segunda-feira, junho 01, 2015

Educação e tendências de consumo

A importância das tendências de consumo na gestão das escolas

Marcelo Freitas



A necessidade crescente de produzir melhorias na qualidade dos serviços que presta tem feito com que, cada vez mais, as escolas sejam geridas com maior profissionalismo. Nesse particular seus gestores demandam, também em escala crescente, ferramentas que possam lhes oferecer informações confiáveis, pertinentes e relevantes. Esses instrumentos de gestão, a exemplo do que acontece com empresas de outros segmentos, são de fundamental importância para o planejamento de curto, médio e longo prazos. Contribuem com inestimável valia na perspectiva de ajudar o gestor a vislumbrar tendências e cenários que, eventualmente, possam impactar o mundo da educação.

Mas esses instrumentos, sozinhos, não podem cumprir o papel de qualificar a gestão da escola ou agregar valor aos seus serviços. É importante que os gestores façam a sua parte. Olhar à sua volta com olhos críticos e fixar um ponto no horizonte à sua frente é uma atitude que em muito contribui nessa tarefa. Entender as mudanças sociais, tecnológicas, ambientais e tantas outras é fundamental para perceber o caminho que os consumidores estão trilhando e em quê estão se baseando para tomar suas decisões de compra. E é nesse momento que surgem as chamadas tendências de consumo.

Uma tendência de consumo pode ser definida como sendo uma nova manifestação entre os consumidores – no comportamento, na atitude ou na expectativa – de uma necessidade humana fundamental, um desejo ou uma vontade. Ao se atentar para as tendências de consumo pode-se melhor identificar demandas emergentes, ainda não atendidas. Um novo comportamento. Uma nova atitude ou opinião. Uma nova expectativa. Qualquer um deles pode ser base para uma tendência de consumo. E elas são particularmente importantes quando buscamos inovar, antecipar ao mercado e projetar situações que poderão impactar diretamente o negócio.

O segmento educacional tem sido, nos últimos anos, atingido frontalmente pelas mudanças do ambiente, por uma nova maneira de olhar o mundo e, principalmente, por uma forma diferente das pessoas tomarem suas decisões de compra. O Ensino à Distância – EAD, por exemplo, é a maior prova disso. Ele emergiu a partir do momento em que as pessoas estão dando grande valor à comodidade, à flexibilidade e à simplificação dos processos. Isso fez mudar hábitos de compra em outros segmentos e, como decorrência, também na educação. Antes, para assistir uma aula ou participar das atividades de aprendizagem, era preciso ir à escola. Com o advento da revolução tecnológica e a disponibilização de facilidades para se executar tarefas à distância (como pagar contas e requerer uma segunda via de documentos), essa facilidade foi também incorporada pelos consumidores que compram serviços educacionais e/ou realizam tarefas como adquirir conhecimentos.

No caso dos gestores educacionais, entretanto, é preciso atenção para distinguir os modismos das tendências. Os primeiros são passageiros. Vão e vêm. Já as tendências, emergem e se desenvolvem. Isso quer dizer que elas surgem quando uma mudança externa desbloqueia novas maneiras de atender antigos desejos e necessidades humanas. Na verdade elas apontam direções e caminhos.

Outro fato corriqueiro nos processos de gestão é confundir tendências com pesquisas. A pesquisa de mercado tradicional é essencialmente um olhar para trás, uma vez que é realizada a partir de dados colhidos sobre hábitos de consumo já praticados, no presente ou no passado. E mais: a pesquisa é normalmente limitada pelo que os próprios consumidores conseguem articular sobre suas necessidades, seus desejos e comportamentos. Ou seja, elas não conseguem olhar muito além do que a sua realidade apresenta, porque o próprio consumidor muitas vezes não tem ideia do quanto as coisas poderiam ser diferentes. Um bom exemplo é nos lembrarmos do que inovadores como Henry Ford a Steve Jobs pensam a respeito. É oportuno ressaltar que dados são importantes e podem dar suporte à análise de tendências, porém, não são verdades em si mesmos.

A grande vantagem em vislumbrar as tendências é que a educação é um processo de longo prazo e a validade dos seus serviços, na maior parte dos casos, só será constatada anos depois. Nesse particular, como lidar com as tendências de consumo, se novos produtos, serviços e campanhas em geral não deixam de ser “apostas no futuro”?  A resposta é que, de uma maneira ou de outra, hábitos de consumo modelam a maneira pela qual se toma decisões de compra e, mais que isso, ajudam a entender o processo que leva a essas decisões. Os valores e o tipo de conhecimento que integram esse processo são particularmente importante não só para trabalhá-los nos processos de desenvolvimento pessoal mas também para promover inovações. Estas, por sua vez, trazem no seu bojo rupturas significativas que podem demandar novos conhecimentos, habilidades e atitudes. E isso tem tudo a ver com a educação.

O fato é que seja qual for a ferramenta adotada pelo gestor, é sempre bom lembrar que há muitas variáveis envolvidas no trabalho de avaliar tendências. Nesse aspecto, o bom gestor deverá centrar foco, não só nas tendências em si, mas principalmente nas oportunidades que elas sinalizam. Tendências são apenas sinais e caminhos que, no fundo, servem a um propósito maior: a busca por inovação.

Para uma escola, tanto na ótica da gestão quanto do produto, conhecer as demandas futuras implica antecipar medidas gerenciais, criar modelos de funcionamento e oferecer diferenciais que considerem as ofertas de valor como ponto principal de decisão de compra. É aí que a escola ganha competitividade e se torna proativa.

Mas quais tendências usar? Quando usar? Bem... Isso depende de você, caro gestor! Comece por conhecer bem sua própria marca, os valores que ela pretende transmitir, seu público e o seu projeto educativo, suas capacidades e potenciais consumidores. Adapte-se à tendência de acordo com isso e deixe que as necessidades e desejos emergentes dos consumidores sejam sua âncora.