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sábado, dezembro 23, 2017

Professores empreendedores

A Educação precisa de “professores caras de pau”



Quem não tem um amigo cara de pau, que atire a primeira pedra. E quem disser que não tem, não sabe o que está perdendo. É bem provável que na sua adolescência, você já tenha passado por aquela situação de estar numa balada e, de repente, cruzar o olhar com aquela pessoa que faz disparar os batimentos cardíacos. Acontece que você não a conhece e, portanto, não sabe bem como abordá-la.
Mas eis que surge aquele seu amigo mais desinibido, que a turma chama de “cara de pau”. Embora ele também não a conheça, sem a menor cerimônia, vai lá, se apresenta pra ela e, do nada, faz a ponte entre você e a pessoa. Ele não tem receio de arriscar. Nem pensa que pode ser ridicularizado. Ele se apresenta, coloca a situação e, com isso, ganha a oportunidade de conquistar a simpatia da pessoa.

O que tem isso a ver com a Educação e os professores? Eu explico.

Na sala de aula muitas vezes temos uma situação um pouco semelhante. Mudar as práticas tradicionais de ensino continua a ser o principal desafio dos líderes de tecnologia educacional, mas a implementação de novas práticas digitais e o uso da tecnologia na sala de aula não é possível sem o apoio dos professores. Portanto, motivar os professores a mudar suas práticas tradicionais de ensino é, hoje, uma prioridade.

Uma experiência levada a termo pela antropóloga Lauren Herckis, na Carnegie Mellon University, uma instituição americana líder na pesquisa educacional, buscou identificar por que os professores relutavam em abandonar seus métodos tradicionais para adotar novas práticas apoiadas pela tecnologia. Durante mais de um ano, a Dra. Herckis observou os professores da Carnegie Mellon, numa maratona que incluiu assistir a todas as reuniões acadêmicas e ler e-mails institucionais dos professores, de modo que pudesse, a partir daí, descobrir por que eles não estavam mudando seus estilos de ensino.


Depois desse exaustivo trabalho, a antropóloga descobriu, em primeiro lugar, que muitos professores e acadêmicos se agarram à sua própria ideia do que seja uma "boa educação", ou um “bom método de ensino”. A partir daí, sua conclusão foi surpreendente: os professores têm uma enorme necessidade de se apegar e manter os seus próprios métodos porque têm muito medo de parecerem ridículos, na frente de seus alunos. Esse temor de serem ridicularizados faz com que não tentem algo novo.

Na verdade, é como se lhes faltasse aquela característica do amigo cara de pau, que não se preocupa em demonstrar suas dificuldades, para, a partir delas, construir uma ponte com seus alunos. Talvez essa postura tenha sido fruto de décadas a fio, onde o professor foi visto como um ser humano que tudo sabia e que, em hipótese alguma, poderia ter suas habilidades confrontadas. Ou não deveria mostrar suas vulnerabilidades.

Acontece que o mundo mudou e não houve muito tempo para que esses professores, oriundos de uma geração analógica, se adaptassem e atingissem a mesma destreza para lidar com toda essa tecnologia que seus alunos, das novas gerações. Esses já nasceram digitando e brincando em telas sensíveis ao toque. Aprenderam muitas coisas pelas mais diversas mídias, antes mesmo de colocarem os pezinhos na escola. E quando essas duas realidades foram então colocadas frente a frente, estabeleceu-se um choque entre culturas.

Um Relatório intitulado “Tendências na Aprendizagem Digital: Construindo capacidade e competência dos professores para criar novas experiências de aprendizagem para os alunos”, publicado pela Blackboard  e Project Tomorrow , se concentrou em avaliar a disposição dos professores para utilizar ferramentas digitais para transformar a aprendizagem. O relatório envolveu um universo de 38.000 professores, 29.000 pais e 4.500 administradores de escolas de ensino fundamental nos Estados Unidos, e apresentou opiniões sobre questões ligadas a aprendizagem digital, como parte do projeto de pesquisa Speak Up 2016 .

A partir dele, ficou patente aos líderes educacionais que o sucesso de qualquer iniciativa digital nas escolas depende da liderança do professor na sala de aula. Este relatório mostrou que as ferramentas, conteúdos e recursos digitais podem ajudar a elevar as competências dos professores. Também forneceu evidência do valor que a tecnologia pode trazer para as experiências de aprendizagem dos alunos.


É evidente que suas conclusões devem ser avaliadas com cautela, uma vez que se trata de um ambiente diferente do que temos no Brasil. Entretanto, em um mundo globalizado, é importante conhecer algumas das suas constatações, posto que poderão, em determinado momento, se repetirem por aqui.

Eis então as três principais conclusões desse relatório sobre tendências digitais de aprendizagem:

Os pais acreditam que o uso eficaz da tecnologia na sala de aula ajuda as crianças a desenvolver as habilidades necessárias para a vida adulta.
Hoje, o grande desafio, é motivar os professores para que alterem suas práticas tradicionais de ensino, e passem a usar a tecnologia na sala de aula.
Os professores que praticam a aprendizagem híbrida estão elevando os padrões de aprendizagem e estabelecendo novos processos que atendem às necessidades de todos os alunos.

Ao que parece, essas conclusões poderiam, muito bem, se aplicar à nossa realidade. E pelos seus resultados tudo indica que, em nome da melhoria da Educação, poderíamos ser todos nós, educadores, um pouquinho mais caras de pau, afinal, somos humanos e a educação se faz, principalmente, pela capacidade de nos colocarmos na posição de eternos aprendizes.

Fonte: Observatório de Innovación Educativa

Este artigo foi publicado pela Revista Linha Direta / 2017

segunda-feira, junho 26, 2017

Escolas incubadoras: ajudando ideias a dar frutos

Por Marcelo Freitas


Empreendedores de todas as idades sempre estão ligados em oportunidades para criar algo novo. Ideias não faltam, porém, o que nem sempre está disponível são os recursos e um ambiente propício para que elas floresçam. Esse ambiente envolve alguns requisitos como um bom networking, canais para se chegar ao mercado e mentorias adequadas.

Por isso mesmo, para aqueles que buscam transformar ideias em negócios, as universidades se constituem em verdadeiros paraísos. A questão é que nem todas perceberam o enorme potencial de disrupção que isso representa, e continuam estáticas. A boa notícia é que, em meio ao conjunto, algumas instituições perceberam a oportunidade e começam a repensar o seu modelo de negócios e sua estrutura. Algumas até já se propõem adotar modelos de gestão derivados de startups. Outras, por sua vez, organizam centros de empreendedorismo para funcionarem como incubadoras de projetos, oriundos de trabalhos dos alunos.

Sob esse viés, esses espaços potencializam a capacidade de formar equipes e desenvolver negócios, pois constroem redes que possibilitam, inclusive, levantar investimentos suficientes para avançar com os projetos e protótipos. Além disso, contam com suporte de professores e técnicos altamente qualificados, que ajudam a modelar os processos.

Embora iniciativas empreendedoras não dependam da universidade para florescer, este espaço de aprendizagem pode oferecer uma perna forte para sustentar a caminhada. E isso é bom para os dois lados, pois, do ponto de vista das instituições educacionais, surge a oportunidade de ocupar um espaço até então desprezado: o das incubadoras de negócios.

Daí que não será surpresa se mais e mais universidades em todo o país começarem a formar suas próprias incubadoras de empresas - criadouros para startups inovadoras - com espaço de escritório, mentores, financiamento e a oportunidade de contar com a diversidade de agentes envolvidos, sejam professores ou estudantes de diferentes disciplinas.

Embora as instituições de ensino superior sejam o ambiente mais propício a essa transformação, nas escolas de educação básica o modelo também pode ser uma ótima oportunidade de diferenciação. Novas estruturas, novos arranjos no modelo de negócios e uma visão moderna de gestão são os ingredientes necessários. Oficinas, capacitações, ferramentas tecnológicas e adoção de conceitos robustos são o caminho para fazer acontecer.

É com base nesse viés disruptivo e inovador que a Corporate , empresa sediada em Belo Horizonte, vem desenhando projetos de reestruturação para escolas e mantenedoras que busquem a sintonia com os novos tempos. Nesses programas a ênfase é trocar o “por quê?” pelo “Por que não?”.
Já pensou nisso? Por que não?

terça-feira, março 14, 2017

Movimento maker

Deixa que eu faço

por Marcelo Freitas


Nos anos 1960 o homem exibia todo o seu domínio tecnológico transmitindo, ao vivo, o primeiro pouso tripulado na lua. Lembro-me de ver o astronauta fincar a bandeira americana em solo lunar, em meio a uma imagem em preto e branco, salpicada de chuviscos.

Nesse mesmo período, passávamos horas entretidos na frente de um televisor à válvula, assistindo os seriados produzidos pelas grandes empresas cinematográficas de Hollywood, como Perdidos no Espaço e Terra de Gigantes. Naquela época, todas as famílias com melhor poder aquisitivo tinham uma máquina fotográfica, um toca discos e, para os mais abastados, uma filmadora super-8.

Nos anos de 1980, outro avanço colocava nas casas os videocassetes, e com eles a possibilidade de gravar programas diretamente da TV. Ainda dependíamos das produtoras e seus programas feitos para as multidões. Outro avanço veio com as filmadoras em VHS, o que já nos permitia fazer pequenas filmagens domésticas e gravar em vídeo eventos de família, substituindo as máquinas super-8.

Bastaram então duas ou três décadas mais para que a revolução tecnológica proporcionasse uma reviravolta global. O mundo experimentou um processo de mudança acelerada jamais visto. As produções, em formato digital, passaram a ser viáveis a qualquer pessoa e sua difusão tornou-se algo corriqueiro. Estávamos na era do consumo em massa dos conteúdos personalizados.

Esse ambiente revolucionário abriu espaço para que setores como o de Entretenimento e de Tecnologia se expandissem para mercados ainda pouco explorados, ou de lenta reação à inovação. Um deles, o educacional.

Quando se deu conta do tamanho da mudança, a escola tratou de se movimentar, esboçando uma reação a partir da introdução, nas salas de aula, de equipamentos eletrônicos como computadores, tablets e lousas eletrônicas. A grande questão passou a ser a falta de metodologias criativas e inovadoras capazes de aproveitar tudo o que o ambiente tecnológico permitiu disponibilizar.

Acontece, porém, que o mundo ainda continua em marcha acelerada, e isso também impacta nos hábitos e possibilidades aos quais as pessoas estão expostas. Entre essas pessoas, os alunos, jovens que em sua grande maioria nasceram, ou estão diretamente conectados, ao mundo virtual e tudo o que ele pode proporcionar. E isso impacta a escola frontalmente.

Uma das fortes tendências já detectadas, por exemplo, é a mudança no perfil do jovem, que passa de consumidor a produtor de conteúdos. Isso mesmo. Daí o título deste artigo.

O relatório da pesquisa Horizon Report: 2016 K-12 Edition, realizada pelo New Media Consortium (NMC) em parceria com o Consortium for School Networking (CoSN), traz previsões relativas à inserção das tecnologias emergentes no ensino fundamental e médio pelos próximos cinco anos. Uma das principais tendências sinalizadas para o curto prazo, refere-se justamente ao protagonismo do aluno na produção de conteúdo (“Students as Creators”). Isso quer dizer que os alunos deverão deixar de consumir os “enlatados e pasteurizados” materiais utilizados pelas escolas e redes de educação para assumirem a criação de seus próprios conteúdos, em escala cada vez maior. E como a escola está se preparando para isso? Como as metodologias podem aproveitar esse movimento criativo?
Nessa perspectiva, as expectativas quanto ao propósito da educação, e da escola, mudam muito, inclusive para alunos pequenos. Eles não querem ir para a escola para escutar os professores falando de coisas que eles podem acessar pela internet, ou mesmo pelos programas de TV a cabo. O que esperam é compreender como podem utilizar tudo aquilo que estão aprendendo. Ou documentar e compartilhar suas próprias experiências a respeito do tema em estudo.

Como consequência, surge outra tendência de longo prazo, sinalizada também pelo citado relatório, que é o redesenho da sala de aula, tanto para abrigar as novas tecnologias e metodologias de aprendizagem, quanto para aumentar o sentimento de pertença, por parte dos alunos.

Todas essas inovações sinalizam para a necessidade de aumentar a integração da escola com os outros aspectos da vida dos estudantes. Essa evolução da integração escolar revela-se fundamental para manter o interesse deles pelo aprendizado, que já não segue na mesma trilha conservadora da maioria das escolas, e tende a se distanciar dela cada vez mais.

Para lidar então, com esse viés de criar conteúdos e resolver problemas reais, tendo a tecnologia como ferramenta para acessar qualquer tipo de conhecimento necessário, é natural que o processo de aprendizagem colaborativa ganhe ainda mais força. Essa prática, além de engajar os alunos, também beneficia os educadores na promoção das atividades em grupo, desenvolvendo-se, e aumentando, suas capacidades interdisciplinares.

Importante, portanto, avaliar com critério e profundidade todas essas tendências, pois elas sinalizam a necessidade de incremento de inovações no segmento educacional, uma vez que apresentam novos desafios a superar. Alguns deles, como reduzir as defasagens e as disparidades socioeconômicas, faz reforçar a necessidade de promover uma educação individualizada. Nesse aspecto, os avanços da tecnologia proporcionam ferramentas eficazes, como é o caso das plataformas adaptativas. Elas têm se mostrado grandes aliadas, pois permitem a educadores entender as diferentes performances de alunos e escalar estratégias que podem ajudar a reduzir os problemas.

Finalmente, há de se estimular a busca por inovações visando gerar mudanças reais na educação, particularmente no desenvolvimento de pedagogias progressivas e estratégias de aprendizagem; na organização do trabalho de professores e sua relação profissional diante da escola e das famílias; na organização e na forma de entregar conteúdo e, mais que isso, de desenvolver competências. O desafio está colocado!

Hora portanto, de semear criatividade para, em breve, colher inovações.

(Artigo publicado pela revista Linha Direta/edição 227 - fev/2017)

terça-feira, maio 03, 2016

Educação disruptiva

Um modelo disruptivo de negócios para a escola

Marcelo Freitas



Não é de agora que venho batendo na mesma tecla: a escola precisa reconhecer que chegou ao seu limite, enquanto modelo de empreendimento, e que, portanto, é necessário repensá-lo como um todo.

Reconheço que tema é bastante complexo e por isso mesmo vou me dedicar aqui a explorá-lo na ótica da gestão, um ponto de vista ainda pouco abordado. E isso começa com uma avaliação do modelo de negócios e suas interfaces atuais.

Ao longo do tempo, o que vemos acontecer nas escolas é o que chamamos de overshooting, onde o investimento e os esforços necessários para inserir uma inovação já não são proporcionalmente percebidos, por parte do cliente e, portanto, não se revertem em “propensão a pagar” por ela. O que acontece, então, é que as organizações que lideram o segmento educacional se vêm presas nessa armadilha, investindo cada vez mais em inovações que não são acompanhadas de percepção de valor. Mais e melhor, mas do mesmo.

Essa emboscada abre espaço para uma nova situação, a inserção de inovações de outra natureza. Um produto, serviço ou modelo de negócios que pode, entre outras coisas, privilegiar camadas de consumidores que geralmente não podem consumir o produto atual. Quando isso acontece, a empresa que introduz esse tipo de inovação costuma ser geralmente ignorada pelas líderes do setor, por não representar uma ameaça ao seu domínio.

Acontece, porém, que as inovações disruptivas são baseadas em tecnologias emergentes e novos conceitos de negócios, gerando produtos e serviços mais alinhados às necessidades dos consumidores, oferecendo melhorias que, em determinado momento, passam a atrair também aqueles consumidores das empresas tradicionais, em função das vantagens de custo que apresentam. E é nesse momento que o castelo começa a ruir para as organizações tradicionais.

Ao olharmos pela janela, vemos uma sociedade cada dia mais conectada, onde processos de negócios são levados para plataformas digitais que se encarregam de facilitar a vida das pessoas. As inovações disruptivas surgem na esteira desse ambiente, seja para minimizar o trabalho, seja para aproximar fornecedores e consumidores, seja mesmo para criar novas experiências. Em suma, a tecnologia trata de sepultar velhos hábitos ou formas antiquadas de negócios e as inovações disruptivas são as protagonistas desse movimento. 

Mas o que é inovação disruptiva? O conceito (Disruptive Innovation) foi desenvolvido pelo professor da Harvard Business School, Clayton Christensen em 1995, e se refere ao processo no qual um produto ou serviço tem raiz, inicialmente, em simples aplicações na parte inferior do mercado para, em seguida, alcançar uma grande ascensão, podendo inclusive ultrapassar concorrentes já estabelecidos. A disrupção não se refere a implementar melhorias, mas a transformar um produto caro e sofisticado, de acesso limitado, como acontece com a escola particular, em algo rentável e acessível para um público muito maior.

Do ponto de vista empresarial, a inovação disruptiva geralmente exige um alto investimento inicial e produz um retorno financeiro mais demorado. Entretanto, a sua adoção permite que a empresa responsável se posicione de forma privilegiada no mercado, gerando um efeito multiplicador. Em síntese, a aposta na inovação disruptiva significa criar tecnologias, produtos e serviços mais baratos e acessíveis, que rompem com o status quo existente. Embora em muitos casos as margens de lucro sejam menores, ela tem o potencial de realizar uma revolução, deixando obsoleto quem antes era líder de mercado.

No caso das escolas é preciso entender as possibilidades de criação de valor, a partir dessa ótica. Se nos dispusermos a desconstruir o modelo de escola que conhecemos, podemos imaginar possibilidades bem interessantes a partir de sua cadeia de valores, basta fazer as perguntas certas. O que podemos fazer para tornar a vida das pessoas mais fácil? Como é possível usar a tecnologia para simplificar o produto/serviço e torná-lo mais acessível para todos?

Façamos um exercício mental. Esqueça o modelo e o formato de escola que você conhece. Pense apenas que existe uma demanda social, e mercadológica, no que diz respeito à necessidade das pessoas em adquirir competências, sejam elas habilidades, atitudes ou conhecimento. Sem dúvida alguma, você pode perceber de imediato que suprir essa necessidade pode ser feito de inúmeras maneiras, que não necessariamente ter que se deslocar para ir a um determinado local, cumprindo um determinado horário e se relacionando sempre com as mesmas pessoas. E que para isso você ainda tem que desembolsar um valor fixo, mensalmente, usando ou não o serviço da maneira que gostaria.

Imagine, ainda, que existe um conjunto de saberes que são definidos previamente e compartimentados para, então, serem “entregues” a você, dentro de um formato padrão. Mesmo que você não goste daquilo ou que não tenha a capacidade de absorver da maneira padronizada com que é entregue.

Ainda sonhando de olhos abertos, coloque-se na posição daquele que vai gerir esse negócio. Imagine que você deverá ter, sob contrato permanente, uma equipe de pessoas disponíveis para atender aos clientes e que essas pessoas também têm que se deslocar para um determinado local para cumprir suas tarefas, todos os dias. E mais, que essa equipe de colaboradores tenha sempre as mesmas tarefas e que, ao final do mês, receba sempre a mesma remuneração, independente da sua parcela de valor agregado ao cliente ou se comparado ao colega na mesma atividade. Tal raciocínio, de imediato, quebra a estrutura lógica na qual se apoia a escola atual, não é mesmo?

Então só pra iluminar, tente imaginar um local onde pessoas interessadas em adquirir suas competências possam se reunir, presencial ou virtualmente. Um local que apresente atividades durante todo o dia, nos mais variados formatos, delas podendo participar vários e distintos agentes, desde mestres a discípulos, passando por familiares e voluntários. Imagine poder marcar um horário de sua conveniência para participar de determinada atividade, presencial ou remotamente, em um espaço livre, onde a estrutura possa ser rapidamente modificada para atender à determinada atividade.

Imagine também que todo o manancial de conhecimento gerado naquelas atividades seja armazenado instantaneamente em arquivos de áudio, vídeo, textos, fotos etc. e depositados “in cloud”, de modo a ser acessado e consultado, posteriormente, de onde quer que você esteja.

Vislumbre também professores, tutores e facilitadores, autônomos ou agrupados em empresas prestadoras de serviços do conhecimento, a oferecer seus préstimos em tempo real, para uma ou mais instituições, sendo remunerados pelo valor agregado que proporcionam ou por suas participações nas atividades em curso. Essas contribuições tornam-se ainda mais relevantes na medida em que pudem ser buscadas pelos aprendizes a partir de dispositivos como smartphones ou tablets, em tempo real, agregando assim mais interação aos grupos de discussão (cocriação).  Xô hora-aula!

Imagine ainda que a escola poderá remunerar o trabalho desses profissionais na proporção de sua participação efetiva e geração de conhecimento que proporciona em cada um desses momentos. A nova lógica seria: O aprendiz paga somente pelo que usa e a escola remunera seus colaboradores seguindo essa mesma premissa.  Nessa perspectiva, a escola não mais emprega professores, ela paga pelo conhecimento agregado ao serviço que esses profissionais oferecem. E mais: os próprios aprendizes podem escolher com quem querem aprender, dentro do espectro de profissionais do conhecimento disponibilizado pela escola ou pela empresa que os congrega.

Essas empresas, no formato de uma plataforma digital, oferecem espaço para o cadastramento de professores que determinam quanto querem ganhar pela participação nos eventos cadastrados pelas escolas. Permite, também, que o aluno escolha com quem quer interagir na sua sessão de aprendizagem, com ele se conectando a partir do seu dispositivo móvel. Final das contas: O aluno paga à escola pelo tempo de sessão utilizado durante o mês, com os profissionais que escolheu (que podem estar em qualquer lugar, e não necessariamente na escola), e a escola paga à empresa, ou ao profissional, pela utilização das suas competências associada ao tempo despendido nas sessões de aprendizagem dos seus alunos.


Veja que são modelos de negócios muito diversos daqueles que hoje temos. Mas é assim que as inovações disruptivas acontecem. O importante nesse momento é favorecer a introdução de novos paradigmas no sistema educacional, estimulando o surgimento e ampliação das novas tecnologias e de metodologias inovadoras. E se acharem interessante, podem se utilizar das ideias apresentadas no texto. Elas são a minha parcela de contribuição no processo de cocriação.

(artigo publicado pela revista Gestão Educacional /2016)

quinta-feira, setembro 17, 2015

Agregar valor

A ordem é agregar valor



Recentemente, de maneira mais intensa, um debate tem sido travado em muitas instâncias da nossa sociedade e em especial no segmento educacional. Trata-se da adoção de conceitos como a meritocracia e a gestão por competências. Há quem os defenda, assim como existe aqueles que os repudiam. Não entrarei nesse mérito, pois tomei esses dois temas apenas para levantar a bola. 

Entendo que eles reportam a algo ainda maior, que vem se assumindo como premissa em todas as esferas, tanto profissionais quanto empresariais. É o conceito de Valor Agregado, ou em outras palavras, a maneira pela qual as empresas e as pessoas agregam valor ao que fazem.

Estamos numa época em que os produtos e serviços são escolhidos sob a métrica comparativa daquilo que proporcionam de satisfação aos seus consumidores. Esses, por sua vez, tomam suas decisões de compra cada dia mais suportadas naquelas características que tornem completa sua experiência e ofereçam um algo mais, em relação aos concorrentes. Essa dinâmica, e o reflexo dela, impactam tanto as empresas quanto os profissionais. Basta olhar o mercado de trabalho. Nele os processos seletivos estão mais exigentes, com valorização crescente daqueles que contribuem para além do esperado, agregando valor ao trabalho contratado.

De maneira sucinta, as perguntas recorrentes são: Como posso agregar valor ao serviço que ofereço? Como buscar diferenciais competitivos que coloquem esta instituição na preferência dos clientes?
Penso que para obtermos boas respostas a essas perguntas é preciso, antes de tudo, desbloquear os modelos mentais existentes. Explico: imaginemos a empresa como uma instituição que, na sua atividade rotineira, promove o conhecimento. Desenvolve pessoas. Ensina saberes. No fundo, ela também "presta serviços" de desenvolvimento de pessoas utilizando o trabalho como uma tecnologia educacional baseada em métodos on the job.

Veja caro leitor, que olhando a empresa sob essa ótica, muitas coisas novas vão aparecer no horizonte. Surge, por exemplo, a possibilidade de ter todo o quadro de profissionais com potencial para oferecer serviços de consultoria e treinamento às empresas e pessoas do entorno, permitindo com isso o ingresso de receitas marginais, abrindo também a oportunidade de ganhos adicionais aos colaboradores, agentes prestadores desses serviços ofertados. Uma ação desse tipo amplia a perspectiva da empresa se integrar à vida da comunidade onde se insere e participar ativamente do seu desenvolvimento. Valor agregado para a empresa, a comunidade e o colaborador!

Ela também permite alargar o horizonte dos profissionais, tornando suas atividades mais variadas, pois a exploração de suas competências se dará em diversas frentes: ensinando, participando de projetos comunitários, dando treinamento para as empresas e pessoas da comunidade. Valor Agregado!

Ainda em relação ao colaborador, tal situação se apresenta como condição excepcional para ampliar sua carteira de competências profissionais, a partir da obtenção de saberes adicionais, da convivência com situações reais de aplicabilidade dos conteúdos que ministra e da ampliação de seu network.  E tem mais. Permite aumentar suas receitas financeiras, tanto a partir de trabalhos de consultoria e prestação de serviços à comunidade, como também através de salários mais encorpados na própria empresa, lembrando que ela tem seu leque de receitas ampliado pela oferta de serviços que envolvem conhecimento, aprendizagem e ensino. Valor agregado!

É possível, ainda, adicionar valor à empresa, incorporando práticas de compartilhamento na capacitação de pessoas e na formação continuada. Empresas de uma mesma região podem dividir custos de treinamento de seus profissionais a partir do rateio na contratação dos cursos e na criação de redes colaborativas. Esse tipo de ação amplia a oferta de mão de obra qualificada no mercado e contribui para a empregabilidade dos profissionais. Valor agregado!


E é diante dessa busca pela criação de valor que a meritocracia e a gestão por competências se encaixam. Esses conceitos contribuem grandemente para estimular as pessoas a desenvolverem suas fontes de geração de valor e as contribuições que podem oferecer, sendo, ao mesmo tempo, reconhecidas por isso. Entendo que é nessa perspectiva que as discussões acerca da validade, ou não, da adoção de modelos de gestão de pessoas baseados em ferramentas modernas devem ser colocados. 

A empresa não é uma ilha e, portanto, deve caminhar em consonância com o ambiente que a rodeia. Agregar valor pela geração de conhecimento somente eleva a importância da educação no desenvolvimento da sociedade. 

terça-feira, outubro 14, 2014

Tecnologias e Competências

Tecnologias, saberes e competências.
Por Marcelo Freitas

Muito se fala a respeito da educação para o século XXI. Novidades e avanços, em particular no campo da tecnologia e dos seus impactos na vida das pessoas, impulsionam ainda mais o debate em torno do tema. Ao mesmo tempo, a falta de sintonia e o descompasso entre a vida real e a entidade “escola” fica cada vez mais patente. Alunos de todos os níveis consideram a instituição educacional “um saco”, um lugar onde não gostariam de estar.
 
Trazendo luz ao debate, a Fundação Telefônica ouviu milhares de especialistas mundo afora e publicou, recentemente, o resultado dessa pesquisa. O trecho a seguir resume as principais conclusões e merece ser destrinchado com refinamento:

“A sociedade de hoje requer indivíduos criativos, empreendedores, críticos, familiarizados com o mundo digital, que se comuniquem bem e que se adaptem a ambientes diversificados de trabalho.”

Comecemos. A sociedade de hoje...” Veja que estamos falando deste momento, especificamente. Entretanto, se a situação já não é das melhores, é ainda mais complexa se nos lembrarmos de que a educação, e notadamente, o conhecimento gerado hoje, deverá ser usado ao longo da vida, numa sociedade que sequer conhecemos. Trata-se de preparar pessoas para um mundo com desafios ainda maiores.

Continuando: “...requer indivíduos criativos, empreendedores, críticos...”. Se confrontarmos esses quesitos com o que encontramos nas nossas escolas atualmente, entenderemos de imediato a razão pela qual os alunos preferem estar em outro lugar ao invés das salas de aula. Nelas nos defrontamos com um volume excessivo de conteúdos (maioria deles desconectados da realidade prática dos alunos), onde não há espaço para a criação e as descobertas. Tudo já vem pronto e embalado. Ao aluno cabe, na grande maioria das vezes, apenas decorar. Sequer imagina onde, no seu cotidiano, aquilo lhe será útil. Ao exercitar o lado crítico em relação a tudo isso, ele apenas é repreendido pelo professor, por estar atrapalhando a aula e questionando as verdades absolutas que lhe são repassadas. Inútil, portanto, remar contra a maré. Nessa situação, o aluno se vê tolhido do desenvolvimento da habilidade que lhe será, esta sim, tão importante na vida.

A outra habilidade, a de empreender, igualmente passa longe das carteiras das escolas. O tema, entretanto, começa a despontar como uma possibilidade interessante para compor os currículos. Recentemente, desenvolvemos todo um projeto voltado para o desenvolvimento de habilidades empreendedoras, sob demanda de uma grande rede de educação. O mesmo aconteceu com uma escola de Belo Horizonte para a qual trabalhamos. Ela inseriu a disciplina como módulo, dentro do próprio currículo regular, em algumas das suas séries. Agora, mais que isso, a estamos assessorando para que as habilidades empreendedoras tenham seus fundamentos disseminados desde a educação infantil. Um avanço que só está se tornando realidade porque a direção da escola resolveu, ela própria, ser crítica, criativa e empreendedora.

Seguindo, temos “...familiarizados com o mundo digital...”. Aí a enorme trombada com a estrutura vigente nas escolas. O grande dilema é em relação aos professores. Uma visão arcaica e corporativista, fomentada muitas vezes pelos organismos representativos da categoria, torna a missão mais árdua. Do outro lado, é bom lembrar, os alunos já são familiarizados com o mundo digital. E tendem a ser, naturalmente, cada vez mais, pois já são parte de um mundo conectado. A questão fundamental é, portanto, tornar professores, lideranças e gestores também familiarizados com esse universo. Se a distância entre as gerações fortalece a dificuldade, entretanto, as tecnologias estão cada vez mais amigáveis e a sua utilização requer apenas um pouco de abertura pessoal. Há dez anos previ, em um artigo, a introdução do professor holográfico nas salas de aula. Não estamos longe disso. E se pensarmos no futuro dos nossos alunos, esta será, com toda certeza, a realidade do ambiente tecnológico por onde transitarão.

Voltando ao enunciado, temos  “...que se comuniquem bem e que se adaptem a ambientes diversificados de trabalho.” A comunicação é matéria-prima para a aquisição de conhecimentos, habilidades e competências, tanto agora quanto ao longo deste século. Uma recente pesquisa[1] promovida pela Corporate junto aos gestores e lideranças educacionais apontou a Comunicação Interna (71,43%) como a sua principal preocupação, seguida de “baixa qualidade dos profissionais” (57,14%) e “Liderança” (42,86%). A pergunta natural é: como desenvolver pessoas que se comunicam bem quando a própria estrutura da escola não é eficiente nesse quesito?

O mesmo raciocínio vale para o a adaptação a “ambientes diversificados de trabalho”. A escola mantém, por séculos, a mesma estrutura de ambientação, com salas de aula padronizadas, carteiras em fila, pátios para recreio, auditórios e por aí vai. Na era dos ambientes Wi-Fi e dos smartphones com acesso à internet, laboratórios de informática ainda são construídos, como sinal “de vanguarda”. Daí... sem mais comentários...

A mensagem subliminar é que tanto as estruturas operacionais das escolas, quanto a capacitação e preparo das principais lideranças e docentes, necessitam urgentemente de uma ruptura nas suas premissas e nas metodologias existentes. Para tanto, mais que nunca as direções educacionais precisam romper com modelos que já exauriram e incrementar ações que levem à essa nova perspectiva educacional. Nesse aspecto, cursos e programas de capacitação[2] merecem atenção, em especial aqueles voltados para as lideranças e educadores.

Da mesma maneira, é importante introduzir novas perspectivas de desenvolvimento para os alunos, como projetos de empreendedorismo[3] e outros que façam aflorar suas habilidades e tornar a escola um lugar mais prazeroso para estar.

Essas são reflexões importantes e pertinentes ao atual estágio em que a educação se encontra. Caro gestor, sua hora de empreender é agora.



[1] Pesquisa com respostas múltiplas (dados relativos a 08/04/2014)
[2] A Corporate preparou alguns cursos para lideranças, gestores e educadores visando o desenvolvimento de competências em áreas como comunicação interpessoal, gestão de pessoas e fundamentos de estratégia educacional. Entre em contato conosco pelo email: contato@corporateconsultoria.com.
[3] A Corporate, em parceria com a Sapien, desenvolveu ferramentas para o desenvolvimento de empreendedorismo nas escolas. Entre em contato conosco pelo email: contato@corporateconsultoria.com e conheça essas novidades.

quarta-feira, julho 23, 2014

Projetos e games na pauta
Marcelo Freitas

Uma das grandes questões que desafiam as escolas de hoje é, sem dúvida, encontrar um novo caminho para o processo de ensino e aprendizagem. No mundo inteiro, escolas e seus educadores trabalham para alinhar as metodologias aos novos tempos de informação Just in Time. Algumas dessas experiências, felizmente, já dão sinal de vida.

Imagine uma faculdade sem aulas, nem provas e na qual é possível se formar no tempo que os estudantes quiserem ou conseguirem? Ela existe nos Estados Unidos e atende pelo nome de College for America[1].
Para se formar nessa escola, uma instituição fundada em outubro de 2013 e ligada à Universidade do Sul de Nova Hampshire, os alunos precisam realizar projetos que comprovem que eles desenvolveram um conjunto de competências exigidas pelo programa. E isso ocorre somente através de interação on-line.

O projeto foi desenvolvido a partir do laboratório de inovação, criado pela universidade, para atender as pessoas que já estão no mercado de trabalho, mas sentem necessidade de melhorar sua formação para conquistar melhores oportunidades, uma realidade também muito comum no Brasil, onde apenas 12% dos que têm 25 anos ou mais têm curso superior completo. Daí a flexibilidade.

Preocupada com o futuro da educação superior nos Estados Unidos, cujo modelo atual enfrenta dificuldades de financiamento (o volume de empréstimos estudantis supera o de créditos disponíveis) o projeto foi desenvolvido para ter o preço, como grande diferencial. A anuidade custa US$ 2.500, o que representa pelo menos a metade do que é cobrado por cursos semelhantes em instituições voltadas a alunos de menor renda, os chamados community colleges. Para alcançar esse patamar, o projeto recebeu apoio e financiamento da Fundação Bill & Melinda Gates, o que  permitiu fundar a nova faculdade.

Este é outro bom exemplo para os nossos gestores educacionais. Ele demonstra a necessidade de abertura e envolvimento da escola com outros agentes da sociedade, no sentido de financiar as suas operações, reduzindo-se a dependência das mensalidades.

Como os alunos não têm obrigação de assistir a aulas, algumas pessoas que participaram da fase piloto, que começou em janeiro de 2013, já foram diplomados. Outras, com menos disponibilidade ou mais dificuldades, poderão demorar mais do que tempo considerado usual. O referido diploma, ao qual os alunos têm acesso na College for America, é um “Associate Degree”, uma formação sem equivalência no ensino superior brasileiro, que compreende um curso de formação de tecnólogos (também correspondente aos dois primeiros anos de um bacharelado nos EUA).

A participação da College for America ainda é insignificante no contexto das mais de 1.000 community colleges, que atendem 13 milhões[2] de alunos nos EUA, mas seu ritmo de crescimento é acelerado. Em junho de 2012, quando o laboratório que inventou o modelo foi criado, quatro pessoas trabalhavam nele. Hoje, com cerca de 50 funcionários, atende 500 alunos, número que cresce todos os meses. Por enquanto, só é possível participar do programa quem for indicado por uma empresa ou associação comunitária, que normalmente também fornece um auxílio para se pagar pelo curso. Mas a ambição dos criadores é transformá-lo num modelo que possa ser replicado e diversifique o ensino superior nos EUA.

A ideia, e a operação, são interessantes. Os estudantes da College for America têm acesso a um sistema on-line onde encontram instruções, recursos, fontes e indicações de onde devem pesquisar o que não sabem ainda para realizar os projetos, assim como as competências que precisam cumprir e os critérios pelos quais serão avaliados. Cada um deles também conversa desde o início com um tutor, que o ajuda a definir e planejar os projetos a serem feitos, tira dúvidas e tenta antecipar dificuldades que podem surgir.

Para receber o diploma, é preciso realizar de 20 a 55 projetos, dependendo da complexidade de cada uma dessas atividades. Alguns são menores, como escrever uma redação, e outros maiores, como uma tarefa de história da arte em que os alunos devem criar uma exposição virtual de um museu e ensinar como observar os trabalhos artísticos, como se fossem um guia. Ao todo, os estudantes devem comprovar 120 competências em áreas como comunicação, pensamento crítico e negócios.

Uma vez concluídos, os projetos são submetidos a uma comissão que os analisa a partir de rubricas em até 48 horas. Isso significa que os avaliadores observam uma série de critérios que, por sua vez, correspondem às competências exigidas. Se os alunos atingem o esperado, seguem em frente. Se não, recebem um relatório com comentários sobre cada critério.

Esse modelo de avaliação, totalmente focado em projetos, deixa bem claro para os alunos o que é exigido deles e o que eles devem cumprir.

O conceito de aprendizagem por projetos não é novo. Entretanto, nem sempre é bem utilizado e avaliado. Um projeto desenvolvido para o curso “Fundamentos de Estratégia para Gestores Empreendedores”[3], tem inovado nesse sentido. Nele os participantes trabalham conceitos de estratégia empreendedora utilizando um simulador, no formato de game. Assim, ao mesmo tempo em que aprendem os conceitos, os participantes os colocam em prática e verificam quais foram os resultados produzidos por suas estratégias, a partir de indicadores e metas contidos no game e definidos pelos participantes.

Cursos como este e ideias como a da College of America são uma boa maneira de educadores e gestores educacionais explorarem novos modelos e usos de projetos e metodologias, que podem mudar o rumo dos processos de ensino e aprendizagem.



Artigo publicado pela Revista Linha Direta

[1] Fonte: Porvir (fragmentos)
[2] Fonte: Dados da AACC (American Association of Community Colleges), de 2011.
[3] Curso oferecido na modalidade “in company” pelo Movimento Escola Responsável. Obtenha maiores detalhes através do email contato@escolaresponsavel.com

quinta-feira, novembro 28, 2013

Escola Estúdio

Escola Estúdio: Uma experiência no Reino Unido

Por Marcelo Freitas



Em todo o mundo, há um consenso crescente de que os nossos sistemas de educação estão quebrados. Não são poucos os educadores que nos oferecem lições de como podemos re-imaginar a escola. Essas ideias e experiências, entretanto, ainda que apresentem resultados positivos, não têm sido capazes de convencer os conservadores do “cuspe e giz” nem quebrar os paradigmas retrógrados, sempre reforçados pelo corporativismo vigente. Mas contra fatos não há argumentos. Vejamos.

Temos hoje dois grandes problemas centrais em se tratando de escolas. De um lado, estudantes entediados com o modelo educacional que não os desafia nem os convence a ter gosto em ir para a escola. Do outro, somos brindados com um contingente elevado de jovens despreparados para a vida e o mercado de trabalho, como resultado do processo educacional proporcionado por essas escolas.

Então temos de nos perguntar: Que escola é essa em que os jovens lutam para entrar mas não estão lutando para permanecer? Que escola é essa que anda em descompasso com o mundo? Alguma coisa está errada, certamente. Então pergunto eu: e por que não mudamos?

Essas perguntas ecoam mundo afora e foram objeto de um projeto educacional no Reino Unido, alavancado pela “Young Foundation[1], uma organização que se propõe apresentar um instrumental na condução pensamento, ação e mudança na inovação social no Reino Unido e no exterior, inclusive em áreas como a educação. O projeto denomina-se Escola Estúdio. Ele parte de constatações concretas que, assim como lá, também são verdades em terras tupiniquins.

Através de pesquisas, os educadores locais constataram que um grande número de jovens:

  • Aprende melhor fazendo;
  • Aprende ainda mais, fazendo coisas “de verdade”;
  • E apresentam melhor rendimento quando trabalhando em grupo.

Ou seja, exatamente de maneira oposta ao que as nossas escolas, de modo geral, têm como premissas nos seus modelos de ensino-aprendizagem, assim como nas suas ações pedagógicas. Conteúdos desconectados da realidade prática e conceitos meramente teóricos são a base dos nossos sistemas de ensino atuais.

Daí que esse grupo de pesquisadores e educadores resolveu virar a educação pelo avesso. Partiram para a execução do projeto, construindo um protótipo. Ao colocarem em prática o modelo, identificaram o que deu errado e aprimoraram o sistema, tornando-o mais eficiente. Ainda assim, com o projeto ainda em fase de adaptações, perceberam que os jovens o amaram.

A percepção dos alunos que passaram pela experiência é de que, dessa maneira, o processo de aprendizagem é mais motivador e mais estimulante. A escola passou a ser um lugar de desafios e conquistas. Um lugar mais atraente e muito mais prazeroso, portanto.

O resultado é que, dois anos depois de implantado o projeto, os alunos que estavam nos grupos de pior performance saltaram para o topo da lista e engordaram o quartil mais alto.

Mais interessante ainda é que este projeto aconteceu sem o apoio da mídia e sem grande apoio financeiro, também. Espalhou-se pelo boca-a-boca, de forma viral, por professores, pais e pessoas envolvidas com a educação. Ganhou adeptos, em suma, pelo poder da ideia de virar a educação pelo avesso e pela força de vontade de pessoas que se empenharam em “fazer acontecer”.

A principal mudança no paradigma foi pegar coisas que eram superficiais no modelo atual, como trabalho em equipe e projetos práticos e colocá-los no núcleo da aprendizagem, ao invés de nas margens.

O que essa experiência nos mostra, portanto, é que precisamos, em alguns casos, apenas de um pouco de boa vontade para abrir mão de processos que já exauriram. É preciso, antes de tudo, reconhecer que no mundo de hoje não há mais lugar para um modelo educacional do século XIX.


[1] www.youngfoundation.org

quinta-feira, julho 18, 2013

Papo de Congresso

Especial













Ensino escolar e novas mídias ainda não estão conectados 

Pauta sobre utilizar as tecnologias em favor do processo de aprendizagem foi abordada pelo o especialista em Gestão Educacional Marcelo Freitas, em conferência desta quinta-feira à tarde no 12º Congresso do Ensino Privado Gaúcho
As novas mídias ensinam formas totalmente diferentes de se comunicar e relacionar todos os dias às pessoas. Crianças e adolescentes, em especial, nasceram familiarizados com estes recursos, mas as escolas e os educadores ainda estão nos primórdios de como utilizá-los em favor do processo de ensino e aprendizagem. O especialista em gestão educacional Marcelo Freitas falou acerca deste desafio ao público do 12º Congresso do Ensino Privado Gaúcho, promovido pelo SINEPE/RS. A programação da tarde desta quinta-feira (18) iniciou com conferência sobre "As mídias na arquitetura das aprendizagens".

"O que estamos chamando de novas mídias são as TIC`s (Tecnologias da Informação e Comunicação) e, apesar de toda a disseminação desses meios, eles ainda são pouco compreendidos no universo escolar", avalia Freitas. De acordo com ele, as crianças de hoje encontram na escola um ambiente arcaico, passivo, construído sobre os paradigmas dos séculos XVIII e XIX. "E eles precisam ser totalmente quebrados! Há necessidade de uma grande ruptura, de recriar muitas coisas, e não apenas readaptar", salientou.  

NÃO BASTA INTRODUZIR TABLETS OU LOUSAS DIGITAIS
O mundo de agora funciona de outra maneira. As crianças e jovens, desde a fase mais tenra da idade, aprendem de forma interativa, com ou sem a presença dos adultos, pais ou professores. Freitas explicou que as mídias são apenas aquilo que o próprio nome diz: os meios. "Acontece que as TIC`s trazem consigo outra lógica e é exatamente isso o que causa o conflito. Não basta introduzir tablets, lousas digitais e ambientes tridimensionais, se continuamos colocando nossos alunos sentados em fila na sala de aula e aplicando o mesmo conteúdo de maneira homogênea para todos eles". 

Cada um exige um tipo de lidar com a aprendizagem que é diferente do outro. Em sua visão, a reinvenção dos processos de ensino-aprendizagem, deve ser apoiada no uso das novas tecnologias, mas, principalmente, na quebra dos paradigmas. "Por isso, precisa haver uma revisão total dos processos, desde os parâmetros técnicos até às avaliações. "Não insistir em reforçar as fraquezas do aluno, melhor é concentrar esforços no que ele pode se sobressair". Completou refletindo que os professores não têm o papel de formar, isto é, colocar em formas, mas sim de desenvolver. 

EVENTO
O Congresso do Ensino Privado Gaúcho, promovido pelo SINEPE/RS, é um dos maiores eventos do setor educacional no País. Em sua 12ª edição, neste ano reúne mais de 2,7 mil pessoas para debater o tema "A maestria do professor na arquitetura da aprendizagem", no Centro de Eventos da PUCRS, em Porto Alegre. O objetivo é discutir os desafios e as oportunidades para o professor, sua relação com as novas tecnologias e a sociedade e seu papel enquanto líder do processo de ensino e aprendizagem
por Ana Cristina Basei

terça-feira, outubro 30, 2012

2013... Cenário da educação

O mercado educacional em 2013

Penso que o segmento educacional está experimentando uma forte consolidação em termos de grandes grupos e que isso deverá continuar em 2013. Nesse aspecto, ganham destaque a profissionalização dos gestores e a busca por executivos e profissionais cada vez mais preparados para lidar com a escola como um negócio. Novas profissões e especializações também estão aparecendo e isso transforma a função dos gestores de RH, elevando-os ao patamar das decisões mais estratégicas.

Outro ponto importante é a corrida do ouro no setor público. Várias empresas já identificaram o potencial desse segmento, até então desprezado por uma fatia do mercado, numa possibilidade de novos negócios. Para vc ter uma ideia, eu mesmo acabei de escrever um projeto para uma grande editora internacional que será lançado em breve e é voltado para as secretarias de educação de pequenos municípios. Além do projeto, escrevi toda a metodologia e os livros guia, sistema de avaliação e o software do programa, totalizando 14 volumes. Então, acredito que esse será um setor importante.

Outra questão relevante está dentro das salas de aula. Entendo que começamos a passar por um ajuste entre os atuais modelos de ensino-aprendizagem e as novas demandas da sociedade. Existe um grande descompasso aí. Se por um lado já temos alguns recursos como tablets e lousas interativas em grande parte das escolas do país, por outro falta método, professores e novos conceitos educacionais para aproveitar todo esse potencial. Precisamos reinventar a escola. Não cabe mais ajustes e maquiagens.

Finalmente, uma questão que venho debatendo em congressos e consultorias diz respeito à necessidade de encontrar novas formas de sustentabilidade para o negócio chamado escola. Já é possível termos aulas gratuitas de renomadas universidades globais, como a Harvard, Yale, Universidade de Paris e tantas outras. E o nosso modelo atual ainda se sustenta pela receita de mensalidades. Até quando?

segunda-feira, julho 09, 2012

Tablets na sala de aula

O que fazer com o meu tablet?

Tenho visto um movimento significativo no sentido de levar a tecnologia para as salas de aula. Esse movimento, entretanto, ainda tem seu foco na infraestrutura, ou seja, nos equipamentos. O fato é que isso é apenas o começo do processo. A grande maioria dos nossos docentes não sabe mesmo o que fazer com eles, quando o recebem.

Escrevi um artigo para a revista Gestão Educacional sobre o assunto e gostaria de compartilhá-lo com você, caro frequentador desse blog.



O que eu faço com o meu tablet?

Por Marcelo Freitas

Tenho certeza de que a pergunta do título é uma daquelas que a maioria dos professores gostaria de fazer ao receber esse objeto de trabalho “modernoso”, das mãos do diretor da escola. Isso mesmo... ferramenta de trabalho. Evidente que nem todas as escolas ainda incorporaram o equipamento às suas práticas educativas e, assim, nem todos os professores ficaram de saia justa. Ainda.

Depois de muitos e muitos anos, a tecnologia que batia à porta das escolas recebeu permissão para entrar. Não que tenha sido fácil. Acredito mesmo que quem girou a maçaneta foram os alunos e aí...

O fato é que agora esses equipamentos estão pousando nas mesas e carteiras das salas de aula. Bom? Certamente. Eficaz? Ainda é cedo para dizer. Isso porque o equipamento é apenas o meio e não o fim do processo. Para que seja de fato eficaz é preciso que os professores saibam operá-lo com maestria. É fundamental que saibam extrair dele o melhor e, principalmente, que definam que conteúdo será colocado lá dentro e o que fazer com ele na sala de aula.

A equação não é fácil. Se o processo de encaixá-lo no material didático está sendo parcialmente “resolvido” pelas redes de ensino (embora a maioria tenha apenas digitalizado seu material apostilado e depositado no equipamento, substituindo a papelada pelo conteúdo em bits e bytes), a maneira com que será utilizado em todo o seu potencial ainda é uma questão a descoberto.

A nova mídia requer outros conceitos de aprendizagem e novas metodologias de apresentação dos conteúdos, centradas nas hipermídias. Não é apenas a transposição do papel para a telinha. Isso não funciona. É preciso dar dinâmica aos conteúdos, manter o pique multitarefa dos alunos. Envolver e mesclar vários temas simultaneamente. Fazer essa geração de antenados manter a concentração não é mole.

E nesse aspecto o que se vê é uma carência conteúdos concebidos para o uso pedagógico nas mídias digitais. Não é por acaso que as aulas no YouTube fazem tanto sucesso, com milhões de acessos. Mas é preciso pensar maior. É importante explorar, e integrar, não somente as possibilidades de tablets e notebooks, mas também dos celulares. Eles são uma poderosa ferramenta para a aprendizagem. Fazer pequenas tarefas ou jogar em rede com os colegas pode ser uma fonte inesgotável a explorar. E para isso não basta apenas o conteúdo. É preciso forma, interatividade, criatividade, desafio.

Nesse particular, os jogos saem na frente. Se aproveitados com imaginação, eles podem se transformar numa excelente ferramenta de ensino. E é aqui que o papel dos educadores se torna fundamental. É deles que deve partir a iniciativa de transformar e adaptar o conteúdo dos currículos aos jogos e aplicativos. E isso pode ser feito de imediato, pois existe uma enormidade de games nas prateleiras das grandes livrarias capazes de preencher espaços significativos na aquisição de habilidades e competências.

Um exemplo? SimCity. Esse famoso game é a simulação de uma cidade em construção. Nela o jogador assume a posição de prefeito e, a partir daí, é colocado em contato com uma gama de situações e problemas. Já imaginou que potencial de aprendizagem para competências e habilidades como planejamento, tomada de decisão, gestão de recursos, definição de prioridades etc...etc.... ? E em relação aos conteúdos específicos, como geografia e matemática?

Na linha dos simuladores, existe ainda uma infinidade de outros títulos que podem ser trabalhados na perspectiva multidisciplinar, envolvendo desde a gestão de clubes de futebol e basquete, até simuladores de vôo e construção de ferrovias, passando por jogos de estratégia e conhecimento. Enfim, um mundo de opções a explorar.

No frigir dos ovos, não está faltando tanto assim. Falta apenas mais criatividade para sair da mesmice. Educadores, segurem suas manetes e boa viagem.



quinta-feira, agosto 11, 2011

Harvard

Educação de primeira

Que a escola precisa se reinventar parece já não ser novidade pra ninguém. No mundo dos negócios o processo de intergração planetária tem forçado as empresas a mudar seus paradigmas. Uma das escolas mais conceituadas do mundo, a Harvard, tem procurado se adaptar a isso ao mesmo tempo em que mantém nos "estudos de caso" o diferencial para permanecer em sintonia com a realidade.

O reitor da escola, Nitin Nolria, deu uma reveladora entrevista à Revista Época Negócios, recentemente, a qual tomo a liberdade de reproduzir abaixo. Vale a pena.


"Nota boa não é o suficiente para Nitin Nohria, reitor da Harvard Business School


Para entrar em uma escola de elite, como a HBS, os candidatos precisam ter muito mais do que excelência acadêmica

Por Karla Spotorno


Nitin Nohria, reitor da Harvard Business School, fala sobre as expectativas que da famosa escola de negócios sobre seus alunosEstudar nas melhores escolas e formar-se com as melhores notas são condições importantes, mas não suficientes para entrar na Harvard Business School. É o que diz o reitor da escola Nitin Nohria. Escolas de negócios como a de Harvard têm dado atenção à experiência dos candidatos, sua capacidade para a liderança e a motivação pessoal. As novas condições são, na realidade, um reflexo do que espera os líderes do mundo dos negócios. Confira a entrevista exclusiva:

Qual a bagagem cultural e intelectual o senhor espera dos candidatos aos cursos da escola?

Além de excelência acadêmica, que demonstra comprometimento do candidato aos estudos, buscamos pessoas que demonstrem alguma experiência, o que pode significar dois ou três anos de trabalho. Nos processos de seleção, procuramos os melhores e também os que estão mais alinhados com a proposta da escola. Quando observamos os currículos, buscamos evidências que comprovem a capacidade e o potencial de liderança dessas pessoas. O candidato pode ter desempenhado um papel ativo na vida estudantil ou ter sido capitão do time da escola. Evidenciar essa capacidade é importante porque não será em um período de dois ou três anos que a escola conseguirá formar uma liderança. Além disso, tentamos entender a motivação do candidato em estudar aqui. Precisa ter uma relação com um projeto maior, uma aspiração. Não pode, simplesmente, se restringir ao objetivo de ele evoluir pessoalmente. Nem está de acordo com a missão da escola de educar líderes para o futuro, sejam eles empresários, executivos ou empreendedores sociais. Queremos educar essas pessoas para que possam ganhar o mundo e criar algo novo, liderar um projeto.

Quais atividades extracurriculares o senhor considera importantes? Fazer intercâmbio? Estudar chinês? Trabalhar como voluntário em um programa social?

Não há uma fórmula para preparar um jovem para uma carreira de sucesso. Os estudantes da Harvard Business School que têm sucesso têm uma gama ampla de interesses e experiências pessoais e profissionais. Procuramos os jovens com a maior variedade interesses. Isso normalmente significa que eles são pessoas viajadas, bem educadas, curiosas e motivadas para aprender. Eles também têm de demonstrar capacidade para autoreflexão e autoconsciência. Muitos dos estudantes trabalharam como voluntários ou até mesmo fundaram organizações sem fins lucrativos. Mais da metade fala mais de três idiomas. Todas essas questões contribuem para formar o caráter uma pessoa. Mas fazem parte de algo maior.

Como o senhor vê a escola do século 21 e as novas dinâmicas de aula e formas de transmitir o conhecimento?

A compreensão histórica da educação está, definitivamente, ultrapassada. O conhecimento está em todo lugar. Os estudantes podem obter o conteúdo pela internet. Olhando dessa forma não haveria mais a necessidade de o aluno ir à sala de aula. Olhe o exemplo do Salman Khan [ex-aluno do MBA da Harvard Business School]. Milhões de pessoas assistem às aulas que ele produz em vídeo e coloca no site, no YouTube. O ganho de o jovem vir à universidade está na interação com os professores e também com os alunos. A discussão entre eles, a troca de experiências e de opiniões é que fazem a diferença para os alunos. Acreditamos na aprendizagem através da experiência. Por isso, as aulas trazem casos reais para os alunos buscarem soluções para problemas reais. O professor ajuda os estudantes a aplicar os conceitos em casos da vida real.

Qual a parcela de responsabilidade das escolas de negócios na falência moral do sistema financeiro? E o que deveriam ter feito para evitar a crise?

De certa forma, todos os educadores têm responsabilidade na transmissão de valores éticos. Em Harvard, acrescentamos a discussão da responsabilidade ética no currículo obrigatório há mais de uma década. Uma iniciativa que defendo pessoalmente é o juramento dos alunos de MBA no final do curso. É uma espécie de compromisso ético com a profissão, como têm os médicos. Apesar das aulas e de todo debate na universidade, compreendemos que os alunos falham. Uma pesquisa mostra que o ser humano é muito suscetível e que apenas uma média de 10% das pessoas persistem em seus valores sob condições desfavoráveis e altíssima pressão. A questão é: como convencer as pessoas a resistir em situações adversas? O que tentamos fazer na escola é ajudar as pessoas a perceberem e melhorarem as suas próprias incosistências. Por outro lado, também buscamos entender o que as pessoas pensam sobre risco e como se comportam em cenários onde os ganhos extrapolam todas as expectativas. No ano passado, a escola lançou um programa sobre gerenciamento de risco, dirigido pelo professor Robert Kaplan e por Anette Mikes. A ideia é estudar como as pessoas pensam em risco em diferentes áreas, como quem projeta pontes ou quem produz remédios. Queremos trazer essas experiências multidisciplinares para as empresas e pensar em um novo sistema financeiro com novas ferramentas para mitigar e controlar os riscos.

Por que o programa de educação executiva admite somente pessoas que estão empregadas?

Um das desvantagens de admitirmos profissionais autônomos ou freelancers está na relação que surgirá entre os alunos. Percebemos que eles buscam construir relações comerciais com os colegas, além da convivência acadêmica. Não queremos desvirtuar a natureza do networking. As amizades que nossos estudantes constroem aqui são para a vida inteira Esse é um dos principais ativos que os estudantes levam ao voltar para casa.

E como o senhor tem observado a educação dada pelos pais às crianças?

Percebo uma obsessão na educação dos jovens e uma busca excessiva por notas boas. Isso não está certo. O esporte é algo muito importante para a formação das crianças e deveria ser estimulado.

A Harvard Business School possui um campus em uma economia emergente? Há planos de oferecer cursos no Brasil?

Apesar de existirem muitas instituições com a meta de expandir seus campi para outros países, nossa escola não tem planos nesse sentido. Queremos expandir nosso alcance intelectual. Isso significa ter uma presença modesta [fora da sede nos Estados Unidos] e desenvolver relações no exterior para conduzir pesquisas. Também oferecemos cursos de educação executiva em alguns lugares, mas não de forma permanente. Nossas instalações em Xangai faz parte de uma estrutura da universidade mais ampla disponível para professores e estudantes de Harvard. Estamos fazendo uma experiência semelhante na Índia no próximo ano.
A escola promove ou encoraja programas de ex-alunos? Se sim, como e por quê?

Temos 70 mil alumni, sendo 622 do Brasil. Trabalhamos para permanecer influentes nas suas vidas depois que eles saem de Harvard. Nosso objetivo é permanecermos como um recurso relevante para que eles se desenvolvam profissionalmente.

O senhor poderia descrever uma aula típica na escola?

Não há uma aula típica. Em termos de espaço físico, as salas de aula são únicas. São equipadas com o que há de mais novo em tecnologia. Dessa forma, o professor pode mostrar suas apresentações, navegar pela internet ou mesmo chamar pelo Skype um CEO que está em algum lugar do planeta. Nosso maior diferencial é a forma como lecionamos: o método dos casos. Em todas as aulas, o papel do professor é facilitar a discussão entre os estudantes, trabalhando para que todos saiam da aula com uma compreensão profunda do desafio enfrentado no caso de negócios estudado e como o líder tomou sua decisão.

fonte: http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,EMI255279-16356,00-NOTA+BOA+NAO+E+O+SUFICIENTE+PARA+NITIN+NOHRIA+REITOR+DA+HARVARD+BUSINESS+SC.html