bom lembrar que há muitas variáveis envolvidas no trabalho de avaliar tendências. Nesse aspecto, o bom gestor deverá centrar foco, não só nas tendências em si, mas principalmente nas oportunidades que elas sinalizam. Tendências são apenas sinais e caminhos que, no fundo, servem a um propósito maior: a busca por inovação.

Para uma escola, tanto na ótica da gestão quanto do produto, conhecer as demandas futuras implica antecipar medidas gerenciais, criar modelos de funcionamento e oferecer diferenciais que considerem as ofertas de valor como ponto principal de decisão de compra. É aí que a escola ganha competitividade e se torna proativa.

Mas quais tendências usar? Quando usar? Bem... Isso depende de você, caro gestor! Comece por conhecer bem sua própria marca, os valores que ela pretende transmitir, seu público e o seu projeto educativo, suas capacidades e potenciais consumidores. Adapte-se à tendência de acordo com isso e deixe que as necessidades e desejos emergentes dos consumidores sejam sua âncora.

quinta-feira, abril 17, 2014

Gestão de Talentos

Pesquisa mostra que a Holanda é o país que melhor sabe aproveitar seus talentos, enquanto Índia e China ficaram nas piores colocações

Fonte: http://epoca.globo.com/vida/vida-util/carreira/noticia/2014/04/profissionais-brasileiros-precisam-se-badaptar-melhorb-diz-estudo-do-linkedin.html

Você tem a capacidade de se adaptar às necessidades do mercado de trabalho? Um novo estudo publicado pela cosultoria PwC, a pedido da rede social LinkedIn, avaliou o talento de adaptação de profissionais e das empresas em 11 países diferentes, entre eles o Brasil. O estudo mostra que saber usar suas habilidades em diferentes cenários e situações pode melhorar a economia brasileira em até US$ 11 bilhões.

Segundo o estudo, a falta de adaptação atrapalha a vida das empresas na hora de encontrar novos talentos, e prejudica a carreira de profissionais, que têm mais dificuldade de encontrar cargos promissores. A Holanda é o país que melhor sabe aproveitar seus talentos, enquanto Índia e China ficaram nas piores colocações no ranking da PwC.

O que os profissionais brasileiros podem fazer para melhorar sua habilidade de adaptação? Segundo o estudo, os profissionais devem olhar além das fronteiras da sua carreira, se antecipar no desenvolvimento de novas habilidades (como aprender uma segunda língua), e construir uma rede de contatos onde possa mostrar suas habilidades.
Confira os principais resultados do estudo.




quinta-feira, fevereiro 20, 2014

China

A Democracia ocidental está em cheque?

Ter a mente aberta deve ser a proposição de todo democrata. Pessoas que se abrem a novas ideias,  a novos argumentos. Enfim, pessoas que se permitem ponderar sobre verdades que até então não são questionadas. Ou pelo menos são aceitas em virtude de dogmas ou paradigmas existentes.

Assisti a esta palestra no TED e achei interessante a abordagem acerca do que entendemos como um dilema entre a democracia política e a democracia econômica. Interessante reflexão para quem quer pensar um pouco fora do quadrado. Não concordo com a opinião apresentada no vídeo, mas também não discordo dela, em virtude de ser embasada em dados e fatos. Clique no link abaixo e assista. Vale a pena. Depois me diga...você, o que acha?

http://www.ted.com/talks/lang/pt-br/dambisa_moyo_is_china_the_new_idol_for_emerging_economies.html

sexta-feira, dezembro 27, 2013

Poder dos Introvertidos

Introvertido eu?

É cada vez maior a ideia de que as pessoas, para alcançarem o sucesso, tenham que ser extrovertidas. Aquelas mais tímidas ou, como queiram, introvertidas, são postas à margem dos processos mais importante nas empresas ou  esquecidas no cantinho da sala de aula.

Mas será que não estamos marginalizando cérebros fabulosos ao estabelecermos esse fator como verdade? Uma palestra interessante a respeito para você pensar e deixar seu comentário.

quinta-feira, julho 18, 2013

Papo de Congresso

Especial













Ensino escolar e novas mídias ainda não estão conectados 

Pauta sobre utilizar as tecnologias em favor do processo de aprendizagem foi abordada pelo o especialista em Gestão Educacional Marcelo Freitas, em conferência desta quinta-feira à tarde no 12º Congresso do Ensino Privado Gaúcho
As novas mídias ensinam formas totalmente diferentes de se comunicar e relacionar todos os dias às pessoas. Crianças e adolescentes, em especial, nasceram familiarizados com estes recursos, mas as escolas e os educadores ainda estão nos primórdios de como utilizá-los em favor do processo de ensino e aprendizagem. O especialista em gestão educacional Marcelo Freitas falou acerca deste desafio ao público do 12º Congresso do Ensino Privado Gaúcho, promovido pelo SINEPE/RS. A programação da tarde desta quinta-feira (18) iniciou com conferência sobre "As mídias na arquitetura das aprendizagens".

"O que estamos chamando de novas mídias são as TIC`s (Tecnologias da Informação e Comunicação) e, apesar de toda a disseminação desses meios, eles ainda são pouco compreendidos no universo escolar", avalia Freitas. De acordo com ele, as crianças de hoje encontram na escola um ambiente arcaico, passivo, construído sobre os paradigmas dos séculos XVIII e XIX. "E eles precisam ser totalmente quebrados! Há necessidade de uma grande ruptura, de recriar muitas coisas, e não apenas readaptar", salientou.  

NÃO BASTA INTRODUZIR TABLETS OU LOUSAS DIGITAIS
O mundo de agora funciona de outra maneira. As crianças e jovens, desde a fase mais tenra da idade, aprendem de forma interativa, com ou sem a presença dos adultos, pais ou professores. Freitas explicou que as mídias são apenas aquilo que o próprio nome diz: os meios. "Acontece que as TIC`s trazem consigo outra lógica e é exatamente isso o que causa o conflito. Não basta introduzir tablets, lousas digitais e ambientes tridimensionais, se continuamos colocando nossos alunos sentados em fila na sala de aula e aplicando o mesmo conteúdo de maneira homogênea para todos eles". 

Cada um exige um tipo de lidar com a aprendizagem que é diferente do outro. Em sua visão, a reinvenção dos processos de ensino-aprendizagem, deve ser apoiada no uso das novas tecnologias, mas, principalmente, na quebra dos paradigmas. "Por isso, precisa haver uma revisão total dos processos, desde os parâmetros técnicos até às avaliações. "Não insistir em reforçar as fraquezas do aluno, melhor é concentrar esforços no que ele pode se sobressair". Completou refletindo que os professores não têm o papel de formar, isto é, colocar em formas, mas sim de desenvolver. 

EVENTO
O Congresso do Ensino Privado Gaúcho, promovido pelo SINEPE/RS, é um dos maiores eventos do setor educacional no País. Em sua 12ª edição, neste ano reúne mais de 2,7 mil pessoas para debater o tema "A maestria do professor na arquitetura da aprendizagem", no Centro de Eventos da PUCRS, em Porto Alegre. O objetivo é discutir os desafios e as oportunidades para o professor, sua relação com as novas tecnologias e a sociedade e seu papel enquanto líder do processo de ensino e aprendizagem
por Ana Cristina Basei

segunda-feira, março 11, 2013

Novas experiências... novas demandas

Os Consumidores Virgens

Cada dia que passa novos produtos e serviços são lançados no mercado. Nunca os consumidores tiveram tanto acesso a novidades numa velocidade tão grande. Diante disso, surgiu a expressão "Virgen Consumers". Ela caracteriza aquelas incontáveis "primeiras vezes" que cercam o relacionamento com as marcas, serviços e produtos.Nessa avalanche de novidades, a maioria das pessoas, você inclusive, se depara no dia a dia com a falta de conhecimento sobre essas marcas, produtos e aplicativos. Diante delas, você é um consumidor virgem.

Nessa onda, vários mercados e demandas vão surgindo, baseadas nos questionamentos desses consumidores e no conhecimento que as empresas passam a ter dos seus hábitos de compra ou mesmo das suas necessidades não atendidas. Aqui no Brasil, com o envelhecimento da população, a preocupação com a saúde vem crescendo rapidamente, desde a primeira fase da vida até a mais madura "melhor idade". Isso envolve tanto a lida com a obesidade infantil, de maneira preventiva, até o cuidado especial demandado pelos obesos, cardiopatas, hipertensos etc.

Com base nesse ambiente, firmamos  recentemente uma parceria interessante com a NewFit Training, um genuíno case de marketing. Trata-se de um estúdio voltado para o treinamento especializado de públicos específicos, direcionado para os objetivos de cada cliente, de maneira totalmente individualizada. Um alinhamento prefeito com as novas tendências de consumo. Sua proposta é direta, logo no primeiro contato:


"Se você vier à Newfit para perder 20 quilos, seja para aliviar a dor nas costas ou para tornar a sua experiência esportiva melhor, nós levamos a sério o seu objetivo.
Aqui você vai trabalhar com as ferramentas mais interessantes que estão disponíveis. Vai ser divertido, às vezes, mas o nosso objetivo não é entreter - é ajudá-lo a chegar ao seu objetivo o mais rápido e seguramente possível.
Você nunca será repreendido ou menosprezado, ou colocado em uma posição onde possa se ferir, mas você vai ser intensamente desafiado. O resultado é que, em pouco tempo, você vai se sentir - e se olhar - melhor."

Conheça um pouco mais deste case acessando a nossa página "Programas Especiais", neste blog. Já sobre as tendências dos Virgen Consumers, uma dica é conhecer mais sobre o assunto na página http://www.trendwatching.com/pt/trends/virginconsumers/

terça-feira, outubro 30, 2012

2013... Cenário da educação

O mercado educacional em 2013

Penso que o segmento educacional está experimentando uma forte consolidação em termos de grandes grupos e que isso deverá continuar em 2013. Nesse aspecto, ganham destaque a profissionalização dos gestores e a busca por executivos e profissionais cada vez mais preparados para lidar com a escola como um negócio. Novas profissões e especializações também estão aparecendo e isso transforma a função dos gestores de RH, elevando-os ao patamar das decisões mais estratégicas.

Outro ponto importante é a corrida do ouro no setor público. Várias empresas já identificaram o potencial desse segmento, até então desprezado por uma fatia do mercado, numa possibilidade de novos negócios. Para vc ter uma ideia, eu mesmo acabei de escrever um projeto para uma grande editora internacional que será lançado em breve e é voltado para as secretarias de educação de pequenos municípios. Além do projeto, escrevi toda a metodologia e os livros guia, sistema de avaliação e o software do programa, totalizando 14 volumes. Então, acredito que esse será um setor importante.

Outra questão relevante está dentro das salas de aula. Entendo que começamos a passar por um ajuste entre os atuais modelos de ensino-aprendizagem e as novas demandas da sociedade. Existe um grande descompasso aí. Se por um lado já temos alguns recursos como tablets e lousas interativas em grande parte das escolas do país, por outro falta método, professores e novos conceitos educacionais para aproveitar todo esse potencial. Precisamos reinventar a escola. Não cabe mais ajustes e maquiagens.

Finalmente, uma questão que venho debatendo em congressos e consultorias diz respeito à necessidade de encontrar novas formas de sustentabilidade para o negócio chamado escola. Já é possível termos aulas gratuitas de renomadas universidades globais, como a Harvard, Yale, Universidade de Paris e tantas outras. E o nosso modelo atual ainda se sustenta pela receita de mensalidades. Até quando?

terça-feira, setembro 04, 2012

Microtendências

O novo comércio

Para quem vive com intensidade o espírito empreendedor, ficar antenado às tendências de mercado é fundamental. Gostaria de partilhar com os colegas e leitores deste blog 12 microtendências que podem iluminar o caminho dos mais ousados inovadores de plantão.

Clique no link a seguir e boa viagem.

http://trendwatching.com/pt/trends/minitrends/#techdomestics

segunda-feira, julho 09, 2012

Tablets na sala de aula

O que fazer com o meu tablet?

Tenho visto um movimento significativo no sentido de levar a tecnologia para as salas de aula. Esse movimento, entretanto, ainda tem seu foco na infraestrutura, ou seja, nos equipamentos. O fato é que isso é apenas o começo do processo. A grande maioria dos nossos docentes não sabe mesmo o que fazer com eles, quando o recebem.

Escrevi um artigo para a revista Gestão Educacional sobre o assunto e gostaria de compartilhá-lo com você, caro frequentador desse blog.



O que eu faço com o meu tablet?

Por Marcelo Freitas

Tenho certeza de que a pergunta do título é uma daquelas que a maioria dos professores gostaria de fazer ao receber esse objeto de trabalho “modernoso”, das mãos do diretor da escola. Isso mesmo... ferramenta de trabalho. Evidente que nem todas as escolas ainda incorporaram o equipamento às suas práticas educativas e, assim, nem todos os professores ficaram de saia justa. Ainda.

Depois de muitos e muitos anos, a tecnologia que batia à porta das escolas recebeu permissão para entrar. Não que tenha sido fácil. Acredito mesmo que quem girou a maçaneta foram os alunos e aí...

O fato é que agora esses equipamentos estão pousando nas mesas e carteiras das salas de aula. Bom? Certamente. Eficaz? Ainda é cedo para dizer. Isso porque o equipamento é apenas o meio e não o fim do processo. Para que seja de fato eficaz é preciso que os professores saibam operá-lo com maestria. É fundamental que saibam extrair dele o melhor e, principalmente, que definam que conteúdo será colocado lá dentro e o que fazer com ele na sala de aula.

A equação não é fácil. Se o processo de encaixá-lo no material didático está sendo parcialmente “resolvido” pelas redes de ensino (embora a maioria tenha apenas digitalizado seu material apostilado e depositado no equipamento, substituindo a papelada pelo conteúdo em bits e bytes), a maneira com que será utilizado em todo o seu potencial ainda é uma questão a descoberto.

A nova mídia requer outros conceitos de aprendizagem e novas metodologias de apresentação dos conteúdos, centradas nas hipermídias. Não é apenas a transposição do papel para a telinha. Isso não funciona. É preciso dar dinâmica aos conteúdos, manter o pique multitarefa dos alunos. Envolver e mesclar vários temas simultaneamente. Fazer essa geração de antenados manter a concentração não é mole.

E nesse aspecto o que se vê é uma carência conteúdos concebidos para o uso pedagógico nas mídias digitais. Não é por acaso que as aulas no YouTube fazem tanto sucesso, com milhões de acessos. Mas é preciso pensar maior. É importante explorar, e integrar, não somente as possibilidades de tablets e notebooks, mas também dos celulares. Eles são uma poderosa ferramenta para a aprendizagem. Fazer pequenas tarefas ou jogar em rede com os colegas pode ser uma fonte inesgotável a explorar. E para isso não basta apenas o conteúdo. É preciso forma, interatividade, criatividade, desafio.

Nesse particular, os jogos saem na frente. Se aproveitados com imaginação, eles podem se transformar numa excelente ferramenta de ensino. E é aqui que o papel dos educadores se torna fundamental. É deles que deve partir a iniciativa de transformar e adaptar o conteúdo dos currículos aos jogos e aplicativos. E isso pode ser feito de imediato, pois existe uma enormidade de games nas prateleiras das grandes livrarias capazes de preencher espaços significativos na aquisição de habilidades e competências.

Um exemplo? SimCity. Esse famoso game é a simulação de uma cidade em construção. Nela o jogador assume a posição de prefeito e, a partir daí, é colocado em contato com uma gama de situações e problemas. Já imaginou que potencial de aprendizagem para competências e habilidades como planejamento, tomada de decisão, gestão de recursos, definição de prioridades etc...etc.... ? E em relação aos conteúdos específicos, como geografia e matemática?

Na linha dos simuladores, existe ainda uma infinidade de outros títulos que podem ser trabalhados na perspectiva multidisciplinar, envolvendo desde a gestão de clubes de futebol e basquete, até simuladores de vôo e construção de ferrovias, passando por jogos de estratégia e conhecimento. Enfim, um mundo de opções a explorar.

No frigir dos ovos, não está faltando tanto assim. Falta apenas mais criatividade para sair da mesmice. Educadores, segurem suas manetes e boa viagem.



quarta-feira, março 14, 2012

Inovação melhora

O Brasil está mais inovador?


Interessante uma pesquisa recente realizada pela GE com 2,8 mil executivos de 22 países, o Brasil inclusive (200). Para a maioria deles, nosso país está mais inovador. Veja o que eles pensam:

  • 80% dos entrevistados acreditam que pequenas e médias empresas e indivíduos podem ser tão inovadores quanto grandes empresas;
  • Para 74% dos executivos inovação precisa ser dirigida para atender a necessidades específicas de um mercado;
  • Já para 73% desses executivos, inovação é mais impulsionada por pessoas criativas do que por pesquisas científicas;
  • No geral, 80% dos entrevistados afirmam que o ambiente de inovação melhorou nos últimos cinco anos.
O Brasil apresentou-se num grupo de "muito otimistas", que considera que a inovação irá se converter em melhorias na vida das pessoas. Por outro lado, consideram que o ambiente da inovação em nosso país é desfavorável, ao contrário da China, onde a maioria entende esse ambiente como muito favorável à inovação. Índia e Estados Unidos se apresentaram como países onde o ambiente de inovação é "balanceado".

Mas, se estamos de fato melhorando, quem está gerando essas inovações?

sexta-feira, setembro 09, 2011

Aprendendo em rede


Hoje em dia ninguém sobrevive muito tempo estando sozinho. Até mesmo empresas concorrentes já se organizam, de alguma forma, para compartilhar processos não estratégicos, visando reduzir custos, melhorar a qualidade e atender melhor os seus clientes.

A internet, por sua vez, conecta milhões de pessoas e organizações, proporcionando alianças, trocas de informações e conhecimento. Nessa onda, as redes setoriais, ou redes de pares setoriais estão, cada vez mais, ganhando espaço. Trata-se de uma experiência interessante, onde empresas do mesmo segmento, porém estabelecidas em mercados diferentes e não concorrentes, trocam experiências, desenvolvem projetos e organizam estudos buscando a melhoria de todos.

Elas ajudam seus membros a aprenderem através da experiência de seus pares, fortalecendo-os para enfrentar problemas enraizados e comuns em muitas organizações. Fornecem subsídios para o compartilhamento de soluções que, a princípio, teriam que ser buscadas através de consultorias ou com base no processo de tentativa e erro.

Uma outra qualidade das redes setoriais é que elas têm contribuído bastante para estimular a adoção de melhores práticas por parte do conjunto de seus membros, a partir do estabelecimento do “benchmark” do grupo. Proporcionam aos gestores integrantes a possibilidade de trocar experiências e conhecimentos, representando verdadeiros atalhos no processo de aprendizagem. Conceitos que só poderiam ser adquiridos através de cursos formais ou outra forma de capacitação, são compartilhados pela prática dos relatos de casos.


No segmento Educacional

Se adotadas no segmento educacional, as redes setoriais podem ser de grande valia. Dependendo do enfoque e dos objetivos a elas atribuídos, redes setoriais poderiam ser compostas de diversas formas, considerando os mais variados perfis de grupos. Eis alguns deles:

o Por segmento: Escolas de educação infantil; Ensino Fundamental; Ensino Médio; formação profissionalizante; Ensino superior, etc;

o Por região geográfica: instituições da região metropolitana da cidade “X”; do bairro “tal”; etc...;

o Pelo porte: escolas com até 200 alunos; entre 200 até mil alunos, etc...;

o Misto: Escolas com até mil alunos na região metropolitana da cidade “X”; Instituições de Ensino médio, com até 200 alunos; etc;

o Por características específicas: escolas particulares; escolas públicas; escolas confessionais; instituições de ensino profissional; Escolas de idiomas; projetos de Organizações não Governamentais; etc;

Uma condição singular, entretanto, é que seus membros não concorram entre si nos mesmos mercados, pois essa situação prejudicaria a livre troca de informações, fazendo com que o grupo ficasse prejudicado.

Virtudes

Uma das principais virtudes da formação de redes setoriais é alertar seus participantes sobre alguns dos maiores perigos da governança: a miopia e a inércia. Isso porque a tendência dos executivos, e os educacionais não fogem à regra, é dar excessiva relevância aos problemas locais, muitas vezes ignorando os fatos globais, distantes ou que lhes são pouco familiares. Inovações emergentes são muitas vezes relegadas por não fazerem parte (naquele momento) da realidade local. A situação se complica, entretanto, quando o problema avança sobre suas fronteiras, pois aí já é tarde demais para se preparar ou para solucioná-lo.

A outra questão é a inércia. Ela induz executivos, funcionários e educadores a agirem sempre da mesma forma, atendo-se a pressupostos já testados e estabelecidos. Eles dão prioridade aos conhecimentos que dominam, negligenciando a exploração de novos conceitos. Muitas instituições inovadoras ou de grande porte, em virtude da inércia, tornam-se vítimas da arrogância, não conseguindo manter sua vantagem competitiva e sendo ultrapassadas pelos rivais.

Particularmente em setores onde a concorrência é acirrada e predominantemente local, como no caso das escolas, a miopia e a inércia são componentes de grande risco. Por isso mesmo a participação em redes setoriais torna-se importante, na medida em que traz informações confiáveis, além de novos conhecimentos e capacidades aos seus membros.


Outras formas de composição

Por outro lado, a composição de redes setoriais pode também abarcar a participação de profissionais de outros segmentos, tornando o grupo mais eclético. Esses participantes servem para oxigenar o pensamento do restante dos membros, trazendo inovações que deram certo em outros segmentos e proporcionando a oportunidade da introdução de mudanças significativas na operação e organização das escolas. Essa composição pode trazer componentes de toda a cadeia de valores da educação, como fornecedores de material escolar; “softwares” educativos e gerenciais, brinquedos pedagógicos, fornecedores de material didático, agências de publicidade, gráficas e toda uma gama de empresas que se relacionam com as escolas.

A escolha das instituições que compõem o grupo, assim como a participação efetiva e franca de seus membros representantes, é que tornará a experiência da rede setorial uma ação ímpar no trato da inovação e do estabelecimento de novos patamares de qualidade para o setor educacional. Então... mãos-à-obra!

quinta-feira, agosto 11, 2011

Harvard

Educação de primeira

Que a escola precisa se reinventar parece já não ser novidade pra ninguém. No mundo dos negócios o processo de intergração planetária tem forçado as empresas a mudar seus paradigmas. Uma das escolas mais conceituadas do mundo, a Harvard, tem procurado se adaptar a isso ao mesmo tempo em que mantém nos "estudos de caso" o diferencial para permanecer em sintonia com a realidade.

O reitor da escola, Nitin Nolria, deu uma reveladora entrevista à Revista Época Negócios, recentemente, a qual tomo a liberdade de reproduzir abaixo. Vale a pena.


"Nota boa não é o suficiente para Nitin Nohria, reitor da Harvard Business School


Para entrar em uma escola de elite, como a HBS, os candidatos precisam ter muito mais do que excelência acadêmica

Por Karla Spotorno


Nitin Nohria, reitor da Harvard Business School, fala sobre as expectativas que da famosa escola de negócios sobre seus alunosEstudar nas melhores escolas e formar-se com as melhores notas são condições importantes, mas não suficientes para entrar na Harvard Business School. É o que diz o reitor da escola Nitin Nohria. Escolas de negócios como a de Harvard têm dado atenção à experiência dos candidatos, sua capacidade para a liderança e a motivação pessoal. As novas condições são, na realidade, um reflexo do que espera os líderes do mundo dos negócios. Confira a entrevista exclusiva:

Qual a bagagem cultural e intelectual o senhor espera dos candidatos aos cursos da escola?

Além de excelência acadêmica, que demonstra comprometimento do candidato aos estudos, buscamos pessoas que demonstrem alguma experiência, o que pode significar dois ou três anos de trabalho. Nos processos de seleção, procuramos os melhores e também os que estão mais alinhados com a proposta da escola. Quando observamos os currículos, buscamos evidências que comprovem a capacidade e o potencial de liderança dessas pessoas. O candidato pode ter desempenhado um papel ativo na vida estudantil ou ter sido capitão do time da escola. Evidenciar essa capacidade é importante porque não será em um período de dois ou três anos que a escola conseguirá formar uma liderança. Além disso, tentamos entender a motivação do candidato em estudar aqui. Precisa ter uma relação com um projeto maior, uma aspiração. Não pode, simplesmente, se restringir ao objetivo de ele evoluir pessoalmente. Nem está de acordo com a missão da escola de educar líderes para o futuro, sejam eles empresários, executivos ou empreendedores sociais. Queremos educar essas pessoas para que possam ganhar o mundo e criar algo novo, liderar um projeto.

Quais atividades extracurriculares o senhor considera importantes? Fazer intercâmbio? Estudar chinês? Trabalhar como voluntário em um programa social?

Não há uma fórmula para preparar um jovem para uma carreira de sucesso. Os estudantes da Harvard Business School que têm sucesso têm uma gama ampla de interesses e experiências pessoais e profissionais. Procuramos os jovens com a maior variedade interesses. Isso normalmente significa que eles são pessoas viajadas, bem educadas, curiosas e motivadas para aprender. Eles também têm de demonstrar capacidade para autoreflexão e autoconsciência. Muitos dos estudantes trabalharam como voluntários ou até mesmo fundaram organizações sem fins lucrativos. Mais da metade fala mais de três idiomas. Todas essas questões contribuem para formar o caráter uma pessoa. Mas fazem parte de algo maior.

Como o senhor vê a escola do século 21 e as novas dinâmicas de aula e formas de transmitir o conhecimento?

A compreensão histórica da educação está, definitivamente, ultrapassada. O conhecimento está em todo lugar. Os estudantes podem obter o conteúdo pela internet. Olhando dessa forma não haveria mais a necessidade de o aluno ir à sala de aula. Olhe o exemplo do Salman Khan [ex-aluno do MBA da Harvard Business School]. Milhões de pessoas assistem às aulas que ele produz em vídeo e coloca no site, no YouTube. O ganho de o jovem vir à universidade está na interação com os professores e também com os alunos. A discussão entre eles, a troca de experiências e de opiniões é que fazem a diferença para os alunos. Acreditamos na aprendizagem através da experiência. Por isso, as aulas trazem casos reais para os alunos buscarem soluções para problemas reais. O professor ajuda os estudantes a aplicar os conceitos em casos da vida real.

Qual a parcela de responsabilidade das escolas de negócios na falência moral do sistema financeiro? E o que deveriam ter feito para evitar a crise?

De certa forma, todos os educadores têm responsabilidade na transmissão de valores éticos. Em Harvard, acrescentamos a discussão da responsabilidade ética no currículo obrigatório há mais de uma década. Uma iniciativa que defendo pessoalmente é o juramento dos alunos de MBA no final do curso. É uma espécie de compromisso ético com a profissão, como têm os médicos. Apesar das aulas e de todo debate na universidade, compreendemos que os alunos falham. Uma pesquisa mostra que o ser humano é muito suscetível e que apenas uma média de 10% das pessoas persistem em seus valores sob condições desfavoráveis e altíssima pressão. A questão é: como convencer as pessoas a resistir em situações adversas? O que tentamos fazer na escola é ajudar as pessoas a perceberem e melhorarem as suas próprias incosistências. Por outro lado, também buscamos entender o que as pessoas pensam sobre risco e como se comportam em cenários onde os ganhos extrapolam todas as expectativas. No ano passado, a escola lançou um programa sobre gerenciamento de risco, dirigido pelo professor Robert Kaplan e por Anette Mikes. A ideia é estudar como as pessoas pensam em risco em diferentes áreas, como quem projeta pontes ou quem produz remédios. Queremos trazer essas experiências multidisciplinares para as empresas e pensar em um novo sistema financeiro com novas ferramentas para mitigar e controlar os riscos.

Por que o programa de educação executiva admite somente pessoas que estão empregadas?

Um das desvantagens de admitirmos profissionais autônomos ou freelancers está na relação que surgirá entre os alunos. Percebemos que eles buscam construir relações comerciais com os colegas, além da convivência acadêmica. Não queremos desvirtuar a natureza do networking. As amizades que nossos estudantes constroem aqui são para a vida inteira Esse é um dos principais ativos que os estudantes levam ao voltar para casa.

E como o senhor tem observado a educação dada pelos pais às crianças?

Percebo uma obsessão na educação dos jovens e uma busca excessiva por notas boas. Isso não está certo. O esporte é algo muito importante para a formação das crianças e deveria ser estimulado.

A Harvard Business School possui um campus em uma economia emergente? Há planos de oferecer cursos no Brasil?

Apesar de existirem muitas instituições com a meta de expandir seus campi para outros países, nossa escola não tem planos nesse sentido. Queremos expandir nosso alcance intelectual. Isso significa ter uma presença modesta [fora da sede nos Estados Unidos] e desenvolver relações no exterior para conduzir pesquisas. Também oferecemos cursos de educação executiva em alguns lugares, mas não de forma permanente. Nossas instalações em Xangai faz parte de uma estrutura da universidade mais ampla disponível para professores e estudantes de Harvard. Estamos fazendo uma experiência semelhante na Índia no próximo ano.
A escola promove ou encoraja programas de ex-alunos? Se sim, como e por quê?

Temos 70 mil alumni, sendo 622 do Brasil. Trabalhamos para permanecer influentes nas suas vidas depois que eles saem de Harvard. Nosso objetivo é permanecermos como um recurso relevante para que eles se desenvolvam profissionalmente.

O senhor poderia descrever uma aula típica na escola?

Não há uma aula típica. Em termos de espaço físico, as salas de aula são únicas. São equipadas com o que há de mais novo em tecnologia. Dessa forma, o professor pode mostrar suas apresentações, navegar pela internet ou mesmo chamar pelo Skype um CEO que está em algum lugar do planeta. Nosso maior diferencial é a forma como lecionamos: o método dos casos. Em todas as aulas, o papel do professor é facilitar a discussão entre os estudantes, trabalhando para que todos saiam da aula com uma compreensão profunda do desafio enfrentado no caso de negócios estudado e como o líder tomou sua decisão.

fonte: http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,EMI255279-16356,00-NOTA+BOA+NAO+E+O+SUFICIENTE+PARA+NITIN+NOHRIA+REITOR+DA+HARVARD+BUSINESS+SC.html