A ordem é agregar valor
Recentemente, de maneira mais intensa, um debate tem sido
travado em muitas instâncias da nossa sociedade e em especial no segmento
educacional. Trata-se da adoção de conceitos como a meritocracia e a gestão por
competências. Há quem os defenda, assim como existe aqueles que os repudiam.
Não entrarei nesse mérito, pois tomei esses dois temas apenas para levantar a
bola.
Entendo que eles reportam a algo ainda maior, que vem se assumindo como
premissa em todas as esferas, tanto profissionais quanto empresariais. É o
conceito de Valor Agregado, ou em outras palavras, a maneira pela qual as empresas
e as pessoas agregam valor ao que fazem.
Estamos numa época em que os produtos e serviços são
escolhidos sob a métrica comparativa daquilo que proporcionam de satisfação aos
seus consumidores. Esses, por sua vez, tomam suas decisões de compra cada dia
mais suportadas naquelas características que tornem completa sua experiência e ofereçam
um algo mais, em relação aos concorrentes. Essa dinâmica, e o reflexo dela,
impactam tanto as empresas quanto os profissionais. Basta olhar o mercado de
trabalho. Nele os processos seletivos estão mais exigentes, com valorização
crescente daqueles que contribuem para além do esperado, agregando valor ao
trabalho contratado.
De maneira sucinta, as perguntas recorrentes são:
Como posso agregar valor ao serviço que ofereço? Como buscar diferenciais
competitivos que coloquem esta instituição na preferência dos clientes?
Penso que para obtermos boas respostas a essas perguntas é
preciso, antes de tudo, desbloquear os modelos mentais existentes. Explico: imaginemos a empresa como uma
instituição que, na sua atividade rotineira, promove o conhecimento. Desenvolve pessoas. Ensina saberes. No fundo, ela também "presta serviços" de desenvolvimento de pessoas utilizando o trabalho como uma tecnologia educacional baseada em métodos on the job.
Veja caro leitor, que olhando a empresa sob essa ótica,
muitas coisas novas vão aparecer no horizonte. Surge, por exemplo, a possibilidade
de ter todo o quadro de profissionais com potencial para oferecer serviços
de consultoria e treinamento às empresas e pessoas do entorno, permitindo com isso o ingresso de receitas
marginais, abrindo também a oportunidade de ganhos adicionais aos colaboradores, agentes prestadores desses serviços ofertados. Uma ação desse tipo amplia
a perspectiva da empresa se integrar à vida da comunidade onde se insere e
participar ativamente do seu desenvolvimento. Valor agregado para a empresa, a
comunidade e o colaborador!
Ela também permite alargar o horizonte dos profissionais, tornando suas
atividades mais variadas, pois a exploração de suas competências se
dará em diversas frentes: ensinando, participando de projetos
comunitários, dando treinamento para as empresas e pessoas da comunidade. Valor
Agregado!
Ainda em relação ao colaborador, tal situação se apresenta
como condição excepcional para ampliar sua carteira de competências
profissionais, a partir da obtenção de saberes adicionais, da convivência com
situações reais de aplicabilidade dos conteúdos que ministra e da ampliação de
seu network. E tem mais. Permite
aumentar suas receitas financeiras, tanto a partir de trabalhos de consultoria
e prestação de serviços à comunidade, como também através de salários mais
encorpados na própria empresa, lembrando que ela tem seu leque de receitas ampliado
pela oferta de serviços que envolvem conhecimento, aprendizagem e ensino. Valor
agregado!
É possível, ainda, adicionar valor à empresa, incorporando práticas de compartilhamento na capacitação de
pessoas e na formação continuada. Empresas de uma mesma região podem dividir
custos de treinamento de seus profissionais a partir do rateio na contratação
dos cursos e na criação de redes colaborativas. Esse tipo de ação amplia a
oferta de mão de obra qualificada no mercado e contribui para a empregabilidade
dos profissionais. Valor agregado!
E é diante dessa busca pela criação de valor que a
meritocracia e a gestão por competências se encaixam. Esses conceitos
contribuem grandemente para estimular as pessoas a desenvolverem suas fontes de
geração de valor e as contribuições que podem oferecer, sendo, ao mesmo tempo,
reconhecidas por isso. Entendo que é nessa perspectiva que as discussões acerca
da validade, ou não, da adoção de modelos de gestão de pessoas baseados em ferramentas
modernas devem ser colocados.
A empresa não é uma ilha e, portanto, deve
caminhar em consonância com o ambiente que a rodeia. Agregar valor pela geração de conhecimento somente eleva a importância da educação no desenvolvimento
da sociedade.