terça-feira, dezembro 30, 2014

 Jogando com a educação

Marcelo Freitas

Seja como projeto, negócio ou processo, a educação está diante de uma realidade que a coloca frente a frente com inúmeros desafios. E ao invés de olhar a situação como ameaça, prefiro ver o leque de oportunidades que se descortina. Um relatório[1] sobre tendências, cujo trecho transcrevo a seguir, apresenta a realidade do ponto de vista empreendedor, ou seja, como negócio:

“Até o momento, muitos consumidores das Américas do Sul & Central se resignaram com a falta de acesso a novas ideias, conhecimento e educação formal e de qualidade; que, para a maioria dos cidadãos, tem um custo muito elevado.

Mas a realidade está mudando: o mundo digital colocou uma quantidade infinita de informação ao alcance de todos; os empreendedores se tornaram os novos “superstars”; e a nova e mais bem educada classe-média agora busca desenvolvimento e realização pessoal continuada.

Dois sinais dos tempos:

Em comparação com os consumidores internacionais, os consumidores das Américas do Sul & Central são os que mais valorizam o ensino superior: 94% dos brasileiros acreditam que o acesso ao ensino superior é vital; seguidos por 92% dos mexicanos, 92% dos chilenos e 91% dos venezuelanos – contra a média global de 78%. (Nielsen, setembro de 2013)

6 entre os 10 países em que os consumidores estão mais inclinados a comprar produtos e serviços produzidos por empresas que apoiam a educação se concentram nas Américas do Sul & Central (Colômbia: 90%, Brasil e Venezuela: 88%, Peru: 87%, Chile 83%). (Nielsen, setembro de 2013)”.

Educação, portanto, é a oportunidade da vez e os consumidores estão ávidos por qualidade e inovação. Eis aí um mercado e tanto para quem deseja navegar em oceanos azuis. E de olho nele estão novos entrantes, como as empresas de entretenimento e tecnologia. Gameficação e MOOC’s não estão aí por acaso.

Por outro lado, reconhecemos que a oferta de serviços educacionais, tanto no seu formato quanto no conteúdo, já não mais atende às expectativas da sociedade em franca mudança de paradigmas. Algumas das principais premissas desta nova realidade educacional já apresentamos em palestras e artigos anteriores, mas não custa nada lista-los aqui:

·        Dos horários fixos para as atividades dinâmicas;
·        Dos conhecimentos adquiridos dentro da sala de aula para aqueles obtidos fora da escola;
·        Do conhecimento teórico ao conhecimento aplicado na prática;
·        De respostas certas às perguntas abertas;
·        De problemas fictícios para os desafios reais;
·        Da aprendizagem passiva para uma participação ativa;
·        De aprender com a cabeça para aprender com o corpo inteiro;
·        De trabalhos individuais para a solução de problemas em conjunto;
·        Do professor como especialista onisciente para o professor como facilitador;
·        Da sala de aula formal a oficina experimental.

Diante de todo esse cenário, tenho apresentado aqui neste espaço algumas experiências inovadoras que acontecem mundo afora, sejam elas em escolas particulares, fundações, projetos de empresas ou na própria escola pública.

Uma delas, que considero interessante por unir várias das características e tendências citadas anteriormente, é o da Quest to Learn (Q2L).

Quest to Learn é um colégio público de Nova York. É, nas palavras dos responsáveis pelo projeto, “a primeira escola do mundo a ter 100% de seu currículo baseado em jogos”. “Não somos uma escola dirigida pela tecnologia, mas pelo engajamento”, afirma Waniewski. Para o pesquisador Tupy, da USP, “os recursos eletrônicos não são o fim e sim um meio para desenvolver temas como gestão de projeto, inovação, empreendedorismo”[2]. A Quest to Learn vem tendo os melhores resultados do sistema educacional de Nova York, segundo a matéria da revista Época Negócios.

Como boa parte das pessoas já percebeu, o sistema escolar tradicional, baseado na memorização, molda crianças para empregos tradicionais. Com os games, o objetivo é prepará-las para trabalho em equipe, soluções criativas, gerenciamento do tempo e estímulo ao pensamento independente, padrões e necessidades das novas empresas.

Ao entrarem na escola, cartelas com dez mandamentos necessários para desenvolver soluções criativas e conviver com os demais membros da comunidade são distribuídas aos alunos. Veja quais são esses mandamentos:

  1. Todas as ideias podem ser melhoradas: Fique aberto às mudanças e às oportunidades de tornar suas ideias melhores.
  2. Diversidade cria equilíbrio: Ser diferente é ok. Suas características únicas ajudam a tornar a equipe mais forte.
  3. Vença e perca com elegância: A derrota dá oportunidade de melhora, a vitória comprova o acerto;
  4. Tenha respeito pelos próximos: Todos são importantes para a manutenção de uma comunidade coesa e equilibrada.
  5. Colaborar faz diferença: Duas cabeças pensam melhor que uma. Nós precisamos do apoio e das ideias dos outros para vencer.
  6. Entre no jogo: Não tenha medo de sujar as mãos! Aprenda a calcular os riscos e a planejar a sua estratégia.
  7. Experimente: Use sua imaginação e criatividade para inventar; use os recursos da escola para dar vida às suas ideias.
  8. Ninguém fica à margem: Todos devem lembrar um ao outro por que fazem parte da equipe e como são importantes para ela.
  9. Seja persistente: Defenda a ideia em que você acredita e não desista. Se você cair, levante-se e tente novamente.
  10. Lidere pelo exemplo: Demonstre o comportamento positivo que você gostaria de ver nos outros. “

Será que é tão difícil assim?




[1] http://trendwatching.com/pt/southcentralamerica/trends/5trends2014/
[2] http://epocanegocios.globo.com/Informacao/Acao/noticia/2013/12/uma-escola-feita-so-de-recreio.html

quinta-feira, outubro 16, 2014

mundo digital

Brasil digital

Como será o Brasil digital nos próximos 10 anos?  De acordo com previsão de uma pesquisa online com 505 adultos brasileiros, de ambos os gêneros e com idades entre 21 e 65 anos.
Fonte: Estudo da MSI e McAfee.


terça-feira, outubro 14, 2014

Empreender

Ensinar a empreender

Esse artigo foi bastante comentado na revista Gestão Educacional. O que você acha? Clique aqui e acesse o conteúdo da publicação.




Tecnologias e Competências

Tecnologias, saberes e competências.
Por Marcelo Freitas

Muito se fala a respeito da educação para o século XXI. Novidades e avanços, em particular no campo da tecnologia e dos seus impactos na vida das pessoas, impulsionam ainda mais o debate em torno do tema. Ao mesmo tempo, a falta de sintonia e o descompasso entre a vida real e a entidade “escola” fica cada vez mais patente. Alunos de todos os níveis consideram a instituição educacional “um saco”, um lugar onde não gostariam de estar.
 
Trazendo luz ao debate, a Fundação Telefônica ouviu milhares de especialistas mundo afora e publicou, recentemente, o resultado dessa pesquisa. O trecho a seguir resume as principais conclusões e merece ser destrinchado com refinamento:

“A sociedade de hoje requer indivíduos criativos, empreendedores, críticos, familiarizados com o mundo digital, que se comuniquem bem e que se adaptem a ambientes diversificados de trabalho.”

Comecemos. A sociedade de hoje...” Veja que estamos falando deste momento, especificamente. Entretanto, se a situação já não é das melhores, é ainda mais complexa se nos lembrarmos de que a educação, e notadamente, o conhecimento gerado hoje, deverá ser usado ao longo da vida, numa sociedade que sequer conhecemos. Trata-se de preparar pessoas para um mundo com desafios ainda maiores.

Continuando: “...requer indivíduos criativos, empreendedores, críticos...”. Se confrontarmos esses quesitos com o que encontramos nas nossas escolas atualmente, entenderemos de imediato a razão pela qual os alunos preferem estar em outro lugar ao invés das salas de aula. Nelas nos defrontamos com um volume excessivo de conteúdos (maioria deles desconectados da realidade prática dos alunos), onde não há espaço para a criação e as descobertas. Tudo já vem pronto e embalado. Ao aluno cabe, na grande maioria das vezes, apenas decorar. Sequer imagina onde, no seu cotidiano, aquilo lhe será útil. Ao exercitar o lado crítico em relação a tudo isso, ele apenas é repreendido pelo professor, por estar atrapalhando a aula e questionando as verdades absolutas que lhe são repassadas. Inútil, portanto, remar contra a maré. Nessa situação, o aluno se vê tolhido do desenvolvimento da habilidade que lhe será, esta sim, tão importante na vida.

A outra habilidade, a de empreender, igualmente passa longe das carteiras das escolas. O tema, entretanto, começa a despontar como uma possibilidade interessante para compor os currículos. Recentemente, desenvolvemos todo um projeto voltado para o desenvolvimento de habilidades empreendedoras, sob demanda de uma grande rede de educação. O mesmo aconteceu com uma escola de Belo Horizonte para a qual trabalhamos. Ela inseriu a disciplina como módulo, dentro do próprio currículo regular, em algumas das suas séries. Agora, mais que isso, a estamos assessorando para que as habilidades empreendedoras tenham seus fundamentos disseminados desde a educação infantil. Um avanço que só está se tornando realidade porque a direção da escola resolveu, ela própria, ser crítica, criativa e empreendedora.

Seguindo, temos “...familiarizados com o mundo digital...”. Aí a enorme trombada com a estrutura vigente nas escolas. O grande dilema é em relação aos professores. Uma visão arcaica e corporativista, fomentada muitas vezes pelos organismos representativos da categoria, torna a missão mais árdua. Do outro lado, é bom lembrar, os alunos já são familiarizados com o mundo digital. E tendem a ser, naturalmente, cada vez mais, pois já são parte de um mundo conectado. A questão fundamental é, portanto, tornar professores, lideranças e gestores também familiarizados com esse universo. Se a distância entre as gerações fortalece a dificuldade, entretanto, as tecnologias estão cada vez mais amigáveis e a sua utilização requer apenas um pouco de abertura pessoal. Há dez anos previ, em um artigo, a introdução do professor holográfico nas salas de aula. Não estamos longe disso. E se pensarmos no futuro dos nossos alunos, esta será, com toda certeza, a realidade do ambiente tecnológico por onde transitarão.

Voltando ao enunciado, temos  “...que se comuniquem bem e que se adaptem a ambientes diversificados de trabalho.” A comunicação é matéria-prima para a aquisição de conhecimentos, habilidades e competências, tanto agora quanto ao longo deste século. Uma recente pesquisa[1] promovida pela Corporate junto aos gestores e lideranças educacionais apontou a Comunicação Interna (71,43%) como a sua principal preocupação, seguida de “baixa qualidade dos profissionais” (57,14%) e “Liderança” (42,86%). A pergunta natural é: como desenvolver pessoas que se comunicam bem quando a própria estrutura da escola não é eficiente nesse quesito?

O mesmo raciocínio vale para o a adaptação a “ambientes diversificados de trabalho”. A escola mantém, por séculos, a mesma estrutura de ambientação, com salas de aula padronizadas, carteiras em fila, pátios para recreio, auditórios e por aí vai. Na era dos ambientes Wi-Fi e dos smartphones com acesso à internet, laboratórios de informática ainda são construídos, como sinal “de vanguarda”. Daí... sem mais comentários...

A mensagem subliminar é que tanto as estruturas operacionais das escolas, quanto a capacitação e preparo das principais lideranças e docentes, necessitam urgentemente de uma ruptura nas suas premissas e nas metodologias existentes. Para tanto, mais que nunca as direções educacionais precisam romper com modelos que já exauriram e incrementar ações que levem à essa nova perspectiva educacional. Nesse aspecto, cursos e programas de capacitação[2] merecem atenção, em especial aqueles voltados para as lideranças e educadores.

Da mesma maneira, é importante introduzir novas perspectivas de desenvolvimento para os alunos, como projetos de empreendedorismo[3] e outros que façam aflorar suas habilidades e tornar a escola um lugar mais prazeroso para estar.

Essas são reflexões importantes e pertinentes ao atual estágio em que a educação se encontra. Caro gestor, sua hora de empreender é agora.



[1] Pesquisa com respostas múltiplas (dados relativos a 08/04/2014)
[2] A Corporate preparou alguns cursos para lideranças, gestores e educadores visando o desenvolvimento de competências em áreas como comunicação interpessoal, gestão de pessoas e fundamentos de estratégia educacional. Entre em contato conosco pelo email: contato@corporateconsultoria.com.
[3] A Corporate, em parceria com a Sapien, desenvolveu ferramentas para o desenvolvimento de empreendedorismo nas escolas. Entre em contato conosco pelo email: contato@corporateconsultoria.com e conheça essas novidades.

quarta-feira, julho 23, 2014

Projetos e games na pauta
Marcelo Freitas

Uma das grandes questões que desafiam as escolas de hoje é, sem dúvida, encontrar um novo caminho para o processo de ensino e aprendizagem. No mundo inteiro, escolas e seus educadores trabalham para alinhar as metodologias aos novos tempos de informação Just in Time. Algumas dessas experiências, felizmente, já dão sinal de vida.

Imagine uma faculdade sem aulas, nem provas e na qual é possível se formar no tempo que os estudantes quiserem ou conseguirem? Ela existe nos Estados Unidos e atende pelo nome de College for America[1].
Para se formar nessa escola, uma instituição fundada em outubro de 2013 e ligada à Universidade do Sul de Nova Hampshire, os alunos precisam realizar projetos que comprovem que eles desenvolveram um conjunto de competências exigidas pelo programa. E isso ocorre somente através de interação on-line.

O projeto foi desenvolvido a partir do laboratório de inovação, criado pela universidade, para atender as pessoas que já estão no mercado de trabalho, mas sentem necessidade de melhorar sua formação para conquistar melhores oportunidades, uma realidade também muito comum no Brasil, onde apenas 12% dos que têm 25 anos ou mais têm curso superior completo. Daí a flexibilidade.

Preocupada com o futuro da educação superior nos Estados Unidos, cujo modelo atual enfrenta dificuldades de financiamento (o volume de empréstimos estudantis supera o de créditos disponíveis) o projeto foi desenvolvido para ter o preço, como grande diferencial. A anuidade custa US$ 2.500, o que representa pelo menos a metade do que é cobrado por cursos semelhantes em instituições voltadas a alunos de menor renda, os chamados community colleges. Para alcançar esse patamar, o projeto recebeu apoio e financiamento da Fundação Bill & Melinda Gates, o que  permitiu fundar a nova faculdade.

Este é outro bom exemplo para os nossos gestores educacionais. Ele demonstra a necessidade de abertura e envolvimento da escola com outros agentes da sociedade, no sentido de financiar as suas operações, reduzindo-se a dependência das mensalidades.

Como os alunos não têm obrigação de assistir a aulas, algumas pessoas que participaram da fase piloto, que começou em janeiro de 2013, já foram diplomados. Outras, com menos disponibilidade ou mais dificuldades, poderão demorar mais do que tempo considerado usual. O referido diploma, ao qual os alunos têm acesso na College for America, é um “Associate Degree”, uma formação sem equivalência no ensino superior brasileiro, que compreende um curso de formação de tecnólogos (também correspondente aos dois primeiros anos de um bacharelado nos EUA).

A participação da College for America ainda é insignificante no contexto das mais de 1.000 community colleges, que atendem 13 milhões[2] de alunos nos EUA, mas seu ritmo de crescimento é acelerado. Em junho de 2012, quando o laboratório que inventou o modelo foi criado, quatro pessoas trabalhavam nele. Hoje, com cerca de 50 funcionários, atende 500 alunos, número que cresce todos os meses. Por enquanto, só é possível participar do programa quem for indicado por uma empresa ou associação comunitária, que normalmente também fornece um auxílio para se pagar pelo curso. Mas a ambição dos criadores é transformá-lo num modelo que possa ser replicado e diversifique o ensino superior nos EUA.

A ideia, e a operação, são interessantes. Os estudantes da College for America têm acesso a um sistema on-line onde encontram instruções, recursos, fontes e indicações de onde devem pesquisar o que não sabem ainda para realizar os projetos, assim como as competências que precisam cumprir e os critérios pelos quais serão avaliados. Cada um deles também conversa desde o início com um tutor, que o ajuda a definir e planejar os projetos a serem feitos, tira dúvidas e tenta antecipar dificuldades que podem surgir.

Para receber o diploma, é preciso realizar de 20 a 55 projetos, dependendo da complexidade de cada uma dessas atividades. Alguns são menores, como escrever uma redação, e outros maiores, como uma tarefa de história da arte em que os alunos devem criar uma exposição virtual de um museu e ensinar como observar os trabalhos artísticos, como se fossem um guia. Ao todo, os estudantes devem comprovar 120 competências em áreas como comunicação, pensamento crítico e negócios.

Uma vez concluídos, os projetos são submetidos a uma comissão que os analisa a partir de rubricas em até 48 horas. Isso significa que os avaliadores observam uma série de critérios que, por sua vez, correspondem às competências exigidas. Se os alunos atingem o esperado, seguem em frente. Se não, recebem um relatório com comentários sobre cada critério.

Esse modelo de avaliação, totalmente focado em projetos, deixa bem claro para os alunos o que é exigido deles e o que eles devem cumprir.

O conceito de aprendizagem por projetos não é novo. Entretanto, nem sempre é bem utilizado e avaliado. Um projeto desenvolvido para o curso “Fundamentos de Estratégia para Gestores Empreendedores”[3], tem inovado nesse sentido. Nele os participantes trabalham conceitos de estratégia empreendedora utilizando um simulador, no formato de game. Assim, ao mesmo tempo em que aprendem os conceitos, os participantes os colocam em prática e verificam quais foram os resultados produzidos por suas estratégias, a partir de indicadores e metas contidos no game e definidos pelos participantes.

Cursos como este e ideias como a da College of America são uma boa maneira de educadores e gestores educacionais explorarem novos modelos e usos de projetos e metodologias, que podem mudar o rumo dos processos de ensino e aprendizagem.



Artigo publicado pela Revista Linha Direta

[1] Fonte: Porvir (fragmentos)
[2] Fonte: Dados da AACC (American Association of Community Colleges), de 2011.
[3] Curso oferecido na modalidade “in company” pelo Movimento Escola Responsável. Obtenha maiores detalhes através do email contato@escolaresponsavel.com

quinta-feira, abril 17, 2014

Gestão de Talentos

Pesquisa mostra que a Holanda é o país que melhor sabe aproveitar seus talentos, enquanto Índia e China ficaram nas piores colocações

Fonte: http://epoca.globo.com/vida/vida-util/carreira/noticia/2014/04/profissionais-brasileiros-precisam-se-badaptar-melhorb-diz-estudo-do-linkedin.html

Você tem a capacidade de se adaptar às necessidades do mercado de trabalho? Um novo estudo publicado pela cosultoria PwC, a pedido da rede social LinkedIn, avaliou o talento de adaptação de profissionais e das empresas em 11 países diferentes, entre eles o Brasil. O estudo mostra que saber usar suas habilidades em diferentes cenários e situações pode melhorar a economia brasileira em até US$ 11 bilhões.

Segundo o estudo, a falta de adaptação atrapalha a vida das empresas na hora de encontrar novos talentos, e prejudica a carreira de profissionais, que têm mais dificuldade de encontrar cargos promissores. A Holanda é o país que melhor sabe aproveitar seus talentos, enquanto Índia e China ficaram nas piores colocações no ranking da PwC.

O que os profissionais brasileiros podem fazer para melhorar sua habilidade de adaptação? Segundo o estudo, os profissionais devem olhar além das fronteiras da sua carreira, se antecipar no desenvolvimento de novas habilidades (como aprender uma segunda língua), e construir uma rede de contatos onde possa mostrar suas habilidades.
Confira os principais resultados do estudo.




segunda-feira, março 17, 2014

Jogando com a educação

Marcelo Freitas

Seja como projeto, negócio ou processo, a educação está diante de uma realidade que a coloca frente a frente com inúmeros desafios. E ao invés de olhar a situação como ameaça, prefiro ver o leque de oportunidades que se descortina. Um relatório[1] sobre tendências, cujo trecho transcrevo a seguir, apresenta a realidade do ponto de vista empreendedor, ou seja, como negócio:

“Até o momento, muitos consumidores das Américas do Sul & Central se resignaram com a falta de acesso a novas ideias, conhecimento e educação formal e de qualidade; que, para a maioria dos cidadãos, tem um custo muito elevado.

Mas a realidade está mudando: o mundo digital colocou uma quantidade infinita de informação ao alcance de todos; os empreendedores se tornaram os novos “superstars”; e a nova e mais bem educada classe-média agora busca desenvolvimento e realização pessoal continuada.

Dois sinais dos tempos:

Em comparação com os consumidores internacionais, os consumidores das Américas do Sul & Central são os que mais valorizam o ensino superior: 94% dos brasileiros acreditam que o acesso ao ensino superior é vital; seguidos por 92% dos mexicanos, 92% dos chilenos e 91% dos venezuelanos – contra a média global de 78%. (Nielsen, setembro de 2013)

6 entre os 10 países em que os consumidores estão mais inclinados a comprar produtos e serviços produzidos por empresas que apoiam a educação se concentram nas Américas do Sul & Central (Colômbia: 90%, Brasil e Venezuela: 88%, Peru: 87%, Chile 83%). (Nielsen, setembro de 2013)”.

Educação, portanto, é a oportunidade da vez e os consumidores estão ávidos por qualidade e inovação. Eis aí um mercado e tanto para quem deseja navegar em oceanos azuis. E de olho nele estão novos entrantes, como as empresas de entretenimento e tecnologia. Gameficação e MOOC’s não estão aí por acaso.

Por outro lado, reconhecemos que a oferta de serviços educacionais, tanto no seu formato quanto no conteúdo, já não mais atende às expectativas da sociedade em franca mudança de paradigmas. Algumas das principais premissas desta nova realidade educacional já apresentamos em palestras e artigos anteriores, mas não custa nada lista-los aqui:

·        Dos horários fixos para as atividades dinâmicas;
·        Dos conhecimentos adquiridos dentro da sala de aula para aqueles obtidos fora da escola;
·        Do conhecimento teórico ao conhecimento aplicado na prática;
·        De respostas certas às perguntas abertas;
·        De problemas fictícios para os desafios reais;
·        Da aprendizagem passiva para uma participação ativa;
·        De aprender com a cabeça para aprender com o corpo inteiro;
·        De trabalhos individuais para a solução de problemas em conjunto;
·        Do professor como especialista onisciente para o professor como facilitador;
·        Da sala de aula formal a oficina experimental.

Diante de todo esse cenário, tenho apresentado aqui neste espaço algumas experiências inovadoras que acontecem mundo afora, sejam elas em escolas particulares, fundações, projetos de empresas ou na própria escola pública.

Uma delas, que considero interessante por unir várias das características e tendências citadas anteriormente, é o da Quest to Learn (Q2L).

Quest to Learn é um colégio público de Nova York. É, nas palavras dos responsáveis pelo projeto, “a primeira escola do mundo a ter 100% de seu currículo baseado em jogos”. “Não somos uma escola dirigida pela tecnologia, mas pelo engajamento”, afirma Waniewski. Para o pesquisador Tupy, da USP, “os recursos eletrônicos não são o fim e sim um meio para desenvolver temas como gestão de projeto, inovação, empreendedorismo”[2]. A Quest to Learn vem tendo os melhores resultados do sistema educacional de Nova York, segundo a matéria da revista Época Negócios.

Como boa parte das pessoas já percebeu, o sistema escolar tradicional, baseado na memorização, molda crianças para empregos tradicionais. Com os games, o objetivo é prepará-las para trabalho em equipe, soluções criativas, gerenciamento do tempo e estímulo ao pensamento independente, padrões e necessidades das novas empresas.

Para conhecer um pouco mais, veja uma síntese do projeto, a seguir. Quem sabe você, caro leitor, não se anima e dá uma guinada na sua escola ou rede de ensino?

“Na Q2L não existem disciplinas como matemática, gramática ou história. Todos os assuntos são interligados em cinco matérias.

Missões e desafios (10 semanas)
Fase do chefe (2 semanas)

Wellness: a matéria “Bem-estar” é voltada para fazer os estudantes pensarem em saúde – física e mental. Além de missões com exercícios físicos individuais e coletivos, também trata de temas como alimentação saudável, condicionamento mental, relações sociais e saúde emocional.
The way things work: União de ciências e matemática. ‘Como as coisas funcionam’ faz de cada aluno um inventor. Algumas missões incluem desmontar aparelhos, entender como funcionam e remontá-los com modificações e aperfeiçoamentos.
Sports for the mind: Aqui se concentra a maior parte do material digital da escola. Além de criar seus próprios videogames, os alunos produzem vídeos e aprendem a conectar conteúdos de diversas áreas.
Codeworlds: As aulas de “Códigos” mostram as diversas formas de entender o mundo, pela união dos números da matemática, das letras e da forma como ambos se juntam a manifestações artísticas de músicas e pintura.
Being, space and places: História e Estudos Sociais são explorados por meio de material produzido pelos alunos, como histórias em quadrinhos, jogos de tabuleiro, teatro, cartas e textos de ficção.

Nas duas semanas de desafio final, os alunos precisam reunir os conhecimentos aprendidos nas missões para convencer os professores de que podem passar de fase. “

Ao entrarem na escola, cartelas com dez mandamentos necessários para desenvolver soluções criativas e conviver com os demais membros da comunidade são distribuídas aos alunos. Veja quais são esses mandamentos:

  1. Todas as ideias podem ser melhoradas: Fique aberto às mudanças e às oportunidades de tornar suas ideias melhores.
  2. Diversidade cria equilíbrio: Ser diferente é ok. Suas características únicas ajudam a tornar a equipe mais forte.
  3. Vença e perca com elegância: A derrota dá oportunidade de melhora, a vitória comprova o acerto;
  4. Tenha respeito pelos próximos: Todos são importantes para a manutenção de uma comunidade coesa e equilibrada.
  5. Colaborar faz diferença: Duas cabeças pensam melhor que uma. Nós precisamos do apoio e das ideias dos outros para vencer.
  6. Entre no jogo: Não tenha medo de sujar as mãos! Aprenda a calcular os riscos e a planejar a sua estratégia.
  7. Experimente: Use sua imaginação e criatividade para inventar; use os recursos da escola para dar vida às suas ideias.
  8. Ninguém fica à margem: Todos devem lembrar um ao outro por que fazem parte da equipe e como são importantes para ela.
  9. Seja persistente: Defenda a ideia em que você acredita e não desista. Se você cair, levante-se e tente novamente.
  10. Lidere pelo exemplo: Demonstre o comportamento positivo que você gostaria de ver nos outros. “

Será que é tão difícil assim?



Artigo publicado pela Revista Gestão Educacional / março-2014


[1] http://trendwatching.com/pt/southcentralamerica/trends/5trends2014/
[2] http://epocanegocios.globo.com/Informacao/Acao/noticia/2013/12/uma-escola-feita-so-de-recreio.html

quinta-feira, fevereiro 20, 2014

China

A Democracia ocidental está em cheque?

Ter a mente aberta deve ser a proposição de todo democrata. Pessoas que se abrem a novas ideias,  a novos argumentos. Enfim, pessoas que se permitem ponderar sobre verdades que até então não são questionadas. Ou pelo menos são aceitas em virtude de dogmas ou paradigmas existentes.

Assisti a esta palestra no TED e achei interessante a abordagem acerca do que entendemos como um dilema entre a democracia política e a democracia econômica. Interessante reflexão para quem quer pensar um pouco fora do quadrado. Não concordo com a opinião apresentada no vídeo, mas também não discordo dela, em virtude de ser embasada em dados e fatos. Clique no link abaixo e assista. Vale a pena. Depois me diga...você, o que acha?

http://www.ted.com/talks/lang/pt-br/dambisa_moyo_is_china_the_new_idol_for_emerging_economies.html

terça-feira, janeiro 07, 2014

Educação em 2013

O ano de 2013 no segmento educacional


Mais um ano se foi e com ele a rotina das escolas. Melhorias aqui e ali, ambiente mais tecnológico avançando gradativamente, educadores ainda meio perdidos sobre os caminhos a tomar e gestores educacionais diante de novos desafios.

Apesar do descompasso entre o ambiente educacional e o “mundo real”, agora encorpado também com o ambiente virtual, algumas experiências mais arrojadas começam a pipocar mundo afora. E isso é muito bom.

No meu entendimento, o atual cenário educacional nos remete a dois grandes desafios: entender o novo paradigma do processo de aprendizagem e incluí-lo no modelo educacional e, concomitantemente, tornar sustentável o modelo de negócios necessário a torná-lo realidade.

O advento do livre acesso ao conteúdo proporcionado pela tecnologia, tornou evidente o que todos já sabiam. Cada pessoa tem sua própria maneira de aprender. Uns pesquisando sozinhos, outros trabalhando em grupo. Alguns com tutoria, outros usando a criatividade. Somos diferentes. O grande desafio, portanto, é tornar a educação “sob medida” uma realidade.

Experiências nesse sentido estão acontecendo e mostrando que isso é possível. Partindo do pressuposto de que cada aluno tem necessidades diferentes e aprende de maneira própria, o projeto School of One[1], desenvolvido numa parceria entre o governo americano e empresas de ponta no segmento de tecnologia, tem proporcionado resultados de aprendizagem até 30% acima da média dos modelos convencionais.

Do outro lado do planeta, a “Young Foundation”, uma organização que se propõe apresentar um instrumental na condução do pensamento, ação e mudança social no Reino Unido em áreas como a educação, vem desenvolvendo o projeto denominado Escola Estúdio. Ele parte de constatações concretas baseadas em pesquisas. Através delas, os educadores locais constataram que um grande número de jovens:

·        Aprende melhor fazendo;
·        Aprende ainda mais, fazendo coisas “de verdade”;
·        E apresentam melhor rendimento quando trabalhando em grupo.

Com o projeto ainda em fase de adaptações, a percepção dos alunos que passaram pela experiência é de que, dessa maneira, o processo de aprendizagem é mais motivador e mais estimulante. A escola passou a ser um lugar de desafios e conquistas. Um lugar mais atraente e muito mais prazeroso, portanto.

O resultado é que, dois anos depois de implantado o projeto, os alunos que estavam nos grupos de pior performance saltaram para o topo da lista e engordaram o quartil mais alto.

Ainda no Reino Unido, a Steve Jobs School tem trabalhado com a introdução de ferramentas tecnológicas dentro das salas de aula de uma maneira contextualizada e eficaz.

Na Suécia, uma empresa que opera cerca de trinta escolas ameaça revolucionar completamente o modelo convencional. Os centros docentes de Vittra não são escolas usuais. Essa rede de escolas considera que o modelo educacional deve mudar completamente e, por isso, mesmo propuseram acabar com as salas de aula. O objetivo é incentivar a criatividade dos alunos e tornar concreto o fato de que qualquer lugar é bom para se aprender.

Os alunos dessas escolas não são regidos pelos mesmos princípios que o sistema educacional convencional, nem estão organizados em torno de temas e lições de vida. Sua filosofia está comprometida com a tecnologia intensiva, educação bilíngue e aprendizagem baseada na experiência. Para fechar, propõe um sistema educacional capaz de recriar ambientes de aprendizagem baseadas na vida real.

Embora essas e outras experiências estejam dando partida a uma mudança de conceitos educacionais, é fundamental rever os paradigmas também no negócio chamado escola. Nesse aspecto, o ano de 2013 introduziu uma nova realidade com a qual, por anos, já sinalizávamos. As escolas entraram, definitivamente, numa era de competição global. O tempo em que o seu concorrente era a escola ao lado, meu caro gestor, está indo embora. Acredito que a grande “novidade” no ambiente educacional são os MOOC’s – Massive Open Online Courses.

Essa modalidade introduz, definitivamente, a concorrência em escala mundial. Tanto as escolas, quanto seus profissionais, estarão diante de fortes adversários na arena de negócios e no próprio mercado de trabalho. O professor da sua escola concorre agora com aquele profissional da Harvard, Yale, MIT...

Os MOOC’s colocam à disposição de pessoas do mundo inteiro cursos de altíssimo nível a custos irrisórios ou, em sua maioria, gratuitos. E é aí que surge a outra variável: sustentabilidade. Como deve ser o modelo de negócios para sustentar esse novo tipo de empreendimento? Como concorrer com produtos educacionais de alto valor agregado que nada custam e ainda tornar a escola rentável?

Meus caros gestores e educadores sinto dizer-lhes que a chapa está esquentando... que venha 2014!



* Comentário escrito para a edição especial da Revista Linha Direta/dez 2013


[1] www.schoolofone.org