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terça-feira, dezembro 10, 2024

GenZ no Trabalho

 CARTÃO VERMELHO PARA A GERAÇÃO Z?

Demissão de jovens deve acender um sinal amarelo para as escolas.


A Geração Z, nascida entre o final dos anos 90 e início dos anos 2010, está prestes a se tornar a força dominante no mercado de trabalho. Com expectativas e prioridades distintas das gerações anteriores, esses jovens estão redefinindo as relações profissionais.



O que a Geração Z busca em um emprego?

Flexibilidade e bem-estar são palavras-chave para essa geração. Estudos revelam que a maioria dos jovens busca empregos com horários flexíveis e a possibilidade de trabalhar remotamente. Além disso, benefícios como programas de aposentadoria e acesso a academias são altamente valorizados.

A Geração Z no Brasil: Engajamento e Desafios

No Brasil, a Geração Z também está deixando sua marca no mercado de trabalho. Pesquisas indicam que uma parcela significativa desses jovens não cumpre integralmente sua jornada de trabalho, buscando um equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Essa postura reflete uma nova visão sobre o trabalho e a busca por mais autonomia.

A Desconfiança dos Empregadores

Diante desse cenário, os empregadores estão cada vez mais cautelosos ao contratar jovens recém-formados. A falta de experiência prática e, em alguns casos, de habilidades interpessoais, tem gerado desconfiança e levado a um aumento nas demissões. De janeiro até agora, 6 em cada 10 empregadores já demitiram pelo menos um jovem funcionário que se formou na faculdade há menos de um ano. 

O Desafio das Soft Skills

A principal queixa dos gestores em relação à Geração Z é a falta de soft skills, como comunicação, trabalho em equipe e adaptabilidade. Embora muitos jovens possuam um bom conhecimento teórico, eles enfrentam dificuldades em aplicar esses conhecimentos na prática e em se relacionar com colegas de trabalho. E é nesse ponto que as escolas deveriam repensar o seu papel.

O Futuro do Trabalho

A Geração Z representa um novo desafio e uma grande oportunidade para as empresas e para as escolas. Para atrair e reter esses talentos, é preciso repensar as práticas de gestão e educação, oferecendo também um ambiente de trabalho e aprendizagem mais flexível, colaborativo e desafiador. 

Ao mesmo tempo, os jovens precisam investir em seu desenvolvimento pessoal e profissional, buscando aprimorar suas habilidades interpessoais e se adaptar às exigências do mercado de trabalho. Aí a escola assume um papel fundamental.

Em resumo, a Geração Z está transformando o mundo do trabalho. Com suas expectativas e prioridades únicas, esses jovens estão redefinindo as relações profissionais e exigindo das empresas e escolas uma maior adaptação. Para as elas, o desafio é entender as necessidades dessa nova geração e oferecer um ambiente que as atraia e as motive. 

Para os jovens, o desafio é desenvolver as habilidades necessárias para se destacar no mercado de trabalho e construir uma carreira de sucesso.


Escolas Colaborativas

 ESCOLAS COLABORATIVAS

Dividir despesas e receitas com o concorrente também pode ser uma boa estratégia...


Imagine só: Chega ao fim o período de matrículas e a quantidade de alunos inscritos para o próximo ano, numa das quintas séries, ainda é insuficiente para a formação de uma nova turma. O que fazer? Matricular os alunos assim mesmo, assumindo o prejuízo e “pegando com Deus” para surgirem novos clientes durante o ano? Ou simplesmente entregar aquele pacote de clientes de mão-beijada para o concorrente?



Resumindo:

Alternativa 1: Você, e/ou o concorrente, optam por matricular os alunos, mesmo em turmas pequenas, cujo ponto de equilíbrio financeiro não foi atingido. Resultado: nenhum dos dois ganha. Ambos perdem, por trabalharem no prejuízo.

Alternativa 2: Você, ou seu concorrente, comunicam aos alunos que não será possível matriculá-los, pois uma nova turma não poderá ser aberta com o número de alunos que restaram. Nessa situação, um dos dois poderá sair ganhando, caso os alunos dispensados migrem para a outra escola. Resultado: Um ganha, outro perde.

Acontece, porém, que naquele mesmo momento, esse problema também poderia ser motivo de insônia para o seu concorrente.

É precisamente nessa hora que se ergue uma barreira às estratégias mais inovadoras, do tipo “ganha-ganha.

Se a situação já é complexa em outros segmentos, no educacional convive-se com o agravante do conservadorismo extremo, onde a estratégia e a “inovação” pouco comparecem.

Agora, imagine que você e seu concorrente se permitam admitir uma terceira via, mais estratégica e inovadora. 

Resolvem experimentar um jeito novo de lidar com essa situação, criando uma espécie de “Central de Compensação”, onde cada uma das escolas “deposita” o número de alunos inscritos que ainda não foram matriculados nas devidas séries, por não atingir a quantidade mínima para formação de turma. Verifica-se, então, a possibilidade de completar esse grupo com alunos da outra escola, viabilizando, assim, uma nova turma. Ao invés de concorrentes, essas escolas passam a ser “colaborativas”.

Uma vez consumada a possibilidade de enturmação, mediante consulta aos clientes, e efetivadas as matriculas, as escolas, agora colaborativas, passam a dividir as despesas e receitas daquela turma. Ou seja, onde apenas uma ganhava, ganham as duas. 

Mas como ainda não evoluímos para a quebra dos paradigmas anteriores, surge logo a pergunta: onde seriam matriculados os alunos dessa turma? Resposta: Na escola que contribuir com o maior número de alunos. 

_ Mas e depois? (Continuam as perguntas)... No ano seguinte, esses alunos não vão mais querer sair da escola... Nesse caso, nada de pânico. Enquanto permanecerem matriculados na escola colaborativa, permanece de pé o princípio da parceria. Cada um daqueles alunos continua tendo suas receitas e despesas rateadas, ainda que a turma inicial se dilua. 

E aí, o que achou?

terça-feira, novembro 28, 2023

Estratégia e estrutura

  

O papel da estrutura organizacional na estratégia de negócios 

 Marcelo Freitas

 

Uma enormidade de filosofias de gestão, orientadas para o atendimento às necessidades do cliente, foram disseminadas ao longo de décadas. Algumas delas foram fundo, vinculando suas políticas de remuneração e desempenho dos funcionários diretamente ao atendimento que prestam à sua majestade, o CLIENTE.



A metodologia e a intenção são sempre muito louváveis, porém, na prática, não são muitas as organizações que se propõem a moldarem suas estruturas para que tal aconteça. Não se dão conta de que executar a estratégia de negócios não depende apenas de um quadro com valores na parede ou de algumas práticas de marketing bem alinhadas. Uma empresa que esteja, de fato, comprometida em atender expectativas do cliente, a partir da sua estratégia empresarial, começa a demonstrar isso através do desenho de sua estrutura organizacional e da estrutura de cargos dela decorrente.

Nesse particular, usando como exemplo as instituições educacionais, veremos que a grande maioria delas possui praticamente a mesma estrutura de organização, independentemente das diferenças entre seus produtos e metodologias. O que se percebe, portanto, é que essa estrutura não está alinhada, nem ao Planejamento Estratégico, nem à proposta de valor definida pela escola.

Jan Carlzon, em seu antigo livro "A Hora da Verdade", disserta com muita propriedade a respeito da importância do papel dos funcionários que estabelecem contato direto com o cliente. Ele fala, insistentemente, sobre esses minutos da verdade, o momento em que a imagem e a qualidade dos serviços prestados são colocadas em cheque perante o consumidor. Vários outros autores inundam o terreno da administração reforçando a ideia de ter colaboradores preparados para os "minutos da verdade". É aí que a estrutura se faz presente, pois além do atendimento, os processos precisam fluir através dos canais internos que concretizam a proposta de valor.

No caso universo escolar, identificamos a predominância de uma estrutura antiquada, baseada na fragmentação das atividades. Ela pressupõe uma grande quebra nos serviços, uma vez que o trabalho compartimentado tende a estimular que cada unidade funcional conheça bem apenas uma etapa do processo. A consequência é que o funcionário tem informações e conhecimentos parciais, o que o impede de tomar decisões mais elaboradas ou mesmo sugerir melhorias. Os próprios professores, de forma predominante, se concentram apenas nas suas disciplinas desconhecendo, ou ignorando, muitas vezes, a dinâmica de funcionamento das demais áreas.

Esse tipo de estrutura compartimentada acaba provocando uma forte tendência a perder o foco e com isso aumentar a burocracia interna, pois os departamentos começam a trabalhar uns para os outros e não para o cliente. Passam a ser enormes centros de custos e não de resultados.

A partir desse exemplo das instituições educacionais é importante, portanto, que os gestores estejam atentos ao modelo de estrutura que sua empresa adota. Tenham cuidado ao definirem bem Missão e Visão de futuro, de maneira que se possa ter objetivos claros, metas e responsabilidades bem demarcadas. Definidos os conceitos fundamentais, a Estrutura Organizacional deverá, então, ser desenhada de maneira a facilitar a logística e a entrega do serviço ao cliente. Processos que não agregam valor devem ser descartados.

Revejam seu planejamento, reorientem seus objetivos e alinhem sua estrutura conforme seja mais eficaz. O cliente vai agradecer.

terça-feira, setembro 04, 2018


O fim do diploma?
Por Marcelo Freitas

Muitos trabalhos futuros não exigirão um diploma de bacharelado.
Qual o impacto disso para o ensino superior?


O mundo do trabalho, a exemplo do que acontece em todas as dimensões da vida, está em rápido processo de mudança. As profissões, como as conhecemos, estão passando por um amplo processo de metamorfose. Algumas delas, inclusive, estão morrendo, outras em processo terminal. Enquanto isso, vão surgindo novas especialidades, fazendo desabrochar profissões até então inexistentes.

Nessa perspectiva, em vários segmentos, indivíduos estão sendo chamados a contribuir com suas competências para lidar com novas situações e responder a novos problemas. Em algumas dessas atividades, o diploma de ensino superior já não é mais uma necessidade, cedendo espaço para as certificações. Em decorrência, as faculdades precisam fazer mais para garantir que suas ofertas sejam solicitadas, tanto por estudantes, como por empregadores.

O título na primeira página da seção de negócios no “Boston Globe” de 9 de novembro de 2015, estampou: "O Estado enfrenta falta de mão de obra, o sistema de ensino para o emprego está caindo." Se em 2015 já era uma realidade, o que dizer dos dias atuais?

Imagine você: Como poderia haver uma escassez de mão de obra em Boston, uma área metropolitana conhecida por sua concentração de faculdades e universidades com uma forte tradição de fornecer uma força de trabalho treinada para as indústrias da região?

Estamos falando de uma área que abrigava, em 2009[1], mais de 80 faculdades privadas e universidades, que empregavam 68.600 pessoas e que atraiam mais de 360.000 estudantes de todo o mundo.

A resposta pode ser encontrada em um estudo mais recente, lançado pela Northeastern University. Segundo o documento, a maioria das ofertas de emprego na cidade de Massachusetts, prevista para os próximos sete anos, não exigirá um diploma de faculdade. E mais: o sistema de educação no estado não conseguirá treinar pessoas suficientes para preencher as vagas de emprego esperadas.

Massachusetts não é a única em suas necessidades de força de trabalho qualificada. Essa é também uma realidade que começa a fazer parte do nosso horizonte, aqui no Brasil. A globalização impacta os diversos segmentos de maneira planetária, o que leva a um alinhamento das tendências, em qualquer ponto do planeta.

A grande questão é que está cada vez mais difícil para as faculdades acompanhar a demanda por uma força de trabalho qualificada, o que tem levado muitas empresas a criarem suas universidades corporativas ou qualificarem seus empregados em cursos específicos, ofertados por instituições certificadoras. Essa é uma característica de determinados setores e certas áreas-chave. Nelas o treinamento, e o desenvolvimento de habilidades, são muito específicos, e muitas vezes não exigem, propriamente, um diploma de bacharelado.

Esse quadro, portanto, deixa claro: há uma mensagem significativa sendo entregue aqui. Tudo indica haver uma desconexão entre o ensino superior e a indústria, ou mercado de trabalho, quando se trata de identificar rapidamente as necessidades da economia e, a partir daí, determinar a melhor maneira de educar e formar um contingente de pessoas qualificadas. O desajuste entre a oferta e a demanda dos profissionais evoluiu nas últimas décadas, e isso pode levar à suspeita de que o ensino superior talvez não esteja "recebendo a mensagem".

O fato é que há uma lição de casa a ser feita por cada uma de nossas instituições educacionais, esteja ela em que nível for. É preciso reconhecer a responsabilidade do sistema educacional nesse contexto, pois não se trata somente de educar os alunos, mas também de oferecer-lhes as habilidades que proporcionam flexibilidade em sua carreira. Nem todos os estudantes vão procurar, ou exigir, um diploma de nível superior para ter sucesso. Alguns podem querer certificações e licenças além do crédito acadêmico, ou em vez de um diploma.

É importante para as escolas, portanto, ampliar o horizonte e expandir a oferta de alternativas educacionais de qualidade, sendo flexíveis, mas ao mesmo tempo pragmáticas, na definição da missão de educar para o futuro. Nessa perspectiva, é preciso interagir mais com o ecossistema político, econômico e empresarial, conversando regularmente com economistas, governos e gestores indústrias para analisar o futuro. E então, vamos bater um papo?


[1] Segundo dados do Bureau of Labor Statistics

segunda-feira, julho 16, 2018

Ambiente 4.0

Da obsolescência aos novos paradigmas 
Por Marcelo Freitas

Dois terços dos universitários formados lutam para conseguir um emprego. 
O que está acontecendo com a preparação desses jovens?

Durante muito tempo, o diploma universitário era tido como o sinal mais forte de prontidão para o trabalho. Gastava-se, como de resto ainda se faz hoje, muito tempo escolhendo uma carreira e uma escola onde se poderia melhor aprender os conhecimentos necessários para se dar bem na profissão escolhida. Por um determinado lapso de tempo é possível que essa estratégia tenha dado certo, porém, hoje em dia, o que se vê, de maneira geral, é um crescente contingente de jovens que, mesmo de posse do tão sonhado diploma, permanece à margem do mercado de trabalho.

Avaliando de perto a situação, poderíamos nos atrever a listar várias razões para tal. Da parte dos empregadores, por exemplo, o alto nível de exigência imposto pela concorrência cada vez mais acirrada, tem feito com que a graduação tenha se tornado obsoleta, antes mesmo do estudante terminar o seu curso. As mudanças na arena competitiva, assim como os avanços trazidos por tecnologias disruptivas contribuem para mudar o cenário rapidamente.

Reclamam também as empresas de que falta a esses jovens formandos as habilidades sociais necessárias para a ocupação dos postos de trabalho em aberto, como a capacidade para lidar com a resolução de problemas, a ausência de um pensamento crítico, a dificuldade de comunicação e trabalho em equipe.

Importante observar ainda que, embora o nível de obsolescência dos conteúdos seja extremamente elevado, muitas das dificuldades encontradas pelos jovens na sua vida adulta dizem respeito a comportamentos e atitudes, a habilidades que não estão diretamente ligadas aos referidos conteúdos, mas sim, à construção do capital social. “Saber Conviver” já era um dos pilares da educação enunciados por Jacques Delors nos quatro pilares da educação para o século 21. E tal tem se mostrado uma realidade.

Como resultado, os jovens adultos de hoje já não têm um plano de carreira tão claro e simples como as gerações anteriores. Muitos acabam à deriva durante sua terceira década de vida, fruto da crescente dificuldade em conseguir espaço no mercado de trabalho, como demonstram as estatísticas de emprego.

Querendo, ou não, toda essa problemática recai sobre a escola e seu papel na formação dos alunos. Do ponto de vista econômico e familiar, como podem os alunos, e seus pais, se sentirem seguros de que haverá retorno sobre um dos maiores investimentos que estão prestes a fazer, o da educação de seus filhos?

Sou levado a pensar que tal situação tem como raiz duas grandes premissas: o foco no conteúdo e a expectativa de que todos os alunos tenham um rendimento comum nos diversos campos do conhecimento.

Em relação ao primeiro, enfatizar o repasse de conteúdos numa sociedade onde a informação está na palma da mão é, no mínimo, obtuso. Nesse ambiente de acesso fácil a qualquer tipo de conteúdo, são as habilidades e atitudes em relação às informações que determinam o aproveitamento do aprendizado. Somado a isso, a integração traz consigo o conceito de aprendizagem colaborativa e cocriação, pressupondo, portanto, ênfase nas habilidades sociais, de comunicação e relacionamento.

O segundo equívoco no processo educacional, consiste em utilizar um modelo que aposta na premissa de que todos os alunos tenham o mesmo nível de aproveitamento nos diversos campos do conhecimento. Tal situação faz com que se crie um exército de alunos medianos e se deixe de explorar as suas reais capacidades e habilidades em campos específicos, onde suas aptidões lhes dariam vantagens competitivas em termos de capital humano. As pessoas não são iguais e é assim que a escola deveria lidar com elas. Cada um no seu quadrado, como diz o dito popular. Plataformas adaptativas estão ajudando e melhorar o desempenho médio dos alunos, porém, ainda se fixam na mesma premissa.


Embora a tecnologia já esteja apta a proporcionar ferramentas de aprendizagem personalizada, os sistemas educacionais, com suas avaliações em massa e o grande funil dos vestibulares e seus conteúdos intermináveis, acaba por reforçar junto às escolas as premissas anteriores, forçando-as a desenvolver alunos medianos. Se trabalhassem para fortalecer as aptidões inatas, as chances de desenvolvimento de profissionais de patamar elevado seriam significativamente maiores.

Em um sistema mais flexível, os alunos perceberiam que o bacharelado não é a única porta de entrada para atividades especialistas que o mercado demanda. Uma gama crescente de postos de trabalho esta disponível para além dos diplomas e tende a crescer. É o caso dos certificados de trabalho e das certificações que organismos profissionais, ou a própria indústria, podem emitir. Algumas dessas certificações, aliás, são a porta de entrada para uma proporção significativa dos empregos que não serão facilmente automatizados por robôs.

Uma melhor divisão nas competências que deveriam ser adquiridas ao longo dos diversos níveis de ensino, também poderia somar muito no retorno do investimento em educação. Nas etapas básicas, por exemplo, a ênfase poderia ser dada na aquisição de habilidades e atitudes, posto que é o momento ideal de construção da pessoa, do elemento humano. Trata-se de desenvolver habilidades como o trabalho em equipe, a convivência com as diferenças e os conflitos.


Metodologias de solução de problemas, de design thinking e de construção de projetos, assim como competências como o raciocínio lógico, a capacidade de análise e síntese, liderança e as diversas formas de expressão deveriam ocupar o espaço hoje tomado por conteúdos que, diga-se de passagem, os alunos jamais usarão na sua vida prática.

Nos níveis superiores, os conteúdos mais técnicos e pertinentes às atividades profissionais e à carreira deveriam, aí sim, ocupar mais espaço nas matrizes curriculares. Uma vez que os alunos de ensino superior já escolheram suas carreiras com base em suas aptidões, seu desenvolvimento nos cursos deveria ser estimulado pela descoberta de novas experiências, aprofundamento em pesquisas, estudos no exterior e estágios diversos. Tais ações não só os fortalecerá em termos de habilidades interpessoais demandadas pelo mercado de trabalho, como de resto lhes proporcionará um aprofundamento em teoria e prática dos conhecimentos adquiridos.

Em síntese, as mudanças estão acontecendo em todos os segmentos da sociedade e de maneira acelerada como jamais visto. É chegado o momento de também deixar que aconteçam na Educação. Para tanto, é preciso repensar o seu modus operandi, seu modelo de negócios e, principalmente, reconhecer que os resultados alcançados pelo sistema atual não vêm respondendo à altura quando confrontados às expectativas dos diversos públicos a que serve. Está posto, portanto, um dos maiores desafios desse momento, qual seja o de realizar um verdadeiro mergulho em profundidade na estrutura do sistema educacional, nas suas práticas e seu modelo de sustentabilidade.

segunda-feira, junho 04, 2018

Edtechs e as escolas

Uma startup chamada escola 
Por Marcelo Freitas

O universo das startups está revolucionando os mercados. 
Não seria o momento de dar à escola um novo modelo de negócios? 


Você sabe o que é uma inovação disruptiva? Inovações disruptivas são fruto de novas cabeças, nascem de oportunidades apresentadas pelo mercado e provocam mudanças bruscas nos segmentos de negócios onde surgem. Isso porque a aposta na inovação disruptiva significa criar tecnologias, produtos e serviços mais acessíveis, em novos modelos de negócios, que rompem com o status quo existente.

Nas últimas décadas, a tecnologia alterou a natureza dos mercados de forma inesperada e, muitas vezes, radical, o que provocou o surgimento de inúmeras oportunidades. Nessa nova arena, o “adequado” já não é mais suficiente. Ser “grande” não é mais sinônimo de ser imbatível e os ciclos de vida dos produtos passaram de anos, para meses.

Ao mesmo tempo, a tecnologia tornou possível atender diferentes públicos de maneira simultânea e singular, na medida em que os bits foram tomando o lugar dos meios físicos, em escala crescente. E nesse caso, qual o impacto sobre as escolas tradicionais e seus modelos de negócios?

Já faz tempo venho repetindo, quase como um mantra, que a Educação, enquanto “indústria”, corre sério risco de se ver engolida por empresas dos segmentos de tecnologia e de entretenimento. Pois o que parecia ser apenas fruto de uma leitura estratégica, na medida em que o tempo passa, vai caminhando para se tornar uma realidade.

Com novos programas profissionais, gigantes da tecnologia como Amazon, Google, Microsoft, entre outros, estão aumentando sua presença no segmento educacional. Ela acontece na oferta de aplicativos, ferramentas e serviços, mas também está presente na forma de uma crescente participação em plataformas de Ensino à Distância, como edX e Coursera, com a oferta de mais cursos direcionados a pessoas que buscam qualificação em ferramentas tecnológica, ou assuntos os mais diversos.

Com esse movimento buscam também ampliar a oferta de profissionais qualificados para abastecer o segmento de tecnologia, qualificando desenvolvedores para utilizarem seus próprios sistemas. Dessa maneira, estão se dedicando a oferecer aos estudantes a oportunidade de desenvolver novas habilidades profissionais em áreas críticas como a computação em nuvem. Ao mesmo tempo, ampliam sua influência no segmento educacional, ditando quais conteúdos devem ser desenvolvidos e, mais que isso, ganhando espaço no mercado de Ensino.

Internamente, também, as gigantes já estão revendo suas estruturas para melhor se qualificarem. A Amazon, por exemplo, contratou uma especialista da Escola de Graduados em Educação, de Stanford, para ser a nova Diretora de Ciência e Engenharia de Aprendizagem. Ela se encarregará de capacitar a enorme força de trabalho da Amazon, mas também levará para o segmento de tecnologia a expertise nos processos de ensino e aprendizagem. Esse movimento estratégico vai tornando a Amazon, aos poucos, sua própria universidade. 

Outro exemplo: o novo Microsoft Professional Program in IT Support, oferece um plano de estudos composto de 13 cursos e 1 projeto aplicativo final, através da plataforma edX. Mais espaço comercial, participação de mercado e competência educacional.

Nesse processo, as empresas de tecnologia vão se apropriando da expertise das instituições educacionais para, em seguida, oferecer novos e inovadores formatos de cursos, produtos ou serviços. Um exemplo dessa estratégia de apropriação de competências foi apresentado pela gigante russa Yandex, que anunciou recentemente a associação com a Universidade de Tel Aviv, com vistas ao lançamento de um programa curricular de TI.

Tal situação traz consigo um fato novo: as certificações vão ganhando espaço no mundo do trabalho e, aos poucos, tomando o lugar dos diplomas. Uma silenciosa mudança disruptiva, que vai tirando do segmento educacional a primazia dos processos de ensino-aprendizagem, assim como retira das escolas a referência como templo do conhecimento.

Todo esse movimento chama também a atenção de outros agentes, que se movimentam na mesma direção. É o caso de grandes investidores, que buscam ampliar suas participações em startups, em especial aquelas que lidam com inteligência artificial, cuja utilização é tida por muitos como sendo responsável pela próxima grande revolução no campo da Educação. Andrew Ng, considerado o guru da Inteligência Artificial – IA, anunciou a criação de um fundo, com aporte inicial de 175 milhões de dólares, para apoiar startups focadas em IA. O primeiro passo foi criar uma incubadora de startups dedicadas a construir empresas transformadoras e melhorar a vida das pessoas.

Andrew Ng foi professor de Ciências da Computação na Universidade de Stanford e cofundador da plataforma Coursera. Segundo ele,

“Faz aproximadamente 100 anos que a eletricidade transformou 
todas as indústrias importantes. A Inteligência Artificial já avançou ao 
ponto em que detém o mesmo poder”. 
Andrew Ng, na conferência AI Frontiers.

Considerando todo esse movimento estratégico, não seria o momento das Instituições Educacionais repensarem seus modelos de negócios, seus serviços e produtos, e começarem a se movimentar, criando barreiras de entrada? Movimentos disruptivos são silenciosos, começam pelos flancos até que tenham construído uma sólida posição de ataque. Uber, AirBnb e outras estão aí para comprovar. Por que não antecipar e transformar a escola numa “grande startup”?


sexta-feira, março 09, 2018

Gestor profissional

Profissionalização: o dilema na escolha do gestor


A proliferação do uso de tecnologias de gestão mais arrojadas nas escolas tem sido um fator determinante para a contratação de profissionais gabaritados para assumir a direção das escolas.

Não se pode creditar somente ao acirramento da concorrência o avanço do processo de profissionalização nas instituições educacionais. A sociedade como um todo se transformou. Está mais exigente. Os padrões de qualidade se elevaram em virtude da ampliação e globalização dos mercados. E o consumidor, por conseguinte, está mais criterioso... mais comparativo... mais atento aos diferenciais de qualidade.

Assim sendo, o mercado das empresas de recursos humanos foi atraído para um novo segmento: o da Educação.

Do ponto de vista dos profissionais de Administração, certamente a abertura desse novo nicho é recebida com aplausos. Para as escolas, entretanto, caracteriza-se como uma encruzilhada: capacitar os antigos profissionais das carreiras educacionais ou captar executivos no mercado? São ambas alternativas viáveis... porém sempre com seus prós e contras.

Capacitar antigos colaboradores é importante. Entretanto, forma-los para uma carreira de direção implica tempo e custos elevados e nenhuma garantia de que, uma vez formados, o concorrente não possa expatriá-los para suas fronteiras.

Recrutar novos profissionais com perfil executivo, por sua vez, significa trazer novas experiências, métodos e tecnologias, várias delas ainda estranhas ao ambiente escolar. Implica, também, disputar esses profissionais com empresas de outros segmentos, muitas vezes em desvantagem. Maior poder de remuneração, oferta de uma boa carteira de benefícios e programas de capacitação mais arrojados são fatores que tornam as empresas de outros segmentos mais atraentes aos olhos dos executivos profissionais.

O fato é que a maioria das instituições educacionais ainda se sente desconfortável no momento de tomar uma decisão a respeito do assunto. Nesse sentido, um bom começo é avaliar o seu Plano de Desenvolvimento Institucional – PDI, ou o Planejamento Estratégico. Através deles, pode-se perceber como a escola pretende caminhar e, como conseqüência, qual o perfil dos profissionais que demandará para viabilizar o seu planejamento.

Considerando o tempo necessário para o atingimento dos objetivos propostos e os recursos projetados, pode-se decidir entre formar internamente seus futuros dirigentes ou busca-los no mercado.

Para tanto, importante, antes de mais nada, ter em mãos o perfil deste profissional. Descrever quais habilidades e competências dele serão exigidas. Eis algumas delas:


  • Ter uma visão abrangente da instituição;
  • Encarnar os valores essenciais da vida acadêmica, perante os diversos públicos de relacionamento da escola;
  • Ser capaz de traduzir para o conjunto social os princípios éticos da instituição;
  • Ter capacidade de articulação entre as questões e necessidades do presente e uma visão de futuro;
  • Com base no que apreendeu da coletividade onde trabalha, ter em mente uma proposta estratégica e não apenas a rotina do seu cargo.
  • Trabalhar com foco em resultados.


Não se pode esquecer que, seja qual for o caminho, o gestor educacional será o ponto de referência para toda a comunidade educativa. A face mais visível da escola sempre será o seu dirigente.

Ressalte-se, finalmente, que tão importante quanto a captação deste profissional é a sua retenção. Instituições prestadoras de serviços educacionais são empresas de longos ciclos de negócios. Daí a importância de um ambiente de tranqüilidade que possibilite ao dirigente apresentar resultados. Um período mínimo de continuidade do gestor no cargo é, portanto, um fator importante. Caprichar no processo seletivo deste profissional, estabelecer uma boa carteira de benefícios e uma clara política de remuneração atrelada a resultados pode significar a diferença entre crescer ou implodir. Façam suas escolhas.


(Artigo de minha autoria publicado pela Revista Gestão Educacional, em abril/2017).

sábado, dezembro 23, 2017

Professores empreendedores

A Educação precisa de “professores caras de pau”



Quem não tem um amigo cara de pau, que atire a primeira pedra. E quem disser que não tem, não sabe o que está perdendo. É bem provável que na sua adolescência, você já tenha passado por aquela situação de estar numa balada e, de repente, cruzar o olhar com aquela pessoa que faz disparar os batimentos cardíacos. Acontece que você não a conhece e, portanto, não sabe bem como abordá-la.
Mas eis que surge aquele seu amigo mais desinibido, que a turma chama de “cara de pau”. Embora ele também não a conheça, sem a menor cerimônia, vai lá, se apresenta pra ela e, do nada, faz a ponte entre você e a pessoa. Ele não tem receio de arriscar. Nem pensa que pode ser ridicularizado. Ele se apresenta, coloca a situação e, com isso, ganha a oportunidade de conquistar a simpatia da pessoa.

O que tem isso a ver com a Educação e os professores? Eu explico.

Na sala de aula muitas vezes temos uma situação um pouco semelhante. Mudar as práticas tradicionais de ensino continua a ser o principal desafio dos líderes de tecnologia educacional, mas a implementação de novas práticas digitais e o uso da tecnologia na sala de aula não é possível sem o apoio dos professores. Portanto, motivar os professores a mudar suas práticas tradicionais de ensino é, hoje, uma prioridade.

Uma experiência levada a termo pela antropóloga Lauren Herckis, na Carnegie Mellon University, uma instituição americana líder na pesquisa educacional, buscou identificar por que os professores relutavam em abandonar seus métodos tradicionais para adotar novas práticas apoiadas pela tecnologia. Durante mais de um ano, a Dra. Herckis observou os professores da Carnegie Mellon, numa maratona que incluiu assistir a todas as reuniões acadêmicas e ler e-mails institucionais dos professores, de modo que pudesse, a partir daí, descobrir por que eles não estavam mudando seus estilos de ensino.


Depois desse exaustivo trabalho, a antropóloga descobriu, em primeiro lugar, que muitos professores e acadêmicos se agarram à sua própria ideia do que seja uma "boa educação", ou um “bom método de ensino”. A partir daí, sua conclusão foi surpreendente: os professores têm uma enorme necessidade de se apegar e manter os seus próprios métodos porque têm muito medo de parecerem ridículos, na frente de seus alunos. Esse temor de serem ridicularizados faz com que não tentem algo novo.

Na verdade, é como se lhes faltasse aquela característica do amigo cara de pau, que não se preocupa em demonstrar suas dificuldades, para, a partir delas, construir uma ponte com seus alunos. Talvez essa postura tenha sido fruto de décadas a fio, onde o professor foi visto como um ser humano que tudo sabia e que, em hipótese alguma, poderia ter suas habilidades confrontadas. Ou não deveria mostrar suas vulnerabilidades.

Acontece que o mundo mudou e não houve muito tempo para que esses professores, oriundos de uma geração analógica, se adaptassem e atingissem a mesma destreza para lidar com toda essa tecnologia que seus alunos, das novas gerações. Esses já nasceram digitando e brincando em telas sensíveis ao toque. Aprenderam muitas coisas pelas mais diversas mídias, antes mesmo de colocarem os pezinhos na escola. E quando essas duas realidades foram então colocadas frente a frente, estabeleceu-se um choque entre culturas.

Um Relatório intitulado “Tendências na Aprendizagem Digital: Construindo capacidade e competência dos professores para criar novas experiências de aprendizagem para os alunos”, publicado pela Blackboard  e Project Tomorrow , se concentrou em avaliar a disposição dos professores para utilizar ferramentas digitais para transformar a aprendizagem. O relatório envolveu um universo de 38.000 professores, 29.000 pais e 4.500 administradores de escolas de ensino fundamental nos Estados Unidos, e apresentou opiniões sobre questões ligadas a aprendizagem digital, como parte do projeto de pesquisa Speak Up 2016 .

A partir dele, ficou patente aos líderes educacionais que o sucesso de qualquer iniciativa digital nas escolas depende da liderança do professor na sala de aula. Este relatório mostrou que as ferramentas, conteúdos e recursos digitais podem ajudar a elevar as competências dos professores. Também forneceu evidência do valor que a tecnologia pode trazer para as experiências de aprendizagem dos alunos.


É evidente que suas conclusões devem ser avaliadas com cautela, uma vez que se trata de um ambiente diferente do que temos no Brasil. Entretanto, em um mundo globalizado, é importante conhecer algumas das suas constatações, posto que poderão, em determinado momento, se repetirem por aqui.

Eis então as três principais conclusões desse relatório sobre tendências digitais de aprendizagem:

Os pais acreditam que o uso eficaz da tecnologia na sala de aula ajuda as crianças a desenvolver as habilidades necessárias para a vida adulta.
Hoje, o grande desafio, é motivar os professores para que alterem suas práticas tradicionais de ensino, e passem a usar a tecnologia na sala de aula.
Os professores que praticam a aprendizagem híbrida estão elevando os padrões de aprendizagem e estabelecendo novos processos que atendem às necessidades de todos os alunos.

Ao que parece, essas conclusões poderiam, muito bem, se aplicar à nossa realidade. E pelos seus resultados tudo indica que, em nome da melhoria da Educação, poderíamos ser todos nós, educadores, um pouquinho mais caras de pau, afinal, somos humanos e a educação se faz, principalmente, pela capacidade de nos colocarmos na posição de eternos aprendizes.

Fonte: Observatório de Innovación Educativa

Este artigo foi publicado pela Revista Linha Direta / 2017

quinta-feira, novembro 23, 2017

Tecnologia e Educação

Tecnologia compete ou completa ?
Marcelo Freitas


Numa das minhas oficinas para estudantes do Ensino Médio, um aluno, sentado na última carteira da sala de aula, chama minha atenção para tecer um comentário. Na verdade, para contar um fato curioso.

Como um dos melhores alunos de disciplinas como história, geografia e sociologia, conta ele, sempre é procurado por colegas que querem saber o segredo das boas notas nas avaliações. Geralmente, Rafa indica aos colegas alguns canais de vídeo, no Youtube, ou documentários e filmes, de canais a cabo, como History ou NatGeo. Eles funcionam como um complemento ao que é dado na escola, além de ser uma boa fonte de estudos a partir do entretenimento. Videoaulas também são uma opção, porém, diz ele, às vezes um pouco mais enfadonhas.

Mas, segundo o Rafa, o grande pulo do gato está nos games de estratégia que joga. São jogos temáticos, que exigem o exercício de competências, como visão integrada do ambiente; diplomacia e capacidade de articular diversos fatores socioeconômicos para ganhar mercados, territórios ou mesmo, guerras. Jogados geralmente em rede, esses games se desenrolam sobre o cenário de um mapa mundi, tendo fatos e personagens históricos a apoiar o seu roteiro.

Tudo isso faz com que o Rafa tenha, na ponta da língua, a localização e as principais cidades de todos os países ali presentes. Faz também com que tome contato com dados e marcos históricos, governantes e sistemas de governo diversos, e elementos da economia desses países. Uma avalanche de informações que seria difícil memorizar, se o caminho fosse um livro didático tradicional.
Ao contrário, como elemento de entretenimento, essas informações são apresentadas nos jogos de forma totalmente contextualizada e lúdica. Além disso, a partir dos movimentos feitos pelo jogador, em suas tomadas de decisão, os games permitem que as relações de causa e efeito sejam imediatamente sentidas. Ou seja, são simulações da vida real em tempo real, situação inimaginável a partir das páginas de páginas impressas.

 Em outra intervenção, Júlia comenta que estuda, geralmente, a partir de aulas disponíveis no Youtube, ou em sites de educação. Ela também assiste canais da Tv a cabo que apresentam reportagens e programas temáticos. Quando criança, relata que assistia canais de entretenimento educativo, como Discovery Kids e Disney. Naquela época, segundo ela, transitava pela rede social infantil Club Penguin, onde aprendeu noções de cidadania, negócios e boas maneiras.

Relatos como esses são muito comuns em um ambiente povoado de jovens. O que inclui a escola, evidentemente. Mas por que ela, muitas vezes, despreza essas informações ou reluta em usar tudo isso a seu favor?

A explosão da tecnologia promoveu, e o vem fazendo em escala crescente, uma verdadeira desordem no sistema de educação tradicional. O acesso à informação se tornou instantâneo e a forma de fazê-lo se apresenta das mais diversas maneiras, quebrando a estrutura secular da sala de aula.
A grande questão que se coloca é: como a escola vai lidar com isso?

Ela pode continuar ignorando esse movimento e, com isso, dando espaço para que outros segmentos da economia avancem sobre o seu mercado. Ou pode fazer o sentido inverso, transformando esses agentes em importantes parceiros do seu negócio. Nesse caso, prefiro pensar nas redes de educação como protagonistas, buscando estabelecer relações estratégicas com estúdios de animação ou produtores de games, incrementando e atualizando assim o seu arsenal didático e substituindo o convencional por algo novo e muito, muito mais atraente. Algo que os jovens fiquem contando os minutos para usar, pois será prazeroso e, ao mesmo tempo, instrutivo.

Para que esse movimento realmente aconteça, o segmento educacional precisa, mais que nunca, mirar o cliente, não o produto, como vem acontecendo há décadas. A exemplo da escola, o desempenho das organizações focadas no produto piorou, porque o mundo em que operam mudou além da sua capacidade de adaptação ou evolução. Os princípios pelos quais organizam seus processos se tornaram ultrapassados. E a tecnologia, e sua expansão, é uma realidade irreversível, que precisa ser considerada e integrada ao negócio.

Essa tecnologia potencializou outras formas de aprender e levou para fora da escola as possibilidades de aquisição de conhecimento. A era do tamanho único, do perfil padrão, do modelo genérico e dos processos rígidos em que se baseou a escola do século passado não encontra mais espaço. Ela, a exemplo de outros segmentos, está sendo impactada por algo novo, que o avanço da tecnologia tornou possível, chamada “personalização”. E nesse aspecto, indústrias como a do entretenimento seguem em passos mais acelerados que a Educação.

Elas rapidamente entenderam e estão dando respostas aos anseios dos clientes, que esperam por produtos configurados para as suas necessidades, cronogramas de entrega ajustados às suas agendas e formas de pagamentos que lhes sejam convenientes. É por essas e outras que uma aproximação com essas empresas poderá encurtar caminhos e rejuvenescer a Educação, de maneira mais rápida e eficaz.

As boas práticas de gestão e mercado, assim como os recursos tecnológicos, podem oferecer às escolas, e empresas do segmento educacional, um trampolim para uma nova era.

Nessa perspectiva, a aprendizagem de conceitos e o desenvolvimento de competências são tarefas que podem ser impulsionados por recursos tecnológicos como games, plataformas adaptativas, canais de vídeo, ambientes virtuais Maker e redes sociais fechadas, que se traduzem em ferramentas mais apropriadas aos novos tempos. É desse modo que a tecnologia complementa a Educação e fortalece a escola. Caso esse caminho não seja seguido, entretanto, poderão, aí sim, competir com ela.

terça-feira, agosto 01, 2017

Posse de bola não é gol.

Como as escolas podem melhorar a gestão de seus processos escolhendo os indicadores adequados.


No inverno de 2014, o Brasil era tomado por uma bolha de euforia. Em meio às crises políticas e um noticiário econômico nada animador, o circo do futebol fazia unir ideologias antagônicas em torno da seleção brasileira de futebol. A Copa do Mundo era a cortina de fumaça que trazia a alegria de volta ao cenário tupiniquim. Era a pátria de chuteiras em campo.

Se não encantava pela magia da seleção de Telê Santana, o “selecionado canarinho” avançava no torneio e chegava às semifinais contra a simpática, e politicamente correta, seleção da Alemanha. O palco não poderia ser mais acolhedor. Mineirão lotado, hino nacional cantado à capela e um belo horizonte como moldura. Mas...

Se hoje um extraterrestre fizesse um “pitstop” no Brasil e pegasse um dos jornais da época, lá encontraria os principais números do jogo:
  • ·        Posse de bola: Brasil, 52%. Alemanha, 48%.
  • ·        Chutes a gol: Brasil, 18 . Alemanha, 14 .
  • ·        Faltas cometidas: Brasil, 11. Alemanha, 14.
  • ·        Impedimentos: Brasil, 3. Alemanha, 0.
  • ·        Minutos com a bola: Brasil, 32. Alemanha, 30.

O ET não teria dúvidas em adivinhar a sequência. Enfim, Brasil na final. Mas todos sabemos, amargamente, não foi bem isso o que aconteceu. Alemanha 7, Brasil 1.

Esse episódio nos leva a pensar em uma situação muito comum no mundo corporativo, e a escola não está fora dele. A eleição de indicadores de performance para auxiliar a gestão da  organização na tomada de decisões. É a partir do seu monitoramento, que muitas delas traçam planos estratégicos, conferem o andar dos processos, definem as prioridades e estabelecem objetivos e metas.

Acontece porém que, em muitos casos, esses indicadores com o tempo se afastam dos reais fatores de sucesso de uma organização. Isso faz com que as lideranças passem a buscar a melhoria do desempenho em processos que já não são mais relevantes para o resultado, em virtude de mudanças no ambiente, seja ele interno ou externo.

O exemplo da nossa seleção fala bem de perto nesse caso, e serve para mostrar esse desvio. O objetivo do jogo de futebol é fazer gol, e tentar não levar. Mas muitos técnicos se prendem a estatísticas como essa para justificar o injustificável. Aproveitando a contundência do placar naquela fatídica partida, é importante ressaltar algumas lições importantes que podemos levar para a escola:

Posse de bola não é gol. Qual seleção foi mais eficiente: o Brasil, que se manteve o maior tempo com a bola nos pés, mas não foi capaz de converter isso em gols, ou a Alemanha, que mesmo não tendo superioridade na posse da bola, foi objetiva em transformar as oportunidades que teve em vantagem no placar? Isso se chama foco no resultado!

Chute a gol não conta ponto. Tentar, apenas, não adianta. É preciso eficiência nos processos para gerar resultados. Treinar a equipe, tendo como base o objetivo final, é fundamental. Agregar valor é uma missão de todos no time, cada um na sua esfera de competência. E nesse ponto é preciso que haja eficiência e produtividade.

Impedimento é retrabalho. Quando um jogador é pilhado em impedimento, todo o trabalho de construção da equipe é jogado por terra. A falha de posicionamento de apenas um atleta representa o mesmo que a existência de um elo fraco no processo. Daí a necessidade de ter todas as atividades alinhadas com a proposta de valor da organização, neste caso particular, os processos que realmente são necessários à eficiência da escola.

Em todas essas questões, um bom planejamento, e um olhar crítico sobre a necessidade de cada processo existente, são fundamentais. Nesse aspecto, é importante que haja desprendimento dos gestores para abandonar práticas obsoletas quando se constata que o ambiente mudou. Em muitos casos, é preciso promover a disrupção, abandonar definitivamente processos e modelos que tornaram aquela escola um expoente durante muitos anos, mas que já não conseguem mais responder à proposta de valor da escola junto aos seus clientes.

Para tornar mais ágil e eficiente essa análise, o auxílio de recursos tecnológicos, hoje disponíveis em abundância, tornam o trabalho mais assertivo, reduzindo o risco implícito nas decisões. Alguns deles, como o Panorama Escola, uma plataforma que agrega recursos de pesquisa e dashboard de gerenciamento de indicadores, podem encurtar a distância entre a obsolescência e a efetividade. Essa plataforma, criada pela Corporate*[1], utiliza conceitos de business intelligence, permitindo ao gestor cruzar dados internos e externos para avaliar possíveis desalinhamentos e mudanças de rumo do mercado.

Assim como um técnico de futebol, os gestores educacionais devem ter em mente o foco principal e os objetivos a serem alcançados. Pesquisar, analisar e acompanhar os processos-chave por meio de indicadores eficientes, faz com que suas decisões não se baseiem em uma cortina de fumaça.
Ao contrário, trabalhar com afinco para tornar melhores velhos processos que foram sucesso no passado, mas não agregam valor à demanda atual da escola, significa investir nos “impedimentos” e nas “bolas chutadas para fora”. E a escola não pode ser eficiente em tomar de 7 a 1, não é mesmo?

 (Artigo publicado pela Revista Linha Direta, ed. 231/ junho 2017)




[1] Saiba mais em www.corporateconsultoria.com

segunda-feira, julho 25, 2016

Preparando pessoas para a sociedade 4.0

Por Marcelo Freitas



Um dos objetivos da escola, e talvez o principal deles, é preparar as pessoas para a vida adulta. Estabelecer pontos de referência em relação aos diversos saberes, socializar para a vida em comunidade, desenvolver competências para o universo do trabalho são colunas que devem sustentar a estrutura de uma boa escola. Foi-se o tempo em que dela era esperado apenas o repasse de um inesgotável volume de conteúdos e a padronização de uma série de habilidades e conhecimentos, demandados por uma sociedade com as características da era pós-revolução industrial.

As mudanças sociais e econômicas, a integração do mundo em um único bloco e a explosão das novas tecnologias trataram de mudar toda a paisagem. Conexão virou a palavra que define o modo como pessoas, e coisas, estabelecem relações, sejam comerciais, sejam afetivas, sejam sociais ou funcionais. Se por um lado a tecnologia encurtou distâncias entre os povos, ela também criou elos, ou conexões, entre pessoas e máquinas. E é cada dia maior a maneira pela qual essas conexões se expandem, chegando agora à chamada “internet das coisas”.

Esse novo ambiente, onde a rápida automação de processos se une à internet das coisas, promete mudar radicalmente a maneira como fazemos nossas atividades. E na indústria isso acontece com um impacto ainda maior. Com robôs cada vez mais participativos no processo, a exigência de profissionais qualificados crescerá assombrosamente. Estaremos diante de uma nova sociedade e, portanto, é preciso pensar rapidamente o papel da escola e como ela lida com isso.

Para começar é importante estabelecer um paradigma novo em relação ao perfil dos alunos que ela deverá formar e dos especialistas que irá demandar. Na chamada indústria 4.0, será exigido dos profissionais o desenvolvimento de uma visão multidisciplinar para lidar com a manufatura avançada, que deve revolucionar as linhas de montagem e gerar produtos inovadores e customizados em um futuro próximo. Como preparar os alunos para isso? Qual perfil de profissional a escola deverá desenvolver?

Em escala crescente, técnicos deixarão de exercer funções repetitivas, como o encaixe de uma peça em um smartphone, passando a se concentrar em tarefas mais estratégicas e no controle de projetos. Essa situação significa uma tendência de aumento no número de pessoas com alta qualificação no mercado. Qualificação essa vai do preparo técnico ao desenvolvimento de novos perfis de liderança, capazes de deixar de lado o controle de horas de trabalho e indicadores de produtividade hoje existentes, para se concentrar na capacidade de geração de resultados e valor agregado, por parte das equipes lideradas.

Esse novo cenário marcado pela manufatura avançada representa um renascimento das próprias indústrias. Isso significa que elas voltarão a ter um ambiente desafiador, muito propício ao espírito empreendedor e inovador dos jovens em formação. Esse novo ambiente apresenta um conjunto de fatores altamente atraentes para a nova geração, pois implica entender a convergência entre informação, TI, eletrônica e hardware, ingredientes que mexem com a cabeça desses jovens da geração digital.

A internet das coisas, portanto, estará presente nos diversos ambientes, da casa ao trabalho, passando pelo entretenimento, tratamentos de saúde e ambientes de aprendizagem. Quem quiser ocupar o seu espaço deverá se preparar. Para ser empregado nas fábricas do futuro, por exemplo, os profissionais deverão desenvolver novas habilidades com vistas ao aumento da produtividade, como aprender a trabalhar lado a lado com robôs colaborativos. Isso significa dizer que o profissional não ocupará apenas uma parte específica da linha de montagem, mas se envolverá em todo o processo produtivo, o que demandará o exercício de tarefas e funções mais complexas e criativas. Daí a necessidade da escola se concentrar em desenvolver nos seus alunos, a capacidade analítica para cruzar dados e tomar decisões a partir de informações fornecidas por máquinas e aplicativos, em tempo real.

Por isso mesmo é importante, senão vital, que ela esteja preparada e aberta às mudanças, tenha flexibilidade para se adaptar à nova realidade e se habitue a uma aprendizagem multidisciplinar contínua. Isso não significa que o conhecimento técnico perdeu importância no currículo. Apenas que ele não é suficiente. Conceitos e espaços limitados, como no tempo da revolução industrial, não sobrevivem “a uma consulta no Google”. É preciso trabalhar o desenvolvimento de competências, portanto, em diversas frentes. Os educadores precisam gostar de tecnologia, de inovação e, principalmente, ter curiosidade para aprender e acompanhar uma sociedade que sempre se reinventa a cada momento.

As atividades hoje, e mais ainda no futuro, transcendem, portanto, os limites da sala de aula. Esta, aliás, deve ser completamente esquecida da forma como a temos hoje. É importante recriar esse espaço e ampliar as conexões com o ambiente virtual, familiar e do trabalho, de modo a produzir sinergia.  Criar ambientes que reflitam a realidade fora da escola. Além da arquitetura, dos processos e do design do ambiente, ferramentas que unam escolas, alunos, famílias e aprendizagem precisam ser embarcadas nesse processo, o quanto antes. Afinal, saber se comunicar, interagir e colaborar são habilidades cada vez mais demandadas.

De olho nessa perspectiva de longo prazo, buscando auxiliar as escolas a pensar nisso com mais profundidade e estabelecer uma conexão com a nova realidade, uma parceria entre o Movimento Escola Responsável e a Corporate Gestão Empresarial está criando a SAPIENS, uma divisão voltada para o desenvolvimento de soluções criativas e inteligentes para os diversos processos educacionais e de gestão das escolas, sempre tendo como foco a melhoria dos resultados das instituições. Do realinhamento dos processos à criação de aplicativos e soluções tecnológicas, todos os caminhos da SAPIENS conduzem à transformação da escola em um espaço novo e atraente, que permita aos alunos desenvolver todo o seu potencial de crescimento. Além disso existe, na SAPIENS, uma grande preocupação com a sustentabilidade, onde cada inovação valoriza ideias que permitam atender as expectativas de gestores, educadores, alunos e famílias em relação ao desempenho e resultados esperados.

Já estamos inseridos em uma nova era. O ambiente se modificou e as demandas estão caminhando a passos largos na direção de novas competências, novas formas de relacionamento entre as instituições, entre a escola e seus diversos públicos e, por isso mesmo, as velhas ferramentas e modelos de negócios já não lhe garantem a sustentabilidade necessária. Conexão é a palavra de ordem. Inovação e criatividade o combustível.




[1] Conheça o Movimento Escola Responsável: www.escolaresponsavel.com
[2] Para conhecer as áreas de atuação da Corporate, acesse www.corporateconsultoria.com
[3] Entenda o que é a SAPIENS acessando o site da Corporate: www.corporateconsultoria.com

terça-feira, julho 21, 2015

Arena Educacional

Educação na arena competitiva


Seja globalização, internacionalização ou somente fusões e aquisições, o fato é que o segmento educacional está em pleno movimento de consolidação. O mesmo já foi visto em relação aos bancos. A exemplo do que aconteceu no setor financeiro, a tendência é que também as grandes redes de educação continuem a buscar músculos, numa escala sem precedentes. Segundo estudos mais recentes, escolas com menos de 400 alunos tendem a desaparecer. Darão lugar a redes maiores ou se engajarão em sistemas de cooperativas, franquias, parcerias e outros...

Com o mercado educacional se abrindo a cada dia, o surgimento de novos protagonistas na arena competitiva alterou, e tende a alterar ainda mais, o cenário e as práticas de gestão do segmento. A entrada de competidores, como as consultorias, o Ensino a Distância – EAD, as universidades corporativas, as escolas-empresa internacionais e investidores de risco, apoiados por outras variáveis como a expansão das telecomunicações, o avanço da indústria do entretenimento e da tecnologia da informação, colocam em xeque as práticas pedagógicas e o modelo de gestão vigente.

Esse movimento abre espaço para a inovação, a criatividade e a profissionalização. Adaptar modelos estruturais utilizados em outros segmentos, pode, nesse aspecto, ser um passo no sentido da agilidade e da queima de etapas. Um conceito interessante a ser adotado, por exemplo, pode ser o do Shopping Cultural, desenvolvido por uma empresa mineira de consultoria em gestão educacional. Nele, o relacionamento da instituição educacional com a comunidade e a transformação de áreas tradicionais como laboratório de informática e cantina em cybercafé e praça de alimentação, respectivamente, são apontados como boas oportunidades de inovação. A questão básica, entretanto, é que deve haver, numa escalada crescente, a instituição de novos paradigmas, apoiados em ferramentas profissionais de gestão.

Por outro lado a oferta de novos produtos e a melhoria na prestação de serviços auxiliares que facilitem a vida dos clientes é um fator significativo na luta pela diferenciação. Haja vista o crescimento dos MOOC’s (Massive open online courses).

Um arsenal de técnicas e ferramentas de Marketing e Recursos Humanos terá que ser mobilizado, portanto, para ajudar os gestores a construir uma estratégia vencedora. Processos seletivos tecnicamente competentes; programas de capacitação sistematizados e remuneração baseada em competências e resultados são algumas armas desse instrumental. Ousadia gerencial: esse o novo nome do jogo.


A camisa-de-força do tradicionalismo que envolve as lideranças do segmento precisa ser deixada de lado. Para isso existem recursos que podem auxiliá-las nessa transição. Consultorias especializadas e mentores profissionais podem contribuir significativamente no processo. Resta, entretanto, a vontade para dar o primeiro passo... e nesse particular é bom dá-lo logo pois os novos concorrentes já iniciaram essa caminhada.

segunda-feira, junho 01, 2015

Educação e tendências de consumo

A importância das tendências de consumo na gestão das escolas

Marcelo Freitas



A necessidade crescente de produzir melhorias na qualidade dos serviços que presta tem feito com que, cada vez mais, as escolas sejam geridas com maior profissionalismo. Nesse particular seus gestores demandam, também em escala crescente, ferramentas que possam lhes oferecer informações confiáveis, pertinentes e relevantes. Esses instrumentos de gestão, a exemplo do que acontece com empresas de outros segmentos, são de fundamental importância para o planejamento de curto, médio e longo prazos. Contribuem com inestimável valia na perspectiva de ajudar o gestor a vislumbrar tendências e cenários que, eventualmente, possam impactar o mundo da educação.

Mas esses instrumentos, sozinhos, não podem cumprir o papel de qualificar a gestão da escola ou agregar valor aos seus serviços. É importante que os gestores façam a sua parte. Olhar à sua volta com olhos críticos e fixar um ponto no horizonte à sua frente é uma atitude que em muito contribui nessa tarefa. Entender as mudanças sociais, tecnológicas, ambientais e tantas outras é fundamental para perceber o caminho que os consumidores estão trilhando e em quê estão se baseando para tomar suas decisões de compra. E é nesse momento que surgem as chamadas tendências de consumo.

Uma tendência de consumo pode ser definida como sendo uma nova manifestação entre os consumidores – no comportamento, na atitude ou na expectativa – de uma necessidade humana fundamental, um desejo ou uma vontade. Ao se atentar para as tendências de consumo pode-se melhor identificar demandas emergentes, ainda não atendidas. Um novo comportamento. Uma nova atitude ou opinião. Uma nova expectativa. Qualquer um deles pode ser base para uma tendência de consumo. E elas são particularmente importantes quando buscamos inovar, antecipar ao mercado e projetar situações que poderão impactar diretamente o negócio.

O segmento educacional tem sido, nos últimos anos, atingido frontalmente pelas mudanças do ambiente, por uma nova maneira de olhar o mundo e, principalmente, por uma forma diferente das pessoas tomarem suas decisões de compra. O Ensino à Distância – EAD, por exemplo, é a maior prova disso. Ele emergiu a partir do momento em que as pessoas estão dando grande valor à comodidade, à flexibilidade e à simplificação dos processos. Isso fez mudar hábitos de compra em outros segmentos e, como decorrência, também na educação. Antes, para assistir uma aula ou participar das atividades de aprendizagem, era preciso ir à escola. Com o advento da revolução tecnológica e a disponibilização de facilidades para se executar tarefas à distância (como pagar contas e requerer uma segunda via de documentos), essa facilidade foi também incorporada pelos consumidores que compram serviços educacionais e/ou realizam tarefas como adquirir conhecimentos.

No caso dos gestores educacionais, entretanto, é preciso atenção para distinguir os modismos das tendências. Os primeiros são passageiros. Vão e vêm. Já as tendências, emergem e se desenvolvem. Isso quer dizer que elas surgem quando uma mudança externa desbloqueia novas maneiras de atender antigos desejos e necessidades humanas. Na verdade elas apontam direções e caminhos.

Outro fato corriqueiro nos processos de gestão é confundir tendências com pesquisas. A pesquisa de mercado tradicional é essencialmente um olhar para trás, uma vez que é realizada a partir de dados colhidos sobre hábitos de consumo já praticados, no presente ou no passado. E mais: a pesquisa é normalmente limitada pelo que os próprios consumidores conseguem articular sobre suas necessidades, seus desejos e comportamentos. Ou seja, elas não conseguem olhar muito além do que a sua realidade apresenta, porque o próprio consumidor muitas vezes não tem ideia do quanto as coisas poderiam ser diferentes. Um bom exemplo é nos lembrarmos do que inovadores como Henry Ford a Steve Jobs pensam a respeito. É oportuno ressaltar que dados são importantes e podem dar suporte à análise de tendências, porém, não são verdades em si mesmos.

A grande vantagem em vislumbrar as tendências é que a educação é um processo de longo prazo e a validade dos seus serviços, na maior parte dos casos, só será constatada anos depois. Nesse particular, como lidar com as tendências de consumo, se novos produtos, serviços e campanhas em geral não deixam de ser “apostas no futuro”?  A resposta é que, de uma maneira ou de outra, hábitos de consumo modelam a maneira pela qual se toma decisões de compra e, mais que isso, ajudam a entender o processo que leva a essas decisões. Os valores e o tipo de conhecimento que integram esse processo são particularmente importante não só para trabalhá-los nos processos de desenvolvimento pessoal mas também para promover inovações. Estas, por sua vez, trazem no seu bojo rupturas significativas que podem demandar novos conhecimentos, habilidades e atitudes. E isso tem tudo a ver com a educação.

O fato é que seja qual for a ferramenta adotada pelo gestor, é sempre bom lembrar que há muitas variáveis envolvidas no trabalho de avaliar tendências. Nesse aspecto, o bom gestor deverá centrar foco, não só nas tendências em si, mas principalmente nas oportunidades que elas sinalizam. Tendências são apenas sinais e caminhos que, no fundo, servem a um propósito maior: a busca por inovação.

Para uma escola, tanto na ótica da gestão quanto do produto, conhecer as demandas futuras implica antecipar medidas gerenciais, criar modelos de funcionamento e oferecer diferenciais que considerem as ofertas de valor como ponto principal de decisão de compra. É aí que a escola ganha competitividade e se torna proativa.

Mas quais tendências usar? Quando usar? Bem... Isso depende de você, caro gestor! Comece por conhecer bem sua própria marca, os valores que ela pretende transmitir, seu público e o seu projeto educativo, suas capacidades e potenciais consumidores. Adapte-se à tendência de acordo com isso e deixe que as necessidades e desejos emergentes dos consumidores sejam sua âncora.