segunda-feira, junho 04, 2018

Edtechs e as escolas

Uma startup chamada escola 
Por Marcelo Freitas

O universo das startups está revolucionando os mercados. 
Não seria o momento de dar à escola um novo modelo de negócios? 


Você sabe o que é uma inovação disruptiva? Inovações disruptivas são fruto de novas cabeças, nascem de oportunidades apresentadas pelo mercado e provocam mudanças bruscas nos segmentos de negócios onde surgem. Isso porque a aposta na inovação disruptiva significa criar tecnologias, produtos e serviços mais acessíveis, em novos modelos de negócios, que rompem com o status quo existente.

Nas últimas décadas, a tecnologia alterou a natureza dos mercados de forma inesperada e, muitas vezes, radical, o que provocou o surgimento de inúmeras oportunidades. Nessa nova arena, o “adequado” já não é mais suficiente. Ser “grande” não é mais sinônimo de ser imbatível e os ciclos de vida dos produtos passaram de anos, para meses.

Ao mesmo tempo, a tecnologia tornou possível atender diferentes públicos de maneira simultânea e singular, na medida em que os bits foram tomando o lugar dos meios físicos, em escala crescente. E nesse caso, qual o impacto sobre as escolas tradicionais e seus modelos de negócios?

Já faz tempo venho repetindo, quase como um mantra, que a Educação, enquanto “indústria”, corre sério risco de se ver engolida por empresas dos segmentos de tecnologia e de entretenimento. Pois o que parecia ser apenas fruto de uma leitura estratégica, na medida em que o tempo passa, vai caminhando para se tornar uma realidade.

Com novos programas profissionais, gigantes da tecnologia como Amazon, Google, Microsoft, entre outros, estão aumentando sua presença no segmento educacional. Ela acontece na oferta de aplicativos, ferramentas e serviços, mas também está presente na forma de uma crescente participação em plataformas de Ensino à Distância, como edX e Coursera, com a oferta de mais cursos direcionados a pessoas que buscam qualificação em ferramentas tecnológica, ou assuntos os mais diversos.

Com esse movimento buscam também ampliar a oferta de profissionais qualificados para abastecer o segmento de tecnologia, qualificando desenvolvedores para utilizarem seus próprios sistemas. Dessa maneira, estão se dedicando a oferecer aos estudantes a oportunidade de desenvolver novas habilidades profissionais em áreas críticas como a computação em nuvem. Ao mesmo tempo, ampliam sua influência no segmento educacional, ditando quais conteúdos devem ser desenvolvidos e, mais que isso, ganhando espaço no mercado de Ensino.

Internamente, também, as gigantes já estão revendo suas estruturas para melhor se qualificarem. A Amazon, por exemplo, contratou uma especialista da Escola de Graduados em Educação, de Stanford, para ser a nova Diretora de Ciência e Engenharia de Aprendizagem. Ela se encarregará de capacitar a enorme força de trabalho da Amazon, mas também levará para o segmento de tecnologia a expertise nos processos de ensino e aprendizagem. Esse movimento estratégico vai tornando a Amazon, aos poucos, sua própria universidade. 

Outro exemplo: o novo Microsoft Professional Program in IT Support, oferece um plano de estudos composto de 13 cursos e 1 projeto aplicativo final, através da plataforma edX. Mais espaço comercial, participação de mercado e competência educacional.

Nesse processo, as empresas de tecnologia vão se apropriando da expertise das instituições educacionais para, em seguida, oferecer novos e inovadores formatos de cursos, produtos ou serviços. Um exemplo dessa estratégia de apropriação de competências foi apresentado pela gigante russa Yandex, que anunciou recentemente a associação com a Universidade de Tel Aviv, com vistas ao lançamento de um programa curricular de TI.

Tal situação traz consigo um fato novo: as certificações vão ganhando espaço no mundo do trabalho e, aos poucos, tomando o lugar dos diplomas. Uma silenciosa mudança disruptiva, que vai tirando do segmento educacional a primazia dos processos de ensino-aprendizagem, assim como retira das escolas a referência como templo do conhecimento.

Todo esse movimento chama também a atenção de outros agentes, que se movimentam na mesma direção. É o caso de grandes investidores, que buscam ampliar suas participações em startups, em especial aquelas que lidam com inteligência artificial, cuja utilização é tida por muitos como sendo responsável pela próxima grande revolução no campo da Educação. Andrew Ng, considerado o guru da Inteligência Artificial – IA, anunciou a criação de um fundo, com aporte inicial de 175 milhões de dólares, para apoiar startups focadas em IA. O primeiro passo foi criar uma incubadora de startups dedicadas a construir empresas transformadoras e melhorar a vida das pessoas.

Andrew Ng foi professor de Ciências da Computação na Universidade de Stanford e cofundador da plataforma Coursera. Segundo ele,

“Faz aproximadamente 100 anos que a eletricidade transformou 
todas as indústrias importantes. A Inteligência Artificial já avançou ao 
ponto em que detém o mesmo poder”. 
Andrew Ng, na conferência AI Frontiers.

Considerando todo esse movimento estratégico, não seria o momento das Instituições Educacionais repensarem seus modelos de negócios, seus serviços e produtos, e começarem a se movimentar, criando barreiras de entrada? Movimentos disruptivos são silenciosos, começam pelos flancos até que tenham construído uma sólida posição de ataque. Uber, AirBnb e outras estão aí para comprovar. Por que não antecipar e transformar a escola numa “grande startup”?


quinta-feira, março 29, 2018

Custo da Educação

O Custo da Educação no Brasil

Assista nosso debate no Programa Brasil das Gerais, de 15/mar, quando falamos sobre o custo da educação no Brasil. Números estarrecedores.


quarta-feira, março 14, 2018

Educação e inovação

Os novos rumos da Educação


Oi pessoal. Tive o prazer de conversar com a jornalista Déborah Rajão, da Rádio Inconfidência de Belo Horizonte e falamos um pouco sobre os rumos da Educação diante da Revolução Tecnológica. Acompanhe aí o nosso papo.


sexta-feira, março 09, 2018

Gestor profissional

Profissionalização: o dilema na escolha do gestor


A proliferação do uso de tecnologias de gestão mais arrojadas nas escolas tem sido um fator determinante para a contratação de profissionais gabaritados para assumir a direção das escolas.

Não se pode creditar somente ao acirramento da concorrência o avanço do processo de profissionalização nas instituições educacionais. A sociedade como um todo se transformou. Está mais exigente. Os padrões de qualidade se elevaram em virtude da ampliação e globalização dos mercados. E o consumidor, por conseguinte, está mais criterioso... mais comparativo... mais atento aos diferenciais de qualidade.

Assim sendo, o mercado das empresas de recursos humanos foi atraído para um novo segmento: o da Educação.

Do ponto de vista dos profissionais de Administração, certamente a abertura desse novo nicho é recebida com aplausos. Para as escolas, entretanto, caracteriza-se como uma encruzilhada: capacitar os antigos profissionais das carreiras educacionais ou captar executivos no mercado? São ambas alternativas viáveis... porém sempre com seus prós e contras.

Capacitar antigos colaboradores é importante. Entretanto, forma-los para uma carreira de direção implica tempo e custos elevados e nenhuma garantia de que, uma vez formados, o concorrente não possa expatriá-los para suas fronteiras.

Recrutar novos profissionais com perfil executivo, por sua vez, significa trazer novas experiências, métodos e tecnologias, várias delas ainda estranhas ao ambiente escolar. Implica, também, disputar esses profissionais com empresas de outros segmentos, muitas vezes em desvantagem. Maior poder de remuneração, oferta de uma boa carteira de benefícios e programas de capacitação mais arrojados são fatores que tornam as empresas de outros segmentos mais atraentes aos olhos dos executivos profissionais.

O fato é que a maioria das instituições educacionais ainda se sente desconfortável no momento de tomar uma decisão a respeito do assunto. Nesse sentido, um bom começo é avaliar o seu Plano de Desenvolvimento Institucional – PDI, ou o Planejamento Estratégico. Através deles, pode-se perceber como a escola pretende caminhar e, como conseqüência, qual o perfil dos profissionais que demandará para viabilizar o seu planejamento.

Considerando o tempo necessário para o atingimento dos objetivos propostos e os recursos projetados, pode-se decidir entre formar internamente seus futuros dirigentes ou busca-los no mercado.

Para tanto, importante, antes de mais nada, ter em mãos o perfil deste profissional. Descrever quais habilidades e competências dele serão exigidas. Eis algumas delas:


  • Ter uma visão abrangente da instituição;
  • Encarnar os valores essenciais da vida acadêmica, perante os diversos públicos de relacionamento da escola;
  • Ser capaz de traduzir para o conjunto social os princípios éticos da instituição;
  • Ter capacidade de articulação entre as questões e necessidades do presente e uma visão de futuro;
  • Com base no que apreendeu da coletividade onde trabalha, ter em mente uma proposta estratégica e não apenas a rotina do seu cargo.
  • Trabalhar com foco em resultados.


Não se pode esquecer que, seja qual for o caminho, o gestor educacional será o ponto de referência para toda a comunidade educativa. A face mais visível da escola sempre será o seu dirigente.

Ressalte-se, finalmente, que tão importante quanto a captação deste profissional é a sua retenção. Instituições prestadoras de serviços educacionais são empresas de longos ciclos de negócios. Daí a importância de um ambiente de tranqüilidade que possibilite ao dirigente apresentar resultados. Um período mínimo de continuidade do gestor no cargo é, portanto, um fator importante. Caprichar no processo seletivo deste profissional, estabelecer uma boa carteira de benefícios e uma clara política de remuneração atrelada a resultados pode significar a diferença entre crescer ou implodir. Façam suas escolhas.


(Artigo de minha autoria publicado pela Revista Gestão Educacional, em abril/2017).

quinta-feira, fevereiro 15, 2018

2030

Tá preparado? 2030 já está em curso. 

Por Marcelo Freitas



Imagine que você é contratado para criar um veículo. Ele, entretanto, deverá circular pelas ruas da sua cidade, não no próximo ano, mas em 2030. Embora vá começar a esboçar o projeto de imediato, seria sensato imaginar que você, sendo um bom projetista, se debruçaria sobre a análise do ambiente onde este veículo seria introduzido, não é mesmo?

  • Qual contexto o envolveria? 
  • Como seriam as vias de tráfego nesse ano, localizado no futuro? 
  • Quais os materiais estariam disponíveis? 
  • Que tipo de combustível? 
  • Qual a tecnologia de produção a ser utilizada? 
  • E que tipo de pessoas usaria esse veículo? 
  • Qual seria o perfil dos profissionais que sua equipe necessitaria para tocar a fábrica?


Agora imagine uma organização em que a matéria-prima dos seus serviços leva algo em torno de 20 anos para ser transformada em resultado final. Não seria igualmente sensato avaliar o contexto e o ambiente no qual seria integrada, quando o processo fosse terminado?

Estou falando da empresa "Você S/A". Para que se torne um profissional, esse foi o tempo dispendido na sua preparação. São aproximados 20 anos de trabalho e construção. E que não pode parar.

Usando a mesma analogia do veículo, é importante que você observe o futuro para, desta maneira, direcionar sua preparação profissional para encarar os desafios que ele vai te apresentar. Vamos à reflexão:

  • Que conhecimentos você vai precisar? 
  • Quais as competências lhe serão exigidas no seu ambiente de trabalho, um local que certamente será dominado por automação sem precedentes? 
  • Quais aptidões deverão ser fomentadas no seu desenvolvimento, para se caracterizarem como diferenciais competitivos em um mundo inundado de inteligência artificial? 


Um estudo

Pensando nessas questões, três grandes instituições se juntaram para produzir o relatório “The Future of Skills: Employment in 2030”  (O futuro das habilidades: Emprego em 2030). Esta publicação, organizada pela Pearson, uma das organizações líderes mundiais em educação, em parceria estratégica com a Nesta, fundação dedicada à inovação, e a Escuela Oxford Martin, o centro de investigação em problemas globais da Universidade de Oxford, no Reino Unido, aprofunda a discussão sobre a automação e propõe um caminho para lidar com a situação.

Trata-se de indicar as habilidades, competências e conhecimentos que os profissionais de distintas áreas necessitarão para permanecer relevantes em um futuro não muito distante. Importante salientar que o estudo não considerou apenas a automação, mas também outros fatores como a globalização; as mudanças demográficas; a sustentabilidade ecológica; a crescente urbanização e disparidade econômica e as incertezas políticas.

A informação relevante é que as competências socioemocionais estão em alta, até por serem elas mais duradouras e pertinentes num ambiente em constante mudança. Por outro lado, os diplomas e licenciaturas deixarão de ser o principal requisito de empregabilidade, na medida em que os profissionais se adaptarão a trabalhar em um ambiente tecnológico em constante evolução.

Para finalizar, aí vão as principais habilidades e competências apontadas pelo estudo:

Ranking Reino Unido

1 Fluidez de Ideias
2 Critério e Tomada de Decisões
3 Originalidade
4 Aprendizagem ativa
5 Avaliação de Sistemas
6 Estratégias de Aprendizagem
7 Resolução de problemas complexos
8 Pensamento Crítico
9 Análise de Sistemas
10 Raciocínio Lógico e dedutivo

Esta na hora, portanto, de focar no futuro e se preparar para os novos desafios. E se for preciso uma ajudinha, conte conosco!

quinta-feira, janeiro 25, 2018

Gamefication

O “faz de conta” digital 


Antes de colocar os pés em um avião militar, os pilotos são exaustivamente treinados para conhecer cada minúcia daquele equipamento. São jornadas exaustivas, estudando e conhecendo o seu funcionamento, a função de cada peça e dos seus instrumentos de controle.

Mas isso não basta. É igualmente importante entender a reação do equipamento, e do piloto, em situação de voo, sob os mais diversos tipos de ambiente. Para tal, é preciso desenvolver habilidades e competências próprias, como raciocínio rápido, tomadas de decisão em situações de emergência ou sob fogo cruzado. Habilidades desse tipo não se aprendem lendo manuais. É preciso colocar a mão na massa. Mas como fazer isso sem colocar em risco a vida do piloto e um equipamento de milhões de dólares?

A resposta é através do “faz de conta”. Sem tirar as rodas do chão, réplicas das cabines e painéis de controle são utilizados com eficiência nos treinamentos. Abastecidos com sistemas inteligentes que reproduzem situações da realidade, os simuladores são altamente eficazes na tarefa de avaliar situações problemas, as tomadas de decisão e as consequências decorrentes. Com uma grande vantagem: não há mortes nem perdas reais.

Uma outra virtude do uso de simuladores, é que as decisões tomadas em cada exercício, e suas consequências, podem ser depois avaliadas, revistas e compartilhadas. O uso desse tipo de prática em segmentos como o militar, tem demonstrado alto grau de eficiência no processo de aprendizagem e aquisição de competências por parte dos treinandos.

Tomando esse exemplo como referência, podemos inferir que metodologias semelhantes poderiam, e deveriam, ser utilizadas com mais intensidade nas escolas. Embora no Ensino superior essa prática já venha acontecendo em áreas como a saúde e as engenharias, ela ainda não é uma prática muito comum nas escolas de Educação Básica.

Nesse caso específico, ao contrário do que se pode imaginar, não é necessário um alto investimento para tornar o uso de simuladores uma prática corriqueira. Isso porque o mercado de games dessa natureza já está bastante recheado de alternativas. Elas vão dos jogos de estratégia, àqueles que desenvolvem habilidades de gestão, passando por um espectro de possibilidades bastante sortido. Neles o participante pode assumir o papel de um presidente da república, que precisa lidar com a diplomacia internacional, ou um executivo, que negocia contratos com fornecedores de outros países, ou ainda um general, que conduz seu exército para batalhas que envolvem ganhos de territórios. Também pode ser o piloto de um avião em plena segunda guerra mundial, ou um agente de polícia, que tem que desbaratar um cartel de traficantes.

A grande vantagem é que esses games estão disponíveis em qualquer loja física ou plataforma digital, pagos ou gratuitos. E mais: em alguns deles se pode jogar em equipe e online, em tempo real.
Até mesmo a aplicação de estudos de casos, método de aprendizagem já bem difundido entre os professores, podem ser amplamente enriquecidos com a utilização de games e simuladores. Além de possibilitar avaliações de causa e efeito, o uso de games torna o aprendizado leve e atraente para os alunos, mesmo em situações complexas da realidade.

Além do desenvolvimento de habilidades socioemocionais, os simuladores também permitem maior interação dos estudantes com a situação problema, a troca constante de opiniões entre eles e, a partir daí, a construção colaborativa do conhecimento.

Some-se a todas essas vantagens o fato de que a utilização de simuladores permite aos alunos ter o resultado imediato de uma avaliação sobre sua aprendizagem, porém, não como uma nota ou avaliação numérica, mas com distintivos e condecorações decorrentes da utilização de princípios de gameficação. Esse tipo de avaliação permite que os professores estabeleçam distintivos digitais de acordo com os resultados e consequências das decisões tomadas nos casos.

Bom pra todo mundo. Que tal, então, transformar a escola num lugar onde o “faz de conta” é uma ferramenta eficaz para o desenvolvimento de competências? Se precisar de uma mãozinha, conte conosco . Basta entrar em contato e conversamos.

(Artigo publicado na revista Linha Direta de outubro/2017)

sábado, dezembro 23, 2017

Professores empreendedores

A Educação precisa de “professores caras de pau”



Quem não tem um amigo cara de pau, que atire a primeira pedra. E quem disser que não tem, não sabe o que está perdendo. É bem provável que na sua adolescência, você já tenha passado por aquela situação de estar numa balada e, de repente, cruzar o olhar com aquela pessoa que faz disparar os batimentos cardíacos. Acontece que você não a conhece e, portanto, não sabe bem como abordá-la.
Mas eis que surge aquele seu amigo mais desinibido, que a turma chama de “cara de pau”. Embora ele também não a conheça, sem a menor cerimônia, vai lá, se apresenta pra ela e, do nada, faz a ponte entre você e a pessoa. Ele não tem receio de arriscar. Nem pensa que pode ser ridicularizado. Ele se apresenta, coloca a situação e, com isso, ganha a oportunidade de conquistar a simpatia da pessoa.

O que tem isso a ver com a Educação e os professores? Eu explico.

Na sala de aula muitas vezes temos uma situação um pouco semelhante. Mudar as práticas tradicionais de ensino continua a ser o principal desafio dos líderes de tecnologia educacional, mas a implementação de novas práticas digitais e o uso da tecnologia na sala de aula não é possível sem o apoio dos professores. Portanto, motivar os professores a mudar suas práticas tradicionais de ensino é, hoje, uma prioridade.

Uma experiência levada a termo pela antropóloga Lauren Herckis, na Carnegie Mellon University, uma instituição americana líder na pesquisa educacional, buscou identificar por que os professores relutavam em abandonar seus métodos tradicionais para adotar novas práticas apoiadas pela tecnologia. Durante mais de um ano, a Dra. Herckis observou os professores da Carnegie Mellon, numa maratona que incluiu assistir a todas as reuniões acadêmicas e ler e-mails institucionais dos professores, de modo que pudesse, a partir daí, descobrir por que eles não estavam mudando seus estilos de ensino.


Depois desse exaustivo trabalho, a antropóloga descobriu, em primeiro lugar, que muitos professores e acadêmicos se agarram à sua própria ideia do que seja uma "boa educação", ou um “bom método de ensino”. A partir daí, sua conclusão foi surpreendente: os professores têm uma enorme necessidade de se apegar e manter os seus próprios métodos porque têm muito medo de parecerem ridículos, na frente de seus alunos. Esse temor de serem ridicularizados faz com que não tentem algo novo.

Na verdade, é como se lhes faltasse aquela característica do amigo cara de pau, que não se preocupa em demonstrar suas dificuldades, para, a partir delas, construir uma ponte com seus alunos. Talvez essa postura tenha sido fruto de décadas a fio, onde o professor foi visto como um ser humano que tudo sabia e que, em hipótese alguma, poderia ter suas habilidades confrontadas. Ou não deveria mostrar suas vulnerabilidades.

Acontece que o mundo mudou e não houve muito tempo para que esses professores, oriundos de uma geração analógica, se adaptassem e atingissem a mesma destreza para lidar com toda essa tecnologia que seus alunos, das novas gerações. Esses já nasceram digitando e brincando em telas sensíveis ao toque. Aprenderam muitas coisas pelas mais diversas mídias, antes mesmo de colocarem os pezinhos na escola. E quando essas duas realidades foram então colocadas frente a frente, estabeleceu-se um choque entre culturas.

Um Relatório intitulado “Tendências na Aprendizagem Digital: Construindo capacidade e competência dos professores para criar novas experiências de aprendizagem para os alunos”, publicado pela Blackboard  e Project Tomorrow , se concentrou em avaliar a disposição dos professores para utilizar ferramentas digitais para transformar a aprendizagem. O relatório envolveu um universo de 38.000 professores, 29.000 pais e 4.500 administradores de escolas de ensino fundamental nos Estados Unidos, e apresentou opiniões sobre questões ligadas a aprendizagem digital, como parte do projeto de pesquisa Speak Up 2016 .

A partir dele, ficou patente aos líderes educacionais que o sucesso de qualquer iniciativa digital nas escolas depende da liderança do professor na sala de aula. Este relatório mostrou que as ferramentas, conteúdos e recursos digitais podem ajudar a elevar as competências dos professores. Também forneceu evidência do valor que a tecnologia pode trazer para as experiências de aprendizagem dos alunos.


É evidente que suas conclusões devem ser avaliadas com cautela, uma vez que se trata de um ambiente diferente do que temos no Brasil. Entretanto, em um mundo globalizado, é importante conhecer algumas das suas constatações, posto que poderão, em determinado momento, se repetirem por aqui.

Eis então as três principais conclusões desse relatório sobre tendências digitais de aprendizagem:

Os pais acreditam que o uso eficaz da tecnologia na sala de aula ajuda as crianças a desenvolver as habilidades necessárias para a vida adulta.
Hoje, o grande desafio, é motivar os professores para que alterem suas práticas tradicionais de ensino, e passem a usar a tecnologia na sala de aula.
Os professores que praticam a aprendizagem híbrida estão elevando os padrões de aprendizagem e estabelecendo novos processos que atendem às necessidades de todos os alunos.

Ao que parece, essas conclusões poderiam, muito bem, se aplicar à nossa realidade. E pelos seus resultados tudo indica que, em nome da melhoria da Educação, poderíamos ser todos nós, educadores, um pouquinho mais caras de pau, afinal, somos humanos e a educação se faz, principalmente, pela capacidade de nos colocarmos na posição de eternos aprendizes.

Fonte: Observatório de Innovación Educativa

Este artigo foi publicado pela Revista Linha Direta / 2017

quinta-feira, novembro 23, 2017

Tecnologia e Educação

Tecnologia compete ou completa ?
Marcelo Freitas


Numa das minhas oficinas para estudantes do Ensino Médio, um aluno, sentado na última carteira da sala de aula, chama minha atenção para tecer um comentário. Na verdade, para contar um fato curioso.

Como um dos melhores alunos de disciplinas como história, geografia e sociologia, conta ele, sempre é procurado por colegas que querem saber o segredo das boas notas nas avaliações. Geralmente, Rafa indica aos colegas alguns canais de vídeo, no Youtube, ou documentários e filmes, de canais a cabo, como History ou NatGeo. Eles funcionam como um complemento ao que é dado na escola, além de ser uma boa fonte de estudos a partir do entretenimento. Videoaulas também são uma opção, porém, diz ele, às vezes um pouco mais enfadonhas.

Mas, segundo o Rafa, o grande pulo do gato está nos games de estratégia que joga. São jogos temáticos, que exigem o exercício de competências, como visão integrada do ambiente; diplomacia e capacidade de articular diversos fatores socioeconômicos para ganhar mercados, territórios ou mesmo, guerras. Jogados geralmente em rede, esses games se desenrolam sobre o cenário de um mapa mundi, tendo fatos e personagens históricos a apoiar o seu roteiro.

Tudo isso faz com que o Rafa tenha, na ponta da língua, a localização e as principais cidades de todos os países ali presentes. Faz também com que tome contato com dados e marcos históricos, governantes e sistemas de governo diversos, e elementos da economia desses países. Uma avalanche de informações que seria difícil memorizar, se o caminho fosse um livro didático tradicional.
Ao contrário, como elemento de entretenimento, essas informações são apresentadas nos jogos de forma totalmente contextualizada e lúdica. Além disso, a partir dos movimentos feitos pelo jogador, em suas tomadas de decisão, os games permitem que as relações de causa e efeito sejam imediatamente sentidas. Ou seja, são simulações da vida real em tempo real, situação inimaginável a partir das páginas de páginas impressas.

 Em outra intervenção, Júlia comenta que estuda, geralmente, a partir de aulas disponíveis no Youtube, ou em sites de educação. Ela também assiste canais da Tv a cabo que apresentam reportagens e programas temáticos. Quando criança, relata que assistia canais de entretenimento educativo, como Discovery Kids e Disney. Naquela época, segundo ela, transitava pela rede social infantil Club Penguin, onde aprendeu noções de cidadania, negócios e boas maneiras.

Relatos como esses são muito comuns em um ambiente povoado de jovens. O que inclui a escola, evidentemente. Mas por que ela, muitas vezes, despreza essas informações ou reluta em usar tudo isso a seu favor?

A explosão da tecnologia promoveu, e o vem fazendo em escala crescente, uma verdadeira desordem no sistema de educação tradicional. O acesso à informação se tornou instantâneo e a forma de fazê-lo se apresenta das mais diversas maneiras, quebrando a estrutura secular da sala de aula.
A grande questão que se coloca é: como a escola vai lidar com isso?

Ela pode continuar ignorando esse movimento e, com isso, dando espaço para que outros segmentos da economia avancem sobre o seu mercado. Ou pode fazer o sentido inverso, transformando esses agentes em importantes parceiros do seu negócio. Nesse caso, prefiro pensar nas redes de educação como protagonistas, buscando estabelecer relações estratégicas com estúdios de animação ou produtores de games, incrementando e atualizando assim o seu arsenal didático e substituindo o convencional por algo novo e muito, muito mais atraente. Algo que os jovens fiquem contando os minutos para usar, pois será prazeroso e, ao mesmo tempo, instrutivo.

Para que esse movimento realmente aconteça, o segmento educacional precisa, mais que nunca, mirar o cliente, não o produto, como vem acontecendo há décadas. A exemplo da escola, o desempenho das organizações focadas no produto piorou, porque o mundo em que operam mudou além da sua capacidade de adaptação ou evolução. Os princípios pelos quais organizam seus processos se tornaram ultrapassados. E a tecnologia, e sua expansão, é uma realidade irreversível, que precisa ser considerada e integrada ao negócio.

Essa tecnologia potencializou outras formas de aprender e levou para fora da escola as possibilidades de aquisição de conhecimento. A era do tamanho único, do perfil padrão, do modelo genérico e dos processos rígidos em que se baseou a escola do século passado não encontra mais espaço. Ela, a exemplo de outros segmentos, está sendo impactada por algo novo, que o avanço da tecnologia tornou possível, chamada “personalização”. E nesse aspecto, indústrias como a do entretenimento seguem em passos mais acelerados que a Educação.

Elas rapidamente entenderam e estão dando respostas aos anseios dos clientes, que esperam por produtos configurados para as suas necessidades, cronogramas de entrega ajustados às suas agendas e formas de pagamentos que lhes sejam convenientes. É por essas e outras que uma aproximação com essas empresas poderá encurtar caminhos e rejuvenescer a Educação, de maneira mais rápida e eficaz.

As boas práticas de gestão e mercado, assim como os recursos tecnológicos, podem oferecer às escolas, e empresas do segmento educacional, um trampolim para uma nova era.

Nessa perspectiva, a aprendizagem de conceitos e o desenvolvimento de competências são tarefas que podem ser impulsionados por recursos tecnológicos como games, plataformas adaptativas, canais de vídeo, ambientes virtuais Maker e redes sociais fechadas, que se traduzem em ferramentas mais apropriadas aos novos tempos. É desse modo que a tecnologia complementa a Educação e fortalece a escola. Caso esse caminho não seja seguido, entretanto, poderão, aí sim, competir com ela.

sexta-feira, outubro 20, 2017

Inovar: Questão de sobrevivência

Veja só o que rolou no Congresso Rio de Educação. A matéria é da jornalista responsável pela cobertura do evento.


 
Por Nathalia Curvelo

A grande diferença do passado para o presente é a variedade de opções. Gerações passadas eram limitadas pelo mundo físico. Hoje a tecnologia leva ao infinito. Como isso impacta o ensino e de que forma as escolas podem se preparar para esse novo paradigma foram questões abordadas pelo empresário Marcelo Freitas na palestra “Escolas inovadoras: transformando crise em oportunidade”, no 11º Congresso Rio de Educação.

Freitas afirmou que, no futuro, é possível que a escola tenha como concorrente  não aquelas outras que estão em seu bairro, ou mesmo a de outros países (que começaram a se tornar competidoras com cursos gratuitos online), mas as empresas de tecnologia e de entretenimento. Como exemplo, ele citou o Youtube, canal por meio do qual as pessoas podem assistir aulas gratuitas e com conteúdo conduzido por professores altamente qualificados.

“Antes, a escola era o único, ou pelo menos um dos únicos lugares onde se adquiria conhecimento. Hoje não mais. As pessoas têm uma gama enorme de opções para aprender. Enquanto isso a escola continuou reproduzindo muito daquilo que estava no passado, trabalhando dentro da ideia de padrões”, alertou.

O empresário destacou algumas dicas para ajudar as escolas a fazer a transição para as novas demandas dos clientes, e transformar o que pode ser uma crise em oportunidade:

1ª – ENTENDA o que de fato está mudando no ambiente externo, mesmo nas escolas mais tradicionais. Os modelos de negócio são outros. Os millennials estão no comando, assumindo postos e têm valores distintos dos convencionais.

2ª – ENGAJE todos os colaboradores no processo.

3ª – REPENSE o modelo de negócios.  É uma questão-chave. Escolas podem oferecer outros tipos de serviços, formas de pagamento, logística de entrega, etc.

4ª – REVEJA sua estrutura organizacional e pense em Unidades de Negócios, como laboratórios e áreas esportivas. Cada uma delas pode gerar receita por si só. Podem ser feitas parcerias, abrir esses espaços para comunidade nos finais de semana. Há muitas formas de gerar rentabilidade.

5ª – AGREGUE. Aumente sua oferta de valor com a formação de parcerias. Não é necessário que a escola domine uma determinada tecnologia, mas ela pode trabalhar em conjunto com quem a domine.

Confira meus comentários durante o Congresso:


terça-feira, agosto 01, 2017

Posse de bola não é gol.

Como as escolas podem melhorar a gestão de seus processos escolhendo os indicadores adequados.


No inverno de 2014, o Brasil era tomado por uma bolha de euforia. Em meio às crises políticas e um noticiário econômico nada animador, o circo do futebol fazia unir ideologias antagônicas em torno da seleção brasileira de futebol. A Copa do Mundo era a cortina de fumaça que trazia a alegria de volta ao cenário tupiniquim. Era a pátria de chuteiras em campo.

Se não encantava pela magia da seleção de Telê Santana, o “selecionado canarinho” avançava no torneio e chegava às semifinais contra a simpática, e politicamente correta, seleção da Alemanha. O palco não poderia ser mais acolhedor. Mineirão lotado, hino nacional cantado à capela e um belo horizonte como moldura. Mas...

Se hoje um extraterrestre fizesse um “pitstop” no Brasil e pegasse um dos jornais da época, lá encontraria os principais números do jogo:
  • ·        Posse de bola: Brasil, 52%. Alemanha, 48%.
  • ·        Chutes a gol: Brasil, 18 . Alemanha, 14 .
  • ·        Faltas cometidas: Brasil, 11. Alemanha, 14.
  • ·        Impedimentos: Brasil, 3. Alemanha, 0.
  • ·        Minutos com a bola: Brasil, 32. Alemanha, 30.

O ET não teria dúvidas em adivinhar a sequência. Enfim, Brasil na final. Mas todos sabemos, amargamente, não foi bem isso o que aconteceu. Alemanha 7, Brasil 1.

Esse episódio nos leva a pensar em uma situação muito comum no mundo corporativo, e a escola não está fora dele. A eleição de indicadores de performance para auxiliar a gestão da  organização na tomada de decisões. É a partir do seu monitoramento, que muitas delas traçam planos estratégicos, conferem o andar dos processos, definem as prioridades e estabelecem objetivos e metas.

Acontece porém que, em muitos casos, esses indicadores com o tempo se afastam dos reais fatores de sucesso de uma organização. Isso faz com que as lideranças passem a buscar a melhoria do desempenho em processos que já não são mais relevantes para o resultado, em virtude de mudanças no ambiente, seja ele interno ou externo.

O exemplo da nossa seleção fala bem de perto nesse caso, e serve para mostrar esse desvio. O objetivo do jogo de futebol é fazer gol, e tentar não levar. Mas muitos técnicos se prendem a estatísticas como essa para justificar o injustificável. Aproveitando a contundência do placar naquela fatídica partida, é importante ressaltar algumas lições importantes que podemos levar para a escola:

Posse de bola não é gol. Qual seleção foi mais eficiente: o Brasil, que se manteve o maior tempo com a bola nos pés, mas não foi capaz de converter isso em gols, ou a Alemanha, que mesmo não tendo superioridade na posse da bola, foi objetiva em transformar as oportunidades que teve em vantagem no placar? Isso se chama foco no resultado!

Chute a gol não conta ponto. Tentar, apenas, não adianta. É preciso eficiência nos processos para gerar resultados. Treinar a equipe, tendo como base o objetivo final, é fundamental. Agregar valor é uma missão de todos no time, cada um na sua esfera de competência. E nesse ponto é preciso que haja eficiência e produtividade.

Impedimento é retrabalho. Quando um jogador é pilhado em impedimento, todo o trabalho de construção da equipe é jogado por terra. A falha de posicionamento de apenas um atleta representa o mesmo que a existência de um elo fraco no processo. Daí a necessidade de ter todas as atividades alinhadas com a proposta de valor da organização, neste caso particular, os processos que realmente são necessários à eficiência da escola.

Em todas essas questões, um bom planejamento, e um olhar crítico sobre a necessidade de cada processo existente, são fundamentais. Nesse aspecto, é importante que haja desprendimento dos gestores para abandonar práticas obsoletas quando se constata que o ambiente mudou. Em muitos casos, é preciso promover a disrupção, abandonar definitivamente processos e modelos que tornaram aquela escola um expoente durante muitos anos, mas que já não conseguem mais responder à proposta de valor da escola junto aos seus clientes.

Para tornar mais ágil e eficiente essa análise, o auxílio de recursos tecnológicos, hoje disponíveis em abundância, tornam o trabalho mais assertivo, reduzindo o risco implícito nas decisões. Alguns deles, como o Panorama Escola, uma plataforma que agrega recursos de pesquisa e dashboard de gerenciamento de indicadores, podem encurtar a distância entre a obsolescência e a efetividade. Essa plataforma, criada pela Corporate*[1], utiliza conceitos de business intelligence, permitindo ao gestor cruzar dados internos e externos para avaliar possíveis desalinhamentos e mudanças de rumo do mercado.

Assim como um técnico de futebol, os gestores educacionais devem ter em mente o foco principal e os objetivos a serem alcançados. Pesquisar, analisar e acompanhar os processos-chave por meio de indicadores eficientes, faz com que suas decisões não se baseiem em uma cortina de fumaça.
Ao contrário, trabalhar com afinco para tornar melhores velhos processos que foram sucesso no passado, mas não agregam valor à demanda atual da escola, significa investir nos “impedimentos” e nas “bolas chutadas para fora”. E a escola não pode ser eficiente em tomar de 7 a 1, não é mesmo?

 (Artigo publicado pela Revista Linha Direta, ed. 231/ junho 2017)




[1] Saiba mais em www.corporateconsultoria.com

segunda-feira, junho 26, 2017

Escolas incubadoras: ajudando ideias a dar frutos

Por Marcelo Freitas


Empreendedores de todas as idades sempre estão ligados em oportunidades para criar algo novo. Ideias não faltam, porém, o que nem sempre está disponível são os recursos e um ambiente propício para que elas floresçam. Esse ambiente envolve alguns requisitos como um bom networking, canais para se chegar ao mercado e mentorias adequadas.

Por isso mesmo, para aqueles que buscam transformar ideias em negócios, as universidades se constituem em verdadeiros paraísos. A questão é que nem todas perceberam o enorme potencial de disrupção que isso representa, e continuam estáticas. A boa notícia é que, em meio ao conjunto, algumas instituições perceberam a oportunidade e começam a repensar o seu modelo de negócios e sua estrutura. Algumas até já se propõem adotar modelos de gestão derivados de startups. Outras, por sua vez, organizam centros de empreendedorismo para funcionarem como incubadoras de projetos, oriundos de trabalhos dos alunos.

Sob esse viés, esses espaços potencializam a capacidade de formar equipes e desenvolver negócios, pois constroem redes que possibilitam, inclusive, levantar investimentos suficientes para avançar com os projetos e protótipos. Além disso, contam com suporte de professores e técnicos altamente qualificados, que ajudam a modelar os processos.

Embora iniciativas empreendedoras não dependam da universidade para florescer, este espaço de aprendizagem pode oferecer uma perna forte para sustentar a caminhada. E isso é bom para os dois lados, pois, do ponto de vista das instituições educacionais, surge a oportunidade de ocupar um espaço até então desprezado: o das incubadoras de negócios.

Daí que não será surpresa se mais e mais universidades em todo o país começarem a formar suas próprias incubadoras de empresas - criadouros para startups inovadoras - com espaço de escritório, mentores, financiamento e a oportunidade de contar com a diversidade de agentes envolvidos, sejam professores ou estudantes de diferentes disciplinas.

Embora as instituições de ensino superior sejam o ambiente mais propício a essa transformação, nas escolas de educação básica o modelo também pode ser uma ótima oportunidade de diferenciação. Novas estruturas, novos arranjos no modelo de negócios e uma visão moderna de gestão são os ingredientes necessários. Oficinas, capacitações, ferramentas tecnológicas e adoção de conceitos robustos são o caminho para fazer acontecer.

É com base nesse viés disruptivo e inovador que a Corporate , empresa sediada em Belo Horizonte, vem desenhando projetos de reestruturação para escolas e mantenedoras que busquem a sintonia com os novos tempos. Nesses programas a ênfase é trocar o “por quê?” pelo “Por que não?”.
Já pensou nisso? Por que não?

terça-feira, março 14, 2017

Movimento maker

Deixa que eu faço

por Marcelo Freitas


Nos anos 1960 o homem exibia todo o seu domínio tecnológico transmitindo, ao vivo, o primeiro pouso tripulado na lua. Lembro-me de ver o astronauta fincar a bandeira americana em solo lunar, em meio a uma imagem em preto e branco, salpicada de chuviscos.

Nesse mesmo período, passávamos horas entretidos na frente de um televisor à válvula, assistindo os seriados produzidos pelas grandes empresas cinematográficas de Hollywood, como Perdidos no Espaço e Terra de Gigantes. Naquela época, todas as famílias com melhor poder aquisitivo tinham uma máquina fotográfica, um toca discos e, para os mais abastados, uma filmadora super-8.

Nos anos de 1980, outro avanço colocava nas casas os videocassetes, e com eles a possibilidade de gravar programas diretamente da TV. Ainda dependíamos das produtoras e seus programas feitos para as multidões. Outro avanço veio com as filmadoras em VHS, o que já nos permitia fazer pequenas filmagens domésticas e gravar em vídeo eventos de família, substituindo as máquinas super-8.

Bastaram então duas ou três décadas mais para que a revolução tecnológica proporcionasse uma reviravolta global. O mundo experimentou um processo de mudança acelerada jamais visto. As produções, em formato digital, passaram a ser viáveis a qualquer pessoa e sua difusão tornou-se algo corriqueiro. Estávamos na era do consumo em massa dos conteúdos personalizados.

Esse ambiente revolucionário abriu espaço para que setores como o de Entretenimento e de Tecnologia se expandissem para mercados ainda pouco explorados, ou de lenta reação à inovação. Um deles, o educacional.

Quando se deu conta do tamanho da mudança, a escola tratou de se movimentar, esboçando uma reação a partir da introdução, nas salas de aula, de equipamentos eletrônicos como computadores, tablets e lousas eletrônicas. A grande questão passou a ser a falta de metodologias criativas e inovadoras capazes de aproveitar tudo o que o ambiente tecnológico permitiu disponibilizar.

Acontece, porém, que o mundo ainda continua em marcha acelerada, e isso também impacta nos hábitos e possibilidades aos quais as pessoas estão expostas. Entre essas pessoas, os alunos, jovens que em sua grande maioria nasceram, ou estão diretamente conectados, ao mundo virtual e tudo o que ele pode proporcionar. E isso impacta a escola frontalmente.

Uma das fortes tendências já detectadas, por exemplo, é a mudança no perfil do jovem, que passa de consumidor a produtor de conteúdos. Isso mesmo. Daí o título deste artigo.

O relatório da pesquisa Horizon Report: 2016 K-12 Edition, realizada pelo New Media Consortium (NMC) em parceria com o Consortium for School Networking (CoSN), traz previsões relativas à inserção das tecnologias emergentes no ensino fundamental e médio pelos próximos cinco anos. Uma das principais tendências sinalizadas para o curto prazo, refere-se justamente ao protagonismo do aluno na produção de conteúdo (“Students as Creators”). Isso quer dizer que os alunos deverão deixar de consumir os “enlatados e pasteurizados” materiais utilizados pelas escolas e redes de educação para assumirem a criação de seus próprios conteúdos, em escala cada vez maior. E como a escola está se preparando para isso? Como as metodologias podem aproveitar esse movimento criativo?
Nessa perspectiva, as expectativas quanto ao propósito da educação, e da escola, mudam muito, inclusive para alunos pequenos. Eles não querem ir para a escola para escutar os professores falando de coisas que eles podem acessar pela internet, ou mesmo pelos programas de TV a cabo. O que esperam é compreender como podem utilizar tudo aquilo que estão aprendendo. Ou documentar e compartilhar suas próprias experiências a respeito do tema em estudo.

Como consequência, surge outra tendência de longo prazo, sinalizada também pelo citado relatório, que é o redesenho da sala de aula, tanto para abrigar as novas tecnologias e metodologias de aprendizagem, quanto para aumentar o sentimento de pertença, por parte dos alunos.

Todas essas inovações sinalizam para a necessidade de aumentar a integração da escola com os outros aspectos da vida dos estudantes. Essa evolução da integração escolar revela-se fundamental para manter o interesse deles pelo aprendizado, que já não segue na mesma trilha conservadora da maioria das escolas, e tende a se distanciar dela cada vez mais.

Para lidar então, com esse viés de criar conteúdos e resolver problemas reais, tendo a tecnologia como ferramenta para acessar qualquer tipo de conhecimento necessário, é natural que o processo de aprendizagem colaborativa ganhe ainda mais força. Essa prática, além de engajar os alunos, também beneficia os educadores na promoção das atividades em grupo, desenvolvendo-se, e aumentando, suas capacidades interdisciplinares.

Importante, portanto, avaliar com critério e profundidade todas essas tendências, pois elas sinalizam a necessidade de incremento de inovações no segmento educacional, uma vez que apresentam novos desafios a superar. Alguns deles, como reduzir as defasagens e as disparidades socioeconômicas, faz reforçar a necessidade de promover uma educação individualizada. Nesse aspecto, os avanços da tecnologia proporcionam ferramentas eficazes, como é o caso das plataformas adaptativas. Elas têm se mostrado grandes aliadas, pois permitem a educadores entender as diferentes performances de alunos e escalar estratégias que podem ajudar a reduzir os problemas.

Finalmente, há de se estimular a busca por inovações visando gerar mudanças reais na educação, particularmente no desenvolvimento de pedagogias progressivas e estratégias de aprendizagem; na organização do trabalho de professores e sua relação profissional diante da escola e das famílias; na organização e na forma de entregar conteúdo e, mais que isso, de desenvolver competências. O desafio está colocado!

Hora portanto, de semear criatividade para, em breve, colher inovações.

(Artigo publicado pela revista Linha Direta/edição 227 - fev/2017)

segunda-feira, janeiro 09, 2017

Humanware


Humanware: O lado mais complexo da inovação 


Temos à nossa volta um ambiente de mudanças em alta velocidade, com inovações tecnológicas cada vez mais presentes na vida do cidadão comum e jovens ávidos por novidades. A união entre a internet, os dispositivos móveis e as mídias interativas trouxe uma enorme complexidade para a cena educacional, pois tornou obsoletas antigas ferramentas de ensino, descartou práticas pedagógicas emboloradas e fez ligação direta entre o conteúdo e o usuário.

Nesse cenário, elementos intermediários entre o hardware e o software, precisam realmente agregar valor para manter a audiência, pois a concorrência com os inúmeros formatos de conteúdo que o aluno tem a disposição permite escolhas até então inimagináveis. E isso só tende a aumentar.

Um desses elementos intermediários é o que podemos chamar de “humanware”. Não há como se falar em melhorias, inovações ou novas metodologias de ensino-aprendizagem se não houver profissionais preparados para colocar todo esse aparato em prática, para fazer acontecer.

 E se atualmente a situação já é difícil em face da diversidade de oferta de novos recursos tecnológicos, imagine então como será o ambiente mais à frente, com o ritmo frenético em que a inovação acontece!

É exatamente essa perspectiva de futuro que precisa ser explorada quando pensamos em preparar as novas gerações de professores. Driblar a obsolescência das metodologias e do instrumental tecnológico é apenas um dos desafios a ser ultrapassado nessa tarefa. Já não basta ao futuro professor estar familiarizado com a tecnologia atual e o domínio dos aparelhos que a embalam. Ou incorporar a utilização da lousa eletrônica e dar lugar a um novo formato de sala de aula. A questão quando se fala em capacitação e formação de futuros professores é mais ampla e envolve a construção, ou desenvolvimento, das competências de que necessitarão quando embarcarem, pra valer, em uma sala de aula completamente fora dos padrões atuais.

Familiarizá-los a lidar com os gadgets é importante, porém, não menos importante é desenvolver as habilidades que eles precisam para ajudar seus alunos a prosperar a partir desses dispositivos. No final das contas, os aparelhos sempre se tornarão obsoletos rapidamente.

Diante dessa realidade, torna-se fundamental aos futuros docentes o domínio de habilidades que os permitam adaptarem-se rapidamente aos ambientes em constante mudança. Vejamos algumas dessas habilidades que qualquer futuro professor vai precisar, considerando esse novo ambiente educacional.

A primeira delas é exatamente a adaptabilidade. A capacidade de se tornar um camaleão. Todos nós sabemos que os dispositivos baseados em tecnologia mudam da noite para o dia. Identificar como as inovações podem ser integradas em uma classe de 25-30 alunos é verdadeiramente uma habilidade a ser desenvolvida. Avaliar o seu potencial, promovendo a aprendizagem e, ao mesmo tempo, reconhecer as suas armadilhas, é fundamental. O ensino com a utilização da tecnologia é uma curva de aprendizagem constante e isso requer uma adaptação permanente às novidades.

Outra habilidade importante é “sujar as mãos”, colocar a “mão na massa”, aventurar. Olhar, ouvir e estar dentro do processo envolve correr certos riscos. Para isso, estar preparado para aplicar algumas técnicas básicas de resolução de problemas para quando as coisas não caminharem bem é uma habilidade essencial num ambiente cercado de tecnologia. "No fear" (sem medo) deve ser o mantra de professores que abraçam as novidades e novas engenhocas eletrônicas.

E isso nos traz outra habilidade importante: Entender como as coisas funcionam. Cabos, conexões e protocolos fazem parte do ambiente tecnológico! Mas como conversam entre si? De fato, a interface dos dispositivos muda quase tão rápidamente como fralda de criança. Os professores do futuro terão de estar familiarizados com terminologias básicas do mundo tecnológico. Entretanto, será ainda mais importante que compreendam a relação tênue de como as coisas se conectam e, quando não o fazem, onde encontrar soluções. O recado é: Acompanhe as inovações. Seja “compatível” com o ambiente.

Outro fator importante é como lidar com as mídias sociais. Os futuros docentes precisam dominar as estratégias de comunicação para combater pragas terríveis como o cyberbullying ou as questões éticas no espaço virtual. A escola é um ambiente rico para o desenvolvimento da cidadania digital e é importante que o professor esteja preparado para lidar com o equilíbrio entre o virtual e o presencial.

E, nesse aspecto, as estratégias de comunicação são elos importantes desta relação.
Nessa perspectiva, caberá aos futuros professores, em escala crescente, a missão de preparar seus alunos para o exercício da cidadania envolvendo as consequências do uso de tecnologia em espaços como o das redes sociais, assim como orientá-los bem sobre as melhores práticas para se proteger online. Ensinar os alunos a serem bons cidadãos digitais requer currículos, práticas e políticas que promovam a utilização segura e responsável da Internet e da tecnologia. Os alunos, por sua vez, precisam ser orientados sobre o alto impacto da sua pegada digital, e como ela pode afetar suas perspectivas futuras de educação e emprego. Isso exigirá docentes com habilidades específicas de relacionamento.

Como se vê, os desafios trazidos pela inovação não são poucos. Entretanto, se realmente queremos fazer uma educação de qualidade, é urgente repensar o desenvolvimento desse importante elo do ambiente tecnológico: o humanware.  É notório o descompasso entre a formação atual e os espaços de aprendizagem que se desenham. O perfil da função mudou e não é mais cabível apostar em práticas tradicionais de desenvolvimento docente. As novas demandas exigem novas competências e é a partir delas que todo o processo de formação deve ser desenhado. Hora de olhar para a frente!

segunda-feira, julho 25, 2016

Preparando pessoas para a sociedade 4.0

Por Marcelo Freitas



Um dos objetivos da escola, e talvez o principal deles, é preparar as pessoas para a vida adulta. Estabelecer pontos de referência em relação aos diversos saberes, socializar para a vida em comunidade, desenvolver competências para o universo do trabalho são colunas que devem sustentar a estrutura de uma boa escola. Foi-se o tempo em que dela era esperado apenas o repasse de um inesgotável volume de conteúdos e a padronização de uma série de habilidades e conhecimentos, demandados por uma sociedade com as características da era pós-revolução industrial.

As mudanças sociais e econômicas, a integração do mundo em um único bloco e a explosão das novas tecnologias trataram de mudar toda a paisagem. Conexão virou a palavra que define o modo como pessoas, e coisas, estabelecem relações, sejam comerciais, sejam afetivas, sejam sociais ou funcionais. Se por um lado a tecnologia encurtou distâncias entre os povos, ela também criou elos, ou conexões, entre pessoas e máquinas. E é cada dia maior a maneira pela qual essas conexões se expandem, chegando agora à chamada “internet das coisas”.

Esse novo ambiente, onde a rápida automação de processos se une à internet das coisas, promete mudar radicalmente a maneira como fazemos nossas atividades. E na indústria isso acontece com um impacto ainda maior. Com robôs cada vez mais participativos no processo, a exigência de profissionais qualificados crescerá assombrosamente. Estaremos diante de uma nova sociedade e, portanto, é preciso pensar rapidamente o papel da escola e como ela lida com isso.

Para começar é importante estabelecer um paradigma novo em relação ao perfil dos alunos que ela deverá formar e dos especialistas que irá demandar. Na chamada indústria 4.0, será exigido dos profissionais o desenvolvimento de uma visão multidisciplinar para lidar com a manufatura avançada, que deve revolucionar as linhas de montagem e gerar produtos inovadores e customizados em um futuro próximo. Como preparar os alunos para isso? Qual perfil de profissional a escola deverá desenvolver?

Em escala crescente, técnicos deixarão de exercer funções repetitivas, como o encaixe de uma peça em um smartphone, passando a se concentrar em tarefas mais estratégicas e no controle de projetos. Essa situação significa uma tendência de aumento no número de pessoas com alta qualificação no mercado. Qualificação essa vai do preparo técnico ao desenvolvimento de novos perfis de liderança, capazes de deixar de lado o controle de horas de trabalho e indicadores de produtividade hoje existentes, para se concentrar na capacidade de geração de resultados e valor agregado, por parte das equipes lideradas.

Esse novo cenário marcado pela manufatura avançada representa um renascimento das próprias indústrias. Isso significa que elas voltarão a ter um ambiente desafiador, muito propício ao espírito empreendedor e inovador dos jovens em formação. Esse novo ambiente apresenta um conjunto de fatores altamente atraentes para a nova geração, pois implica entender a convergência entre informação, TI, eletrônica e hardware, ingredientes que mexem com a cabeça desses jovens da geração digital.

A internet das coisas, portanto, estará presente nos diversos ambientes, da casa ao trabalho, passando pelo entretenimento, tratamentos de saúde e ambientes de aprendizagem. Quem quiser ocupar o seu espaço deverá se preparar. Para ser empregado nas fábricas do futuro, por exemplo, os profissionais deverão desenvolver novas habilidades com vistas ao aumento da produtividade, como aprender a trabalhar lado a lado com robôs colaborativos. Isso significa dizer que o profissional não ocupará apenas uma parte específica da linha de montagem, mas se envolverá em todo o processo produtivo, o que demandará o exercício de tarefas e funções mais complexas e criativas. Daí a necessidade da escola se concentrar em desenvolver nos seus alunos, a capacidade analítica para cruzar dados e tomar decisões a partir de informações fornecidas por máquinas e aplicativos, em tempo real.

Por isso mesmo é importante, senão vital, que ela esteja preparada e aberta às mudanças, tenha flexibilidade para se adaptar à nova realidade e se habitue a uma aprendizagem multidisciplinar contínua. Isso não significa que o conhecimento técnico perdeu importância no currículo. Apenas que ele não é suficiente. Conceitos e espaços limitados, como no tempo da revolução industrial, não sobrevivem “a uma consulta no Google”. É preciso trabalhar o desenvolvimento de competências, portanto, em diversas frentes. Os educadores precisam gostar de tecnologia, de inovação e, principalmente, ter curiosidade para aprender e acompanhar uma sociedade que sempre se reinventa a cada momento.

As atividades hoje, e mais ainda no futuro, transcendem, portanto, os limites da sala de aula. Esta, aliás, deve ser completamente esquecida da forma como a temos hoje. É importante recriar esse espaço e ampliar as conexões com o ambiente virtual, familiar e do trabalho, de modo a produzir sinergia.  Criar ambientes que reflitam a realidade fora da escola. Além da arquitetura, dos processos e do design do ambiente, ferramentas que unam escolas, alunos, famílias e aprendizagem precisam ser embarcadas nesse processo, o quanto antes. Afinal, saber se comunicar, interagir e colaborar são habilidades cada vez mais demandadas.

De olho nessa perspectiva de longo prazo, buscando auxiliar as escolas a pensar nisso com mais profundidade e estabelecer uma conexão com a nova realidade, uma parceria entre o Movimento Escola Responsável e a Corporate Gestão Empresarial está criando a SAPIENS, uma divisão voltada para o desenvolvimento de soluções criativas e inteligentes para os diversos processos educacionais e de gestão das escolas, sempre tendo como foco a melhoria dos resultados das instituições. Do realinhamento dos processos à criação de aplicativos e soluções tecnológicas, todos os caminhos da SAPIENS conduzem à transformação da escola em um espaço novo e atraente, que permita aos alunos desenvolver todo o seu potencial de crescimento. Além disso existe, na SAPIENS, uma grande preocupação com a sustentabilidade, onde cada inovação valoriza ideias que permitam atender as expectativas de gestores, educadores, alunos e famílias em relação ao desempenho e resultados esperados.

Já estamos inseridos em uma nova era. O ambiente se modificou e as demandas estão caminhando a passos largos na direção de novas competências, novas formas de relacionamento entre as instituições, entre a escola e seus diversos públicos e, por isso mesmo, as velhas ferramentas e modelos de negócios já não lhe garantem a sustentabilidade necessária. Conexão é a palavra de ordem. Inovação e criatividade o combustível.




[1] Conheça o Movimento Escola Responsável: www.escolaresponsavel.com
[2] Para conhecer as áreas de atuação da Corporate, acesse www.corporateconsultoria.com
[3] Entenda o que é a SAPIENS acessando o site da Corporate: www.corporateconsultoria.com

terça-feira, maio 03, 2016

Educação disruptiva

Um modelo disruptivo de negócios para a escola

Marcelo Freitas



Não é de agora que venho batendo na mesma tecla: a escola precisa reconhecer que chegou ao seu limite, enquanto modelo de empreendimento, e que, portanto, é necessário repensá-lo como um todo.

Reconheço que tema é bastante complexo e por isso mesmo vou me dedicar aqui a explorá-lo na ótica da gestão, um ponto de vista ainda pouco abordado. E isso começa com uma avaliação do modelo de negócios e suas interfaces atuais.

Ao longo do tempo, o que vemos acontecer nas escolas é o que chamamos de overshooting, onde o investimento e os esforços necessários para inserir uma inovação já não são proporcionalmente percebidos, por parte do cliente e, portanto, não se revertem em “propensão a pagar” por ela. O que acontece, então, é que as organizações que lideram o segmento educacional se vêm presas nessa armadilha, investindo cada vez mais em inovações que não são acompanhadas de percepção de valor. Mais e melhor, mas do mesmo.

Essa emboscada abre espaço para uma nova situação, a inserção de inovações de outra natureza. Um produto, serviço ou modelo de negócios que pode, entre outras coisas, privilegiar camadas de consumidores que geralmente não podem consumir o produto atual. Quando isso acontece, a empresa que introduz esse tipo de inovação costuma ser geralmente ignorada pelas líderes do setor, por não representar uma ameaça ao seu domínio.

Acontece, porém, que as inovações disruptivas são baseadas em tecnologias emergentes e novos conceitos de negócios, gerando produtos e serviços mais alinhados às necessidades dos consumidores, oferecendo melhorias que, em determinado momento, passam a atrair também aqueles consumidores das empresas tradicionais, em função das vantagens de custo que apresentam. E é nesse momento que o castelo começa a ruir para as organizações tradicionais.

Ao olharmos pela janela, vemos uma sociedade cada dia mais conectada, onde processos de negócios são levados para plataformas digitais que se encarregam de facilitar a vida das pessoas. As inovações disruptivas surgem na esteira desse ambiente, seja para minimizar o trabalho, seja para aproximar fornecedores e consumidores, seja mesmo para criar novas experiências. Em suma, a tecnologia trata de sepultar velhos hábitos ou formas antiquadas de negócios e as inovações disruptivas são as protagonistas desse movimento. 

Mas o que é inovação disruptiva? O conceito (Disruptive Innovation) foi desenvolvido pelo professor da Harvard Business School, Clayton Christensen em 1995, e se refere ao processo no qual um produto ou serviço tem raiz, inicialmente, em simples aplicações na parte inferior do mercado para, em seguida, alcançar uma grande ascensão, podendo inclusive ultrapassar concorrentes já estabelecidos. A disrupção não se refere a implementar melhorias, mas a transformar um produto caro e sofisticado, de acesso limitado, como acontece com a escola particular, em algo rentável e acessível para um público muito maior.

Do ponto de vista empresarial, a inovação disruptiva geralmente exige um alto investimento inicial e produz um retorno financeiro mais demorado. Entretanto, a sua adoção permite que a empresa responsável se posicione de forma privilegiada no mercado, gerando um efeito multiplicador. Em síntese, a aposta na inovação disruptiva significa criar tecnologias, produtos e serviços mais baratos e acessíveis, que rompem com o status quo existente. Embora em muitos casos as margens de lucro sejam menores, ela tem o potencial de realizar uma revolução, deixando obsoleto quem antes era líder de mercado.

No caso das escolas é preciso entender as possibilidades de criação de valor, a partir dessa ótica. Se nos dispusermos a desconstruir o modelo de escola que conhecemos, podemos imaginar possibilidades bem interessantes a partir de sua cadeia de valores, basta fazer as perguntas certas. O que podemos fazer para tornar a vida das pessoas mais fácil? Como é possível usar a tecnologia para simplificar o produto/serviço e torná-lo mais acessível para todos?

Façamos um exercício mental. Esqueça o modelo e o formato de escola que você conhece. Pense apenas que existe uma demanda social, e mercadológica, no que diz respeito à necessidade das pessoas em adquirir competências, sejam elas habilidades, atitudes ou conhecimento. Sem dúvida alguma, você pode perceber de imediato que suprir essa necessidade pode ser feito de inúmeras maneiras, que não necessariamente ter que se deslocar para ir a um determinado local, cumprindo um determinado horário e se relacionando sempre com as mesmas pessoas. E que para isso você ainda tem que desembolsar um valor fixo, mensalmente, usando ou não o serviço da maneira que gostaria.

Imagine, ainda, que existe um conjunto de saberes que são definidos previamente e compartimentados para, então, serem “entregues” a você, dentro de um formato padrão. Mesmo que você não goste daquilo ou que não tenha a capacidade de absorver da maneira padronizada com que é entregue.

Ainda sonhando de olhos abertos, coloque-se na posição daquele que vai gerir esse negócio. Imagine que você deverá ter, sob contrato permanente, uma equipe de pessoas disponíveis para atender aos clientes e que essas pessoas também têm que se deslocar para um determinado local para cumprir suas tarefas, todos os dias. E mais, que essa equipe de colaboradores tenha sempre as mesmas tarefas e que, ao final do mês, receba sempre a mesma remuneração, independente da sua parcela de valor agregado ao cliente ou se comparado ao colega na mesma atividade. Tal raciocínio, de imediato, quebra a estrutura lógica na qual se apoia a escola atual, não é mesmo?

Então só pra iluminar, tente imaginar um local onde pessoas interessadas em adquirir suas competências possam se reunir, presencial ou virtualmente. Um local que apresente atividades durante todo o dia, nos mais variados formatos, delas podendo participar vários e distintos agentes, desde mestres a discípulos, passando por familiares e voluntários. Imagine poder marcar um horário de sua conveniência para participar de determinada atividade, presencial ou remotamente, em um espaço livre, onde a estrutura possa ser rapidamente modificada para atender à determinada atividade.

Imagine também que todo o manancial de conhecimento gerado naquelas atividades seja armazenado instantaneamente em arquivos de áudio, vídeo, textos, fotos etc. e depositados “in cloud”, de modo a ser acessado e consultado, posteriormente, de onde quer que você esteja.

Vislumbre também professores, tutores e facilitadores, autônomos ou agrupados em empresas prestadoras de serviços do conhecimento, a oferecer seus préstimos em tempo real, para uma ou mais instituições, sendo remunerados pelo valor agregado que proporcionam ou por suas participações nas atividades em curso. Essas contribuições tornam-se ainda mais relevantes na medida em que pudem ser buscadas pelos aprendizes a partir de dispositivos como smartphones ou tablets, em tempo real, agregando assim mais interação aos grupos de discussão (cocriação).  Xô hora-aula!

Imagine ainda que a escola poderá remunerar o trabalho desses profissionais na proporção de sua participação efetiva e geração de conhecimento que proporciona em cada um desses momentos. A nova lógica seria: O aprendiz paga somente pelo que usa e a escola remunera seus colaboradores seguindo essa mesma premissa.  Nessa perspectiva, a escola não mais emprega professores, ela paga pelo conhecimento agregado ao serviço que esses profissionais oferecem. E mais: os próprios aprendizes podem escolher com quem querem aprender, dentro do espectro de profissionais do conhecimento disponibilizado pela escola ou pela empresa que os congrega.

Essas empresas, no formato de uma plataforma digital, oferecem espaço para o cadastramento de professores que determinam quanto querem ganhar pela participação nos eventos cadastrados pelas escolas. Permite, também, que o aluno escolha com quem quer interagir na sua sessão de aprendizagem, com ele se conectando a partir do seu dispositivo móvel. Final das contas: O aluno paga à escola pelo tempo de sessão utilizado durante o mês, com os profissionais que escolheu (que podem estar em qualquer lugar, e não necessariamente na escola), e a escola paga à empresa, ou ao profissional, pela utilização das suas competências associada ao tempo despendido nas sessões de aprendizagem dos seus alunos.


Veja que são modelos de negócios muito diversos daqueles que hoje temos. Mas é assim que as inovações disruptivas acontecem. O importante nesse momento é favorecer a introdução de novos paradigmas no sistema educacional, estimulando o surgimento e ampliação das novas tecnologias e de metodologias inovadoras. E se acharem interessante, podem se utilizar das ideias apresentadas no texto. Elas são a minha parcela de contribuição no processo de cocriação.

(artigo publicado pela revista Gestão Educacional /2016)

quarta-feira, abril 06, 2016

Gestão do conhecimento

Gestão do Conhecimento: 
da era dos hits para a era dos nichos
Por Marcelo Freitas

Assim como alguns dos nossos leitores, guardo comigo muitas recordações da juventude. Os tempos eram outros e algumas dessas lembranças marcaram aquela época. Lembro-me, por exemplo, de que naquele tempo as opções de entretenimento se resumiam a alguns poucos canais de TV, que transmitiam programas enlatados, e alguns jogos de tabuleiro, que alguns felizardos tinham dinheiro para comprar. Recordo-me também que naquela época, para se contatar pessoas distantes, usávamos a velha carta postada no correio, ou aquele telefone fixo, que, em alguns casos como no das chamadas internacionais, exigiam passar pela telefonista, antes de se chegar à pessoa de destino.

Um adolescente comum via os mesmos sucessos de bilheteria nos cinemas da cidade que seu colega de escola. Ele recebia as notícias pelos jornais, revistas e noticiários de rádio e televisão. Quem gostava de música, encontrava um pacote delas em três ou quatro estações de rádio que ditavam os sucessos do momento, ou apenas aqueles que “deveríamos” ouvir. Foi uma época em que as poucas janelas para um jovem sair do lugar-comum se concentravam nos livros e nos quadrinhos.

Lembro-me também das escolas que frequentei nessa fase da vida. Elas tinham horários rígidos, carteiras alinhadas e professores que gastavam a maior parte da aula passando o conteúdo da disciplina no quadro negro. Depois, mandavam que eu estudasse tudo aquilo em casa. Ops! Acho que por aqui a coisa não mudou tanto assim...

Nossas fontes de pesquisa se limitavam a uma boa enciclopédia (símbolo de status) ou ao conteúdo oferecido pelos livros adotados pela escola. Tínhamos o que se pode chamar de um ambiente analógico. Estávamos no longínquo final do século 20, em anos que remontam a pré-histórica década de 1970.  

Agora, caro leitor, compare esse meu mundo com o do Rafa, um adolescente de 16 anos que cresceu com a internet. Assim como seus amigos, ele tem um notebook com tela touchscreen no quarto, um tablet na mochila e um smarthphone, entupido de músicas e games, que o acompanha no bolso da bermuda. Ele, assim como os colegas, não conheceu o mundo sem a banda larga e as compras online. Quando quer se divertir com a turma, liga o XBOX do quarto, coloca o headset nos ouvidos e se conecta com eles, a partir da plataforma online do game. Detalhe: cada um em sua própria casa.

A velha TV comercial já não é mais tão requisitada. Na verdade ele seleciona seus programas preferidos para assistir quando quiser, seja colocando-os para gravar na smartv, acessando-os por um canal de vídeo ou baixando-os diretamente no tablet por meio do Bittorrent, um aplicativo ponto a ponto de compartilhamento de arquivos. Assim também ele faz com suas músicas preferidas. Algumas são compradas em lojas virtuais, mas a grande maioria é fornecida por amigos e baixada no dispositivo, cujo link é enviado por meio do Whatsapp, que utiliza para “conviver” com a turma durante todo o dia, e não mais apenas na escola, como no meu tempo.

O principal efeito de toda essa conectividade é que o Rafa tem ao seu dispor o acesso sem limites, e sem filtros, à cultura, entretenimento e conteúdo de todos os tipos. Na sua perspectiva, o panorama cultural se apresenta de todas as formas e formatos. Eles tanto podem ter um perfil comercial, como amador. Nesse particular, para ele, não há diferença: ambos competem indistintamente pela sua atenção. Assim como seus amigos, o Rafa não distingue os grandes sucessos dos nichos pouco explorados, apenas faz suas escolhas a partir de um menu infinito de opções.

A grande diferença entre a adolescência do Rafa e a minha, em síntese, é a variedade de opções. Eu e minha geração estávamos limitados pelo mundo físico e pelo que as ondas de rádio e TV nos proporcionavam. Rafa e seus amigos têm a internet para leva-los ao infinito.

Se olharmos tudo isso como profissionais, veremos que do ponto de vista empresarial, podemos dizer que estávamos diante de um ambiente em que era possível levar um programa a milhões de pessoas, com boa dose de qualidade, como o faziam o rádio e a TV. Entretanto, o oposto não acontecia, ou seja, não era possível levar milhões de programas para uma pessoa. E é isso que a internet, e a tecnologia, fazem muito bem.

Nesse novo ambiente, os hits competem em igualdade de condições com um número infinito de mercados de nicho. A era do tamanho único, do perfil padrão, do modelo genérico estão dando lugar a algo novo, chamado mercado de multidões. Esse mercado vem à tona na medida em que os custos para sua exploração apresentam queda exponencial em virtude da utilização das novas tecnologias e da internet, tanto na produção quanto na distribuição de bens. Com elas torna-se possível atender a diferentes mercados de maneira singular, na medida em que os bits vão tomando o lugar dos meios físicos.

Essa mudança de paradigma afeta diretamente a maneira como adquirimos conhecimento. A variedade de conteúdos disponíveis na rede mundial de computadores, nos mais variados formatos e em tempo real, torna os seus custos de aquisição e produção praticamente irrelevantes. Nesse novo universo, as pessoas deixaram de ser apenas consumidoras, para tornarem-se produtoras de conteúdo e, com isso, equipararem-se aos antigos e tradicionais hits do mercado. É amplamente permitido a qualquer um, não somente produzir algo novo sobre determinado tema, como editá-lo e compartilhá-lo em larga escala. Qualquer sujeito munido de um smartphone pode produzir, editar e compartilhar conteúdos para milhões de pessoas, com qualidade impecável.

Plataformas de compartilhamento são verdadeiros laboratórios destinados ao processo de cocriação. A aprendizagem, assim como o ensino, não são mais prerrogativas de um público pré-determinado, ou de um espaço físico específico. Todos são, ao mesmo tempo, autores e consumidores do conhecimento. Basta postar e seguidores mundo afora proliferam na mesma medida que o fogo em um rastilho de pólvora. Aquilo que antes era inexequível - levar milhões de programas para uma pessoa – tornou-se uma realidade. E mais ainda ao permitir que cada pessoa tenha acesso àquilo que mais lhe interessa, quando e onde quiser.

Em resumo, a economia movida a hits é o produto de uma era em que não havia espaço suficiente para oferecer tudo a todos. Era um mundo de escassez. Um mundo que não se conecta mais ao ambiente do Rafa e da sua galera.

Pela primeira vez na história da humanidade temos a possibilidade de construir o conhecimento de maneira diferente, a partir de diferentes abordagens e, ao mesmo tempo, oferecer diferentes competências repeitando as características de diversidade e individualidade. Tornou-se possível preparar um variado cardápio de saberes, recheado de conteúdos singulares e sabores diversos, para atender a gostos distintos. Metodologias de aprendizagem que sejam modulares ao perfil de cada pessoa. A tecnologia nos permite atender a nichos específicos, rompendo com o modelo pasteurizado vigente.

Permito-me, sob essa ótica, vislumbrar o Rafa, e seus amigos, integrando ambientes de aprendizagem moldados de acordo com suas preferências e modificados, ou temperados, com ingredientes desafiadores e interativos. Os mesmos ambientes que ele pode desfrutar atualmente, a partir do seu smartphone.

Inspirado por esse olhar consigo ver, também, um futuro promissor para as organizações que mais rapidamente perceberem esse movimento. Promover mudanças radicais e disruptivas na maneira pela qual adquirimos conhecimento é o caminho para garantir um elevado capital humano na sociedade do conhecimento.


Resta aos gestores, lideranças e especialistas, portanto, abandonar os modelos tradicionais de capacitação e desenvolvimento de pessoas que nos serviram no passado, para começar uma nova jornada que possa agregar valor aos Rafas desse mundo multiconectado.