ChatGPT: Qual o impacto no RH das escolas?
Se professores do
Ensino Médio terão que se reinventar diante da acessibilidade e popularização
dos novos e poderosos algoritmos de Inteligência Artificial, o que dizer dos
profissionais de RH?
Por Marcelo Freitas
Segunda-feira, início da manhã. Soa o sinal e
todos se acomodam nas suas respectivas salas de aula, em meio ao característico
burburinho das turmas do Ensino Médio. Em seguida, o professor toma seu lugar à
frente de todos e pede aos alunos que escrevam uma resenha sobre um dos livros
de literatura listados para o próximo vestibular. Em menos de 5 minutos vários
alunos já apresentam suas folhas de respostas.
Enquanto isso, do outro lado da escola, na
sala da assessoria de Marketing, o gestor escolar solicita ao analista um
panorama do mercado local e pede ações de enfrentamento à concorrência, com
base nas informações colhidas. Embora o levantamento dos dados e a composição
da análise tenham transcorrido rapidamente, as conclusões e recomendações encalham.
Nos dois exemplos acima, o uso intensivo da
tecnologia se fez presente. No primeiro, o aluno faz uso do ChatGPT e tem a
tarefa solicitada pelo professor concluída rapidamente pela ferramenta
tecnológica, de forma autônoma. Já na segunda situação, o uso dos algoritmos permitiu
colher as informações e rapidamente disponibiliza-las em forma de texto.
Entretanto, a exploração dessas informações, o cruzamento desses dados com a
realidade interna e, finalmente, um desfecho conclusivo com a profundidade e o
feeling que um experiente analista pode agregar, não aconteceu.
Ocorre que para realizar várias tarefas -
tanto na vida pessoal quanto profissional – contamos hoje em dia com o auxílio
de aplicativos e algoritmos. Em muitas situações, chegamos ao ponto em que as
máquinas, e seus softwares nelas embarcados, definem o que deve ser feito. Mas
até a que ponto podemos levar essa situação? Quanto a Inteligência Artificial
deve interferir nessas tomadas de decisões ou mesmo na execução de uma tarefa? E
no caso dos gestores, estariam eles ameaçados de perder suas funções de gestão
para um avatar inteligente? Essas e muitas outras perguntas começam a circular,
não somente entre professores que veem trabalhos acadêmicos dos alunos sendo feitos
por algoritmos, mas também entre os especialistas de RH.
Muitas
perguntas, poucas respostas no horizonte
É fato que, a cada dia, novos e poderosos algoritmos
de Inteligência Artificial avançam sobre todos os setores de atividades e as
escolas não estão imunes a eles. Pelo contrário. Elas serão altamente
impactadas e é importante que seus gestores entendam isso. Esses impactos virão
de vários lados, o principal deles na sala de aula e nas metodologias de ensino,
aprendizagem e critérios de avaliação. Mas a escola também será atingida pelos
flancos, em especial nos aspectos ligados à sua principal “matéria-prima”: seus
professores e profissionais. Um viés, portanto, ainda pouco explorado e, por
conseguinte, ainda incipiente nas estratégias de gestão de pessoas das instituições
educacionais.
Por outro lado, é bom lembrar que esse
movimento de avanço da IA ocorre simultaneamente à crescente valorização das competências
e habilidades das pessoas. Isso tanto no eixo educacional, em processos de
ensino-aprendizagem, como no empresarial, nas políticas de seleção, desenvolvimento
e remuneração de profissionais. Esse movimento remete à premissa de que os melhor
qualificados serão aqueles que souberem agregar valor ao que a máquina e seus
algoritmos produzam. Gente que saiba pensar fora da caixa, ter ideias, ser
criativo e tomar decisões baseadas em situações inusitadas. Gente que será capaz
de superar os códigos de programação usando habilidades que só os humanos
possuem (pelo menos, ainda). Gente capaz de gerar empatia e sinergia.
De
aluno a profissional
Algoritmos são capazes de aprender a grade
inteira de um curso e todas as habilidades de uma função em poucos minutos, o
que facilita e agiliza inúmeros processos. Dado que estamos em uma era onde a
eficiência é a chave para uma organização ser infinita, os avatares parecem
mesmo ser uma boa solução para os negócios. Mas nesse processo, a escola estaria
formando um contingente de profissionais que vai agregar valor aos seus pares
digitais ou apenas criando uma geração que, aos poucos, vai deixando de pensar
e se tornando tecno dependente?
Esse dilema é ainda mais relevante quando
lembramos que o mesmo jovem que utiliza a IA para se dar bem na tarefa solicitada
pelo professor é aquele que estará no mercado de trabalho daqui alguns anos.
Ligados nessa visão de futuro, alguns
professores estão redesenhando seus cursos completamente, adotando mudanças que
incluem mais exames orais, trabalhos em grupo e atividades que precisam ser
realizadas manualmente. Mas, na outra ponta, será que os profissionais de RH das
escolas e mantenedoras estão se preparando adequadamente para lidar com esse
novo desafio?
(Artigo publicado na Revista Linha Direta)
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